O presidente Michel Temer (PMDB) fez, neste sábado (20), o seu segundo pronunciamento em três dias sobre as suspeitas levantadas contra ele pela delação premiada do grupo JBS. Temer desqualificou o seu delator, o empresário Joesley Batista, a quem chamou de “falastrão” e “criminoso”, e a investigação aberta contra ele pelo ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF). O presidente anunciou que seus advogados vão entrar com pedido de suspensão do inquérito para que seja verificada a autenticidade das gravações.
“Essa gravação clandestina foi manipulada e adulterada com objetivos nitidamente subterrâneos. Incluída no inquérito sem a devida e a adequada averiguação, levou muitas pessoas ao engano induzido e trouxe grave crise ao Brasil. Por isso, no dia de hoje, estamos entrando com petição no Supremo Tribunal Federal para suspender o inquérito proposto até que seja verificada, em definitivo, a autencidade da gravação clandestina”, discursou.
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Embora diga que a gravação foi “fraudulenta” e “manipulada”, Temer voltou a admitir que nada fez diante das declarações do empresário, alvo de diversas acusações na Justiça. Contou que nada fez por considerar o interlocutor um “falastrão”. No encontro, Joesley revelou que estava “segurando” dois juízes e que tinha infiltrado um procurador na Lava Jato, entre outros crimes. O peemedebista também não fez referência às imagens que mostram o deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR), à época seu assessor, recebendo dinheiro de Ricardo Saud, diretor da JBS. Rocha Loures foi a pessoa indicada por Temer a Joesley para tratar das demandas de seu grupo empresarial.
“O autor do grampo está livre e solto passeando pelas ruas e Nova York. O Brasil, que já havia saído da mais grave crise de sua história, vive agora – sou obrigado a reconhecer – dias de incerteza. Ele não passou um dia na cadeia, não foi preso, não foi julgado, não foi punido. Mas certamente será”, afirmou.
Veja a íntegra do discurso:
Temer desqualificou Joesley e disse ser vítima de uma armação porque seu governo não atendia aos pleitos do empresário. “É um conhecido falastrão exagerado. Aliás, depois, em depoimento, disse que havia inventado essa história. Não era verdadeira, era fanfarronice que ele utilizava naquele momento. Quero pontuar que houve grande planejamento para realizar esse grampo. Depois houve montagem e ação para montar flagrante para incriminar alguns enquanto os criminosos fugiam para o exterior em plena segurança.”
O presidente acusou o empresário de ganhar dinheiro com a delação. “A notícia foi vazada pelo grupo empresarial que antes de entregar a gravação comprou US$ 1 bilhão porque sabia que isso provocaria o caos no câmbio. Por outro lado, sabendo que a divulgação da gravação reduziria o valor das ações da empresa, vendeu antes da queda da Bolsa. Esses fatos já estão sendo apurados pela Comissão de Valores Mobiliários. A JBS lucrou milhões e milhões de dólares em menos de 24 horas. Esse senhor, nos dois últimos governos, teve empréstimo bilionário do BNDES para fazer avançar os seus negócios, prejudicou o Brasil, enganou os brasileiros e agora mora nos Estados Unidos.”
O peemedebista alega que as declarações do delator mostram que ele o procurou para se queixar do fechamento das portas do governo para os seus negócios. “As incoerências entre o áudio e o teor do seu depoimento comprometem a lisura de todo o processo por ele desencadeado. O que ele fala em seu depoimento não está no áudio. O que está no áudio demonstra que ele estava insatisfeito com o meu governo, reclamações contra o ministro da Fazenda, o Cade e o BNDES, essa é a prova cabal que meu governo não estava aberto a ele. No caso central de sua delação fica patente o fracasso de sua atuação. O Cade não decidiu a questão solicitada por ele, o governo não atendeu aos seus pedidos, não se sustenta portanto a acusação pífia de corrupção passiva”, desqualificou.
“Não foi só Cade. O BNDES mudou no meu governo. A presidente Maria Silvia moralizou o BNDES, botou ordem na casa, tem meu respeito e respaldo para fazê-lo, assim como o Pedro Parente fez na Petrobras. Estamos acabando com os velhos tempos da facilidade para oportunistas, e isso incomoda. Há quem queira me tirar do governo para voltar aos tempos em que faziam tudo o que queriam e não prestavam contas a ninguém. Quebraram o Brasil e ficaram ricos.”
Temer disse que é comum ele receber autoridades e outros representantes da sociedade civil tarde da noite ou no início da madrugada. “O autor do grampo revela suas dificuldades simplesmente porque nada fiz para que obtivesse benesses em meu governo. Não há crime em ouvir interlocuções, tanto que indiquei outra pessoa (o deputado Rodrigo Rocha Loures) para ouvir suas agruras.”
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