Um grupo de médicos do Ceará aproveitou o período de reflexão natalina para gravar um vídeo que, de carona na tradicional canção de fim de ano da Rede Globo, capricha na ironia ao abordar a situação na saúde. O “coral” que se vê no filmete, de cerca de quatro minutos, é formado por homens e mulheres de jaleco branco, em sua maioria, afinados na crítica implícita aos governantes pelo descaso em relação ao setor.
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“Hoje / É mais um dia / Perdendo tempo / Constrangedor / Falta anestesia / Pra cirurgia / E medicamento / Pra receber”, diz trecho da música, ornamentada por cenas da situação precária em hospitais da rede pública.
“E os pacientes / Estão largados / Numa maca / No corredor / O horror continua / Pode ser na UPA [Unidade de Pronto Atendimento] / Hospital da Mulher / Posto ou HGF [Hospital Geral de Fortaleza]”, acrescenta a paródia.
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O filmete foi gravado em 15 de dezembro e publicado no Youtube, na última sexta-feira (22), pelo Sindicato dos Médicos do Ceará. Apenas dois dias depois da veiculação e em período de viagens de férias, o vídeo já somava quase 420 mil visualizações no fim da tarde deste domingo (24) de Natal. “Mais um ano se encerra. O desrespeito continua”, diz mensagem ao final da paródia.
Veja no vídeo:
Conhecido por ser um estado “exportador” de humoristas – como Chico Anysio (1931-2012) e Renato Aragão, para citar apenas dois –, o Ceará tem a segunda maior incidência de dengue no país, ficando atrás apenas de Goiás neste ranking negativo. A informação veio a público, no final de novembro, por meio do levantamento Rápido de Índices de Infestação pelo Aedes aegypti, realizado pelo Ministério da Saúde.
Tratando de assunto sério com ironia e inteligência, os médicos cearenses homenageiam no vídeo o Dr. José Otho Leal Nogueira – 77 anos de vida e 54 de Medicina completados em 16 de dezembro – como símbolo-síntese da resistência contra o descaso das autoridades em relação ao setor. O médico atende em três hospitais públicos no Ceará.
“Os problemas sempre existiram. Mas, agora, chegaram a um ponto de intolerabilidade. É cruel você morrer porque é pobre. Isso é intolerável. E eu vejo isso todo dia”, diz o médico em discurso ao final do vídeo.
Como este site tem mostrado nos últimos meses, no Distrito Federal a situação da saúde pública não é diferente. A Secretaria da Saúde do DF reconhece, por exemplo, dívida de R$ 35 milhões com fornecedores, algo que afeta milhares de trabalhadores e incontáveis cidadãos dependentes do Estado.
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