A ex-presidente da Argentina anunciou que será candidata a vice na chapa de Alberto Fernández. Cristina Kirchner lidera as pesquisas. Em algumas, ganha de Macri no primeiro e no segundo turno. Por que abriu mão da cabeça de chapa?
“A situação do povo e do país é dramática e estou convencida que esta é a melhor fórmula, que expressa o que a Argentina precisa neste momento para unir os mais amplos setores políticos e sociais”, declarou Cristina.
Aberto Fernández é um peronista considerado centrista e pragmático. Kirchner possui grande apoio popular, mas também uma elevada rejeição.
Além disto, Cristina enfrenta resistências dentro de setores mais amplos do peronismo. Ameaçada por processos judiciais – reprodução da “Nova Operação Condor” em curso na América Latina -, agiu com grandeza e sabedoria estratégica.
Que lição fica para o Brasil?
Vivemos nas eleições presidenciais brasileiras um amplo debate sobre a melhor forma de enfrentar a ofensiva conservadora. Incapaz de construir convergências, a esquerda brasileira optou pelo “salve-se quem puder”. Deu Bolsonaro.
O PT é o maior partido da Brasil. Lula, nosso principal líder. Qual foi o principal objetivo da reação? Caçar Lula e o PT. O que Lula decidiu fazer? Pagar pra ver e olhar nos olhos da besta-fera.
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Os mais afoitos dirão que a situação na Argentina é diferente, que Fernandéz é do mesmo partido de Cristina. Ela está condenada? Presa? Lula preso se recusou a abrir a cabeça de chapa para qualquer membro do PT. Levou sua candidatura inviável às últimas consequências. Haddad assumiu aos 45 do segundo tempo.
E o que faz Lula agora? Em entrevista à jornalista Mônica Bergamo, anuncia que viverá 120 anos, que vai sair da cadeia, que será candidato novamente e que vai voltar a liderar o país. Não abre espaço para ninguém, nem mesmo do PT.
Escrever isto é atacar Lula? Claro que não! Carrego comigo a honra de ter servido ao país sob liderança de Luiz Inácio Lula da Silva.
Lula foi o primeiro brasileiro de fato a chegar ao poder. Pobre, nordestino, mestiço, sobrevivente. Getúlio, Jango, JK – e tantos outros gigantes que formam o panteão de heróis nacionais -, foram dissidências progressistas da elite brasileira.
É uma imbecilidade querer comparar o trabalhismo com o lulismo, duas correntes fundamentais e formadoras do nacionalismo progressista. É como querer definir o que foi mais importante, a invenção da eletricidade ou a revolução promovida pela internet. Muito provavelmente, uma não existiria sem a outra.
Os pedetistas, ao verem o gesto grandioso de Cristina Kirchner, correram para apontar o dedo para Lula. E qual o exemplo de Ciro? Querem apenas trocar um “santo de devoção” por outro, reproduzindo o mesmo messianismo que nos conduziu ao fundo do poço.
Lula e Ciro devem um gesto do tamanho do de Cristina à nação. Deveriam se encontrar, encerrar as desavenças e dizer claramente que não são candidatos, que não é o momento de discutir nomes e sim de aglutinar os mais amplos setores na defesa do Brasil.
Esta seria a base da Frente Democrática. Formaria um pólo capaz de unir a esquerda e atrair partidos de centro, partes do PSDB e liberais democráticos contra a marcha fascista.
“Nós, líderes, devemos deixar a vaidade de lado, e eu estou disposta a ajudar a partir de um lugar onde possa ser mais útil”, afirmou a senadora peronista. Que o gesto de Cristina Kirchner sirva de lição.
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Perfeito. Por muitas vezes nas hordas petistas, percebendo o jogo traçado pela elite no sentido não só de chegar ao poder mas deixar um território de terra arrasada para os progressistas, apelamos pela humildade do partido não ser cabeça de chapa. Ciro por fidelidade aos governos Lula e ao primeiro mandato de Dilma era a opção certa, mas a mentalidade sectária e soberba do comitê central petista passou longe de avaliar esta hipótese. Hipótese que se colocada em prática certamente teria evitado tamanho retrocesso no Brasil.