Heitor Diniz
Com os devidos pedidos de desculpas ao bom e velho “novo baiano” Moraes Moreira, fantástico músico brasileiro, no Congresso temos uma versão, digamos, desafinada de seu nome. Duplamente desafinada, diga-se de passagem: são os parceiros (ou seriam comparsas?) Moraes e Moreira, que se apresentam esporadicamente (e decadentemente) no anfiteatro maior, mais conhecido como Câmara dos Deputados.
O primeiro atende pelo nome Sérgio e não se lixa nem para a própria cara-de-pau, agradecendo agora à imprensa pela farta exposição que teve graças à sua irrefreável verborragia (de fazer inveja até ao Lula no quesito impropriedade de opinião).
O segundo atende pelo nome Edmar, ou pela alcunha “deputado castelão”. Assim como o anterior e tantos outros, também se lixa para opinião pública, até porque sua especialidade é o privado. Ou o público imoralmente servindo ao privado, ou tudo junto e misturado etc. etc. No caso dele, quanto mais truncada essa mistura, melhor e mais segura, já que segurança é o seu forte. Seu forte, não. Seu castelo.
Os dois se afinam, pois se equivalem e se merecem. E, mesmo assim, seguem desafinando juntos: na mesma ocasião, um era o riso de deboche, o outro o choro do cinismo.
Acima de tudo, é preciso ter estômago!
O o O o O o O
Alguém precisa dizer ao senhor Sérgio Moraes que o Brasil, embora ainda tropece bastante, é um Estado democrático de direito, e que a administração pública é regida, entre outros, pelos princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade e eficiência.
O nobre deputado (sinceramente, “nobre” aqui é mera formalidade) deve imaginar-se um poderoso caudilho, e deve encarar a opinião pública (todos nós) como meros soldados rotos de sua excelência.
Não, o povo brasileiro e a moralidade política nacional não podem se ver reféns dos humores e rompantes do caudilho Moraes, em sua ignóbil empreitada de encastelar sua majestade Edmar Moreira.
E de onde vem o poder ou a sensação de poder de Moraes, para afrontar de forma tão flagrante tudo que se entende por decência? A resposta é simples: a boa e velha imunidade parlamentar, trincheira máxima tão utilizada pela classe para proferir impropérios sobre tudo e sobre todos.
Com o perdão pelo inevitável jogo de palavras, é devastador quando a imunidade parlamentar se torna meio para a impunidade parlamentar. Afinal, o corporativismo e o fisiologismo são portas para todo tipo de descumprimento dos tais princípios básicos do bom administrador.
* Esta página reúne dois textos enviados pelo autor ao Congresso em Foco e também postados em seu blog. Quebramos a regra de só publicar no Fórum conteúdos inéditos e exclusivos para tornar mais conhecido o trabalho de Heitor Diniz. Jornalista em Belo Horizonte (MG), ele confirma a irrefreável tradição mineira de gerar escribas sensíveis e com notável talento para dar bom uso às ferramentas proporcionadas pelo português.
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