Fábio Góis
O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) subiu há pouco à tribuna do plenário para “expulsar” o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). O petista voltou a pedir o afastamento de Sarney do comando da Casa, e, em discurso para poucos senadores, levantou um cartão vermelho contra o peemedebista.
“O melhor passo para a saúde do Senado e do próprio Sarney é simbolizado neste cartão vermelho. Que ele deixe a presidência do Senado, permitindo que o Senado volte aos seus trabalhos normais”, disse Suplicy, criticando a postura do Conselho de Ética – que, na semana passada, manteve o arquivamento de todas os pedidos de investigação contra Sarney.
Ontem (24), Suplicy já tinha dado sinais de que a intenção de Sarney em imprimir ar de normalidade à Casa, recorrendo à pauta de votações, não iria longe.
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“O melhor para o Senado é que ele agora renuncie”, insistiu Suplicy, com o cartão em punho, tendo iniciado o discurso elogiando a vitória do piloto de Fórmula 1 Rubens Barrichello, no último domingo. O pronunciamento não contou com a presença de Sarney, embora Suplicy tenha solicitado isso no início da tarde, quando o peemedebista se preparava para assumir a Mesa.
Mas a tropa de choque de Sarney estava presente. Diante das críticas, o senador Almeida Lima (PMDB-PA), pediu a palavra e chamou quem ataca Sarney de “hipócrita”. “Nunca respondi a um processo diante de Tribunal de Contas nenhum, diante de Parlamento nenhum, diante de Judiciário nenhum. Mas, agora, como membro do Conselho de Ética, ser achincalhado pelos senhores? Eu exijo respeito!”, disse Almeida, que voltou ao plenário só para defender Sarney das acusações.
“E falo aqui com a dignidade moral que tenho. Eu não tive, recentemente, que devolver dinheiro ao Tesouro Nacional, pela conta do Senado Federal, por ato ilegítimo nenhum”, emendou Almeida, referindo-se ao fato de o líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM), estar devolvendo o dinheiro usado para custear as despesas de um de seus assessores no exterior (motivo que levou o PMDB a pedir investigação no Conselho de Ética). “Os senhores estão enxovalhando a imagem do Senado Federal. O presidente Sarney foi julgado, e o julgamento foi pelo não conhecimento das representações.”
Diante do acirramento do debate, o senador Mão Santa (PMDB-PI), que presidia a Mesa, prorrogou a sessão. Mas a decisão provocou mais um bate-boca no plenário. O senador Cristovam Buarque (PDT-DF) pediu a palavra para apoiar Suplicy, dizendo que “não acabou a crise no Senado”. “O senhor conseguiu, com um símbolo, expressar o sentimento da população brasileira. Imagino amanhã, as pessoas no Brasil inteiro com cartões contra o presidente Sarney. Com um simples gesto,mais importante do que a fala, vossa excelência conseguiu.”
Integrante da Mesa, o primeiro-secretário, Heráclito Fortes (DEM-PI), saiu em defesa de Sarney e dos supostos esforços administrativos que a Casa estaria colocando em prática.“O seu discurso peca pelo aspecto: ele não é sincero”, disse Heráclito. Suplicy reagiu aos gritos. “Vossa excelência não está falando a verdade, para começar!”
Heráclito voltou à carga. “Por que vossa excelência não assinou o requerimento?”, disse Heráclito, referindo-se ao recurso que o líder do Psol, José Nery (SP), formalizou com um grupo suprapartidário de senadores contestando a postura da Mesa Diretora – que, na última sexta-feira (21), rejeitou o recurso contra a manutenção dos arquivamentos das ações contra Sarney no Conselho de Ética. A troca de insultos levou Mão Santa a intervir, cortando o som dos microfones e ameaçando adiar para amanhã a sessão não deliberativa.
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