Vice-líder do PSDB no Senado, Ricardo Ferraço (ES) foi o único dos tucanos reunidos em Brasília nesta segunda-feira (12) a defender publicamente o desembarque do governo Temer, que enfrenta sua mais grave crise desde a posse definitiva, em 31 de agosto de 2016. Para Ferraço – que relatou na Comissão de Assuntos Econômicos a reforma trabalhista patrocinada por Temer –, o fato de o peemedebista ser investigado, de maneira inédita, por corrupção passiva, associação criminosa e obstrução de Justiça no Supremo Tribunal Federal (STF) retirou-lhe as “condições éticas” para permanecer no comando do país.
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“Não há outro caminho para o PSDB que não seja desembarcar do governo”, disse Ferraço ao chegar à reunião, ressaltando o compromisso que o partido tem expressado em relação às propostas de reformas estruturais, principalmente a trabalhista e a da Previdência. A reunião da Executiva Nacional do PSDB está em curso em um bairro da capital federal a poucos quilômetros do Congresso.
O discurso de Ferraço está em sintonia com a ala jovem do partido na Câmara. Mas, desde que a chapa Dilma/Temer foi absolvida pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Otavio Leite (RJ) – um dos líderes dos jovens deputados do PSDB que passaram a ser chamados de “cabeças pretas” – mudou o discurso e defendeu hoje (segunda, 12) que mais importante do que decidir se o partido fica ou sai do governo é manter a unidade da legenda. Depois de 17 de maio, quando vieram à tona as denúncias contra Temer por executivos do Grupo JBS, a bancada fluminense do PSDB, presidida por Otavio Leite, foi um dos primeiros grupos do partido a defender o rompimento com o presidente.
Com os desdobramentos do processo no TSE, a proposta de desembarcar do Temer perdeu força entre os tucanos, que têm quatro nomes em importantes ministérios do governo Temer – Aloysio Nunes (Relações Exteriores), Antônio Imbassahy (Secretaria Especial de Governo), Bruno Araújo (Cidades), Luislinda Valois (Direitos Humanos). A permanência na base aliada é defendida por tucanos mais experientes como os governadores Geraldo Alckmin (SP) e Beto Richa (PR) e os senadores Tasso Jereissati (CE) e Aécio Neves (MG), presidente do partido afastado e suspenso do mandato no Senado. O senador mineiro foi tragado para a crise em um caso de corrupção correlato ao que é apurado contra Temer no STF.
Toda a cúpula tucana participa da reunião em Brasília. Também na contramão do que pensa o senador capixaba, e presentes à deliberação da executiva nacional, nomes como o senador José Serra (SP) e o prefeito de Manaus, Arthur Virgílio, engrossam o coro dos que querem manter a parceria com Temer em nome da aprovação das reformas e da retomada do crescimento. Atento à movimentação tucana, o próprio Temer tem se esforçado pessoalmente para impedir o desembarque – em 2 de junho, às vésperas do julgamento no TSE, o presidente fez uma incomum visita a Alckmin, no Palácio dos Bandeirantes, e conversou com o tucano por quase duas horas na sede do governo paulista.
Nos bastidores, já se fala em apoio do PMDB aos tucanos em uma chapa presidencial em 2018. Trata-se de um dos motivos que têm impedido o rompimento definitivo com Temer, embora alguns membros do partido não o admitam publicamente. “Uma coisa não tem nada a ver com a outra. Temos que pensar no Brasil”, disse o senador Ataídes de Oliveira (TO), também favorável às reformas estruturais de Temer.
Nesse contexto de crise aguda do governo, o PSDB parece decidido a esperar ainda mais alguns dias antes de tomar uma decisão definitiva, por diversas vezes adiada. Por enquanto, o mais provável é que a aliança ainda dure até que um fato novo altere tal disposição. Especula-se que, na iminência de uma denúncia da Procuradoria-Geral da República contra Temer, o partido abandonará de vez o barco do governo – que, carregado de propostas impopulares no Congresso, é visto pelos jovens deputados do partido como fator de desgaste político perigoso em ano pré-eleitoral.
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