O empresário Joesley Batista, um dos donos do Grupo JBS, disse em entrevista à revista Época deste fim de semana que o presidente Michel Temer, no poder desde maio de 2016, lidera a “maior e mais perigosa” quadrilha do país. No Brasil para prestar depoimento à Polícia Federal, em que reafirmou todas as denúncias contra o peemedebista, o delator comentava com o jornalista Diego Escosteguy, editor-chefe da semanal, os mecanismos de chantagem supostamente praticados, entre outros, pelo ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB) e pelo doleiro Lúcio Funaro, ambos presos na Lava Jato, quando assim classificou o grupo de Temer:
“Essa é a maior e mais perigosa organização criminosa deste país. Liderada pelo presidente”, declarou Joesley, que detalha a atuação do grupo comandado por Temer, presidente do PMDB entre 2001 e 2016, quando se licenciou da função para assumir o comando do país.
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A delação premiada do empresário tem relação não só com a Operação Lava Jato, que tem Temer e boa parte de seus ministros e ex-ministros na mira de investigadores, mas também com a Operação Bullish – deflagrada em 17 de maio pela Polícia Federal, apura a ocorrência de fraudes em aportes concedidos pelo BNDES, entre 2007 e 2011, por meio de sua subsidiária BNDESPar.
“O Temer é o chefe da orcrim [abreviação para ‘organização criminosa’] da Câmara. Temer, Eduardo [Cunha], Geddel [Vieira Lima], Henrique [Alves], [Eliseu] Padilha e Moreira [Franco]. É o grupo deles. Quem não está preso está, hoje, no Planalto. Essa turma é muita perigosa. Não pode brigar com eles. Nunca tive coragem de brigar com eles. Por outro lado, se você baixar a guarda, eles não têm limites. Então meu convívio com eles foi sempre mantendo à meia distância: nem deixando eles aproximarem demais nem deixando eles longe demais, para não armar alguma coisa contra mim. A realidade é que esse grupo é o de mais difícil convívio que já tive na minha vida”, acrescentou Joesley.
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Os relatos e provas apresentados por Joesley são responsáveis pela mais grave crise enfrentada pelo governo Temer. Graças à ação coordenada pela Procuradoria-Geral da República (PGR), em conjunto com a Polícia Federal, Temer passou de suspeito da Lava Jato à condição de formalmente investigado no Supremo Tribunal Federal (STF) por corrupção passiva, associação criminosa e obstrução de Justiça – o primeiro presidente da República a ser investigado, no Brasil, em pleno exercício do mandato.
PublicidadeRecebido secretamente por Temer no Palácio do Jaburu, residência da Vice-Presidência da República, em março deste ano, Joesley gravou o diálogo que teve com o presidente. Na ocasião tratou-se, segundo a denúncia, da compra do silêncio de Cunha, das informações privilegiadas sobre a Lava Jato repassadas por um procurador (também já preso) e da influência do grupo de Temer sobre o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), entre outros temas sem qualquer relação com o exercício do mandato presidencial.
“Conheci Temer através do ministro Wagner Rossi, em 2009, 2010. Logo no segundo encontro ele já me deu o celular dele. Daí em diante passamos a falar. Eu mandava mensagem para ele, ele mandava para mim […] Nunca foi uma relação de amizade. Sempre foi uma relação institucional, de um empresário que precisava resolver problemas e via nele a condição de resolver problemas. Acho que ele me via como um empresário que poderia financiar as campanhas dele – e fazer esquemas que renderiam propina. Toda a vida tive total acesso a ele”, diz Joesley na entrevista que, segunda a Época, foi feita na manhã da última quinta-feira (15), em conversa que preencheu 12 páginas da revista.
O Planalto tem negado as acusações. Os advogados de Temer contestam a qualidade da gravação e diz que as declarações que serviram para a acusação do MPF estão fora do contexto. Nos próximos dias, é esperada a apresentação de uma denúncia formal do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, reiterando o conjunto probatório do inquérito em curso no Supremo. Caso acatada pelo relator da Lava Jato no STF, ministro Edson Fachin, a demanda de Janot será encaminhada à Câmara, onde precisa de 342 votos (entre 513 possíveis) para virar ação penal. Neste caso, na condição de réu, Temer ficará afastado por até 180 dias. Caso o julgamento não seja concluído nesse prazo, o peemedebista poderia retornar ao mandato.
Leia a íntegra da entrevista da revista Época
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