A depender das declarações feitas na última quarta-feira (20) pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), em rápida visita aos colegas, o governo Michel Temer terá uma preocupação extra no enfrentamento da segunda denúncia, por organização criminosa e obstrução de Justiça, apresentada pela Procuradoria Geral da República (PGR). Ressentido com o cortejo do PMDB, partido de Temer, a parlamentares antes propensos a migrar para o DEM, Maia comparou a ação peemedebista a uma “facada nas costas” e mencionou a iminência de uma rebelião no partido. Seria apenas uma crise nos moldes da protagonizada pelo PSDB se não o fato de que o DEM foi um dos mais fiéis partidos da base quando da votação da primeira denúncia da PGR, por corrupção passiva, ocasião em que 263 votos interromperam a continuidade das investigações contra o presidente.
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Dos 29 deputados do DEM, 23 votaram a favor de Temer sob a orientação do líder da bancada, Efraim Filho (PB). Apenas cinco se posicionaram contra o presidente, enquanto um nome preferiu se abster de votar na sessão plenária de 2 de agosto, quando o governo logrou êxito depois de conceder verbas a aliados e distribuir cargos estratégicos. Em sua fala de advertência, Maia deu sinais de que o jogo pode virar no partido.
“Nós queremos saber qual é a verdadeira posição do PMDB e do governo em relação ao Democratas. Tem parecido um tratamento de adversário. Espero que não vire uma relação entre inimigos”, declarou Maia, enquanto seus pares tentavam avançar na reforma política.
Foram várias as “traições” na base aliada durante a votação da primeira denúncia, em 2 de agosto. Representantes de várias legendas com ao menos um ministério votaram contra Temer. No caso do DEM, que chefia o Ministério da Educação na pessoa do deputado licenciado Mendonça Filho (PE), foi um dos partidos proporcionalmente mais fiéis ao presidente, junto com PP (47 membros e sete votos contra o presidente), PR (28/9) e, obviamente, o próprio PMDB (53/6).
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Temer decidiu atuar pessoalmente para reverter o esboço da crise entre DEM e PMDB. Segundo apuração do jornal Folha de S.Paulo, o presidente ligaria para Maia ainda hoje (quinta, 21) com o objetivo de assegurar que o PMDB não tem o objetivo de enfraquecer o DEM, como o próprio deputado aventou nas declarações à imprensa. Reservadamente, Temer tem destacado a importância dessa aliança e minimizou o mal estar, mas auxiliares mais próximos relatam ter recebido com estranheza a fala de Maia, notadamente em razão do tom de enfrentamento do discurso.
Papel duplo
Maia reclama que o PMDB tem disputado parlamentares com o DEM e cortejado nomes cobiçados por seu partido – o deputado cita como exemplo a recente troca de partido por parte do ministro de Minas e Energia, Fernando Coelho Filho, e seu pai, o senador Fernando Bezerra (PE), do PSB pelo PMDB. Ambos chegaram a ser adesões certas ao DEM, mas optaram pelo PMDB após intervenção do presidente nacional do partido, senador Romero Jucá (RR).
A situação há semanas irrita Maia, uma das principais lideranças do DEM, que dava como certa a filiação do senador e do ministro ao seu partido. Mas, depois de o PSB ter rompido com o governo em maio, na esteira das delações da JBS e das gravações comprometedoras que flagraram Temer, alguns membros da legenda passaram a ver mais vantagem em ficar no governo – caso de Fernando Bezerra e seu filho.
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O deputado lembrou que o próprio Temer foi à residência oficial da Presidência da Câmara negar que a migração de nomes do PSB para o PMDB foi o motivo de sua visita à deputada Tereza Cristina (MS), líder do PSB na Câmara, em 18 de julho, em um café da manhã. Jantaria com Maia no mesmo dia, para acalmar os ânimos do aliado. Mas, segundo o noticiário da ocasião, Temer fez mesmo o convite de ingresso no PMDB para parlamentares insatisfeitos com a direção do PSB em romper a aliança com a base governista.
Horizonte tenso
Beneficiado pela legislação – que exige de um presidente denunciado apenas 172 votos em um universo de 513, em um cenário de fisiologismo e autoproteção em tempos de Operação Lava Jato –, Temer e seus auxiliares ainda consideram ter margem folgada de apoios para barrar, mais uma vez, uma denúncia da PGR. No entanto, um eventual desembarque do DEM poderia representar uma perda ainda mais sentida em uma base aliada já repleta de problemas.
Permanece o mal estar no chamado “Centrão”, grupo periférico de legendas que reúne cerca de 300 nomes, como o PSDB, dado o protagonismo dos tucanos na Esplanada dos Ministérios, com quatro pastas. Líderes da agremiação dizem que, enquanto se mantém fiéis ao Planalto, o PSDB continua dividido, com votos contra Temer, e mesmo assim continuam recebendo benesses palacianas.
Foi no PSDB, com seus quatro ministérios, que a divisão foi mais evidente na análise da primeira denúncia: 22 tucanos se posicionaram a favor do presidente, e outros 21 se manifestaram em favor das investigações. Outros quatro faltaram à sessão. Em reunião realizada no dia da votação, a liderança do partido decidiu orientar o voto pela continuidade da denúncia contra o peemedebista no Supremo Tribunal Federal, mas, ao mesmo tempo, liberar a bancada para votar como quisesse. A ala contrária às apurações foi reforçada pelos ministros Antonio Imbassahy, da Secretaria de Governo, e Bruno Araújo, das Cidades, exonerados por um dia por Temer apenas para votar a favor dele na Câmara.
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