Em carta a ser entregue em mãos a deputados e senadores, o presidente Michel Temer reproduz declarações do ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), seu ex-aliado e um dos condenados da Operação Lava Jato, para contestar acusações feitas em depoimento pelo delator Lúcio Bolonha Funaro, operador do PMDB em esquemas de corrupção. Em vídeos veiculados em primeira mão pelo site do jornal Folha de S.Paulo, nesta sexta-feira (13), Funaro disse, entre outras coisas, que Temer defendeu interesses de empresas portuárias por meio de medidas provisórias e que Cunha era uma espécie de “banco de corrupção de políticos”.
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O próprio Temer escreveu a carta. O cacique peemedebista mencionou entrevista recente de Cunha à revista Época em que o deputado cassado “disse que a sua delação não foi aceita porque o procurador-geral [da República na época, Rodrigo Janot] exigia que ele incriminasse o presidente da República”. Com tal objetivo, acrescenta o presidente, Cunha foi obrigado a mentir para atender ao que classificou como determinações da Procuradoria-Geral da República (PGR). Uma vez que o ex-deputado recusou a missão, aponta Temer, Janot resolveu “buscar alguém disposto a incriminar o presidente”.
A carta é classificada pelo próprio autor como um desabafo pessoal, e também uma demonstração de consideração pelo Congresso às vésperas da análise, na Câmara, da segunda denúncia da PGR contra Temer, que agora reúne duas acusações – organização criminosa e obstrução de Justiça. Os ministros da Secretaria-Geral da Presidência, Moreira Franco, e da Casa Civil, Eliseu Padilha, também constam da denúncia, mas respondem só pela primeira acusação. Além dos relatos de Funaro, que incendiaram a aparente calmaria que precedia essa deliberação, o Palácio do Planalto agora enfrenta a indisposição crescente do presidente da Casa legislativa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que se disse ofendido pelo advogado de Temer.
No sábado (14), o advogado do peemedebista, Eduardo Carnelós, afirmou em nota que “o criminoso vazamento foi produzido por quem pretende insistir na criação de grave crise política no país”. No dia seguinte, Maia reagiu em entrevista à repórter Andreia Sadi, do G1, e rebateu o advogado afirmando que a declaração foi “incompetente e irresponsável”. O deputado disse ainda que os servidores da Casa ajuizarão processo contra Carnelós. “Nunca imaginei ser agredido pelo advogado do presidente Temer. Depois de tudo que eu fiz, essa agressão não faz sentido”, reclamou Maia, que há poucas semanas já havia reclamado da ação do PMDB em relação a parlamentares a caminho do DEM.
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Para Temer, que chama de “marginais” delatores e procuradores, estava em curso contra ele uma conspiração para tirá-lo do poder. “O que me deixa indignado é ser vítima de gente tão inescrupulosa. Mas estes episódios estão sendo esclarecidos. A verdade que relatei logo no meu segundo pronunciamento, há quase cinco meses, está vindo à tona. Pena que nesse largo período o noticiário deu publicidade ao que diziam esses marginais. Deixaram marcas que a partir de agora procurarei eliminar, como estou buscando fazer nesta carta. É um desabafo. É uma explicação para aqueles que me conhecem e sabem de mim. É uma satisfação àqueles que democraticamente convivem comigo”, escreve o peemedebista.
Para tentar convencer os parlamentares sobre a alegada pertinência da continuidade de seu governo, Temer registra na carta, que tem quatro páginas, uma tabela com indicadores macroeconômicos, tendo como fontes instituições como o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e o Banco Central. “Nenhum programa social foi eliminado ou reduzido. O Brasil não parou, apesar das denúncias criminosas que acabei de apontar”, acrescenta Temer.
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