No momento em que a ministra Rosa Weber, do Supremo Tribunal Federal (STF), proferia seu esperado voto sobre o habeas corpus do ex-presidente Lula, em julgamento em curso neste momento, o senador Renan Calheiros (MDB-AL) fez uma verdadeira defesa do petista – e, ao fazê-lo, provocou a ira de colegas em plenário. Reclamando dos 20 senadores que assinaram manifesto para pedir ao STF a manutenção da prisão de condenados em segunda instância, caso de Lula, Renan leu alguns nomes da lista e fez um duro discurso sobre a iniciativa. Em determinado momento da discussão, Ana Amélia (PP-RS), uma das signatárias do documento, reagiu enquanto o emedebista tentava manter a palavra.
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“A democracia do senador Renan Calheiros é esta. Ele quer calar. É o coronel! O coronel querendo calar as mulheres aqui no Senado Federal”, disse a parlamentar gaúcha (veja o vídeo abaixo), enquanto Renan pedia a fala pelo “artigo 14” – dispositivo regimental que garante réplica a quem é citado de maneira ofensiva.
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Antes, Renan criticava de maneira enfática alguns de seus pares, mencionando 12 deles. “O [senador paraibano] Raimundo Lira era líder do PMDB até ontem [terça, 3]. Ontem, eu fui chamado para votar no Congresso Nacional e não tinha quem orientasse a votação da bancada do PMDB, porque o líder do PMDB abandonara a nave. Nós perdemos o piloto que, naquele mesmo dia, saiu, foi para o PSD”, iniciou Renan, entrando no assunto que provocou a revolta geral em seguida.
“Ronaldo Caiado, Ricardo Ferraço, Lúcia Vânia, Randolfe Rodrigues, Magno Malta, Alvaro Dias, Romário, Reguffe, Waldemir Moka, Ataídes e José Medeiros. Muitos – não têm aqui nenhum descrédito para nenhum, porque eu tenho a melhor convivência com todos –, muitos que podem até rasgar a Constituição porque não foram eleitos para defendê-la, para protegê-la. Fizeram um improvisado juramento na forma da Constituição que querem rasgar e ir ao Supremo Tribunal Federal entregar um documento e pedir que não se cumpra a Constituição. Traindo a Constituição. Esse é um momento que esta Casa não pode viver, não pode viver”, vociferou Renan, referindo-se também a suplentes em exercício.
Veja no vídeo:
Renan continuou a leitura da lista e citou Tasso Jereissati (PSDB-CE), Flexa Ribeiro (PSDB-PA), Airton Sandoval (PMDB-SP), Ana Amélia, Maria do Carmo Alves (DEM-SE), Cristovam Buarque (PPS-DF). No momento em que criticou senadores que substituíram titulares, Renan se dirigiu ao senador Airton Sandoval, suplente do atual ministro de Relações Exteriores, Aloysio Nunes Ferreira (PSDB).
“Se alguém não precisa respeitar essa Constituição é vossa excelência, que não foi eleito e veio aqui para puxar o saco do governo [Temer]. De um governo moribundo que está entregando, vendendo o país”, declarou Renan, prontamente rebatido por Sandoval. “Moribundo está vossa excelência, que já está fedendo nesta Casa!”
Diversos senadores pediram a palavra para protestar contra Renan, em cerca de meia hora de bate-boca e troca de acusações. Mais cedo, antes da discussão, outro grupo de senadores, estes a favor da concessão de habeas corpus a Lula, reuniu 23 assinaturas em “manifesto à nação em defesa da democracia”.
“Ideias autoritárias vêm transitando nas redes sociais, em plataformas eleitorais e, de forma preocupante, em setores civis e militares com responsabilidade institucional”, diz trecho da carta, em referência indireta ao comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas. Ontem (terça, 3), em postagem no Twitter com críticas à impunidade, o militar provocou alarde e despertou discussões sobre intervenção militar a poucas horas do julgamento do STF.
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