Em pronunciamento ao vivo na tarde desta quinta-feira (18), o presidente Michel Temer, agora formalmente investigado no Supremo Tribunal Federal (STF), negou ter comprado o silêncio do deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) – preso e condenado a 15 anos e quatro meses de prisão por envolvimento na Operação Lava Jato –, segundo denúncia publicada ontem (quarta, 17) pelo site do jornal O Globo. Por cerca de cinco minutos, o peemedebista convocou correligionários e a imprensa para o comunicado, no Palácio do Planalto, e disse que não renunciará ao mandato.
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Cada vez mais ameaçado de impeachment e pressionado, inclusive por membros da base aliada, a renunciar, Temer se referiu às denúncias dos donos da JBS, que constam de conjunto probatório de delação premiada já homologada no STF, como “conversa gravada clandestinamente” que trouxe à tona, mais uma vez, o “fantasma de crise política”.
“Repito e ressalto: em nenhum momento autorizei que pagassem a quem quer que seja para ficar calado. Não comprei o silêncio de ninguém. Por uma razão singelíssima: exata e precisamente porque não temo nenhuma delação, não preciso de cargo público nem de foro especial. Nada tenho a esconder”, declarou Temer, acrescentando que não precisa de foro privilegiado.
Temer disse já ter solicitado às autoridades acesso às investigações da Lava Jato, transformadas hoje (quinta, 18) em inquérito no Supremo. “Até o presente momento não o consegui [acesso aos documentos]. Quero deixar muito claro, dizendo que o meu governo viveu, nesta semana, seu melhor e seu pior momento”, afirmou o presidente, no começo do discurso, referindo-se à suposta melhoria dos indicadores econômicos. “Todo um imenso esforço de retirar o país de sua maior recessão pode se tornar inútil. E nós não podemos jogar no lixo da história tanto trabalho feito em prol do país.”
Para o peemedebista, as investigações que o envolvem no petrolão serão “território em que aparecerão todas as explicações”.
Assista ao vídeo:
Veja a íntegra do discurso:
“Declaração à Imprensa do Presidente da República, Michel Temer
Palácio do Planalto, 18 de maio de 2017
Olha, ao cumprimentá-los, eu quero fazer uma declaração à imprensa brasileira e uma declaração ao País. E, desde logo, ressalto que só falo agora – os fatos se deram ontem – porque eu tentei conhecer, primeiramente, o conteúdo de gravações que me citam. Solicitei, aliás, oficialmente, ao Supremo Tribunal Federal, acesso a esses documentos. Mas até o presente momento não o consegui.
Quero deixar muito claro, dizendo que o meu governo viveu, nesta semana, seu melhor e seu pior momento. Os indicadores de queda da inflação, os números de retorno ao crescimento da economia e os dados de geração de empregos, criaram esperança de dias melhores. O otimismo retornava e as reformas avançavam, no Congresso Nacional. Ontem, contudo, a revelação de conversa gravada clandestinamente trouxe volta o fantasma de crise política de proporção ainda não dimensionada.
Portanto, todo um imenso esforço de retirar o País de sua maior recessão pode se tornar inútil. E nós não podemos jogar no lixo da história tanto trabalho feito em prol do País. Houve, realmente, o relato de um empresário que, por ter relações com um ex-deputado, auxiliava a família do ex-parlamentar. Não solicitei que isso acontecesse. E somente tive conhecimento desse fato nessa conversa pedida pelo empresário.
Repito e ressalto: em nenhum momento autorizei que pagassem a quem quer que seja para ficar calado. Não comprei o silêncio de ninguém. Por uma razão singelíssima: exata e precisamente porque não temo nenhuma delação, não preciso de cargo público nem de foro especial. Nada tenho a esconder, sempre honrei meu nome, na universidade, na vida pública, na vida profissional, nos meus escritos, nos meus trabalhos. E nunca autorizei, por isso mesmo, que utilizassem o meu nome indevidamente.
E por isso quero registrar enfaticamente: a investigação pedida pelo Supremo Tribunal Federal será território, onde surgirão todas as explicações. E no Supremo, demonstrarei não ter nenhum envolvimento com esses fatos.
Não renunciarei, repito, não renunciarei! Sei o que fiz e sei da correção dos meus atos. Exijo investigação plena e muito rápida, para os esclarecimentos ao povo brasileiro. Esta situação de dubiedade ou de dúvida não pode persistir por muito tempo. Se foram rápidas nas gravações clandestinas, não podem tardar nas investigações e na solução respeitantemente a estas investigações.
Tanto esforço e dificuldades superadas, meu único compromisso, meus senhores e minhas senhoras, é com o Brasil. E é só este compromisso que me guiará.
Muito obrigado. Muito boa tarde a todos”