Renata Camargo
Quando afinal sair das discussões acaloradas, das trocas de acusações e das tentativas de ?pegadinhas? que têm marcado a sua tramitação na Câmara, o projeto do novo Código Florestal Brasileiro chegará ao Senado. E, aconteça o que acontecer nessa segunda etapa, uma coisa é certa: o papel do senador Blairo Maggi (PR-MT) será fundamental nas discussões. Um dos maiores produtores de soja do mundo, ex-governador do Mato Grosso, ex-vencedor do Prêmio Motosserra de Ouro como eco-vilão dos ambientalistas, Blairo hoje é considerado alguém que poderá ajudar a trazer um pouco mais de calma e ponderação ao embate entre ruralistas e ambientalistas em torno do código.
Por conta de ações recentes em que se uniu a ambientalistas, Blairo Maggi chegou a ser retratado pela revista americana Forbes como um ?eco-vilão que se tornou herói?. Exageros à parte, o senador já se coloca como um dos principais interlocutores na discussão sobre o código quando ele chegar ao Senado. E, desde já, ele, em conversa com o Congresso em Foco, critica a estratégia adotada pelo deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP), relator do código na Câmara. Para Blairo, o discurso de Aldo, que se coloca como defensor dos interesses nacionais, põe os ambientalistas como prepostos de interesses estrangeiros e só acirra a discussão, dificultando uma solução.
Blairo participou ativamente de dois acordos ambientais importantes. O primeiro, com o ex-ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, criou o Programa MT Legal. O programa permitiu a legalização de mais de cem mil propriedades rurais, estabelecendo obrigações de restauração de áreas e preservação de matas ciliares e nascentes. O segundo foi a chamada Moratória da Soja, que estabeleceu a proibição de comercialização de soja proveniente de áreas de desmatamento ilegal.
A experiência nos dois acordos parece demonstrar que não se chega à solução acirrando diferenças e agravando o embate entre os ruralistas e os ambientalistas. O que parece acontecer a partir da estratégia adotada por Aldo Rebelo. Nacionalista, Aldo tem afirmado em seus discursos que as ONGs ambientalistas estão no Brasil para defender interesses internacionais. Para Aldo, essas ONGs, seguindo as ideias defendidas pelo Clube de Roma, acabam trabalhando para frear o desenvolvimento do país, atrapalhando um momento em que o Brasil tem chances de avançar para o grupo das principais nações do planeta. Criado em 1968, o Clube de Roma é um conjunto de intelectuais, cientistas e empresários que avalia que o mundo precisa repensar suas estratégias de crescimento porque os recursos naturais do planeta já não seriam suficientes para suportar a manutenção do mesmo ritmo de desenvolvimento.
Paladinos e vilões
Para Blairo, nem Aldo é o paladino dos interesses nacionais brasileiros nem as ONGs são vilãs interessadas em prejudicar o país. E, partindo dessas premissas, não se consegue chegar a diálogo nenhum. ?Não concordo com o discurso nacionalista que coloca em lados opostos ONGs ambientalistas e produtores rurais?, diz Blairo. E ele emenda derrubando outro argumento comum no debate que hoje ocorre na Câmara: ?Acho errado dizer que se a Europa desmatou, então nós também podemos desmatar?, afirma Blairo. ?Podemos ser tão importantes quanto os europeus, sem repetir o que eles fizeram?. Finalmente, o senador prega a busca de uma estratégia que respeite as posições das organizações ambientalistas e até as tornem aliadas. ?Acho que as ONGs ambientalistas são importantes para nos ajudar a buscar o reconhecimento lá fora do que estamos fazendo de preservação aqui. Isso, temos que exigir delas?, defende.
Para Blairo, na defesa de seus pontos de vista, o que querem tanto ambientalistas quanto ruralistas é o desenvolvimento do país. O que é necessário é buscar um equilíbrio entre as duas posições. O senador matogrossense afirma que as obrigações da rigorosa legislação ambiental brasileira ? de preservar a reserva legal e áreas de preservação permanente (APPs) dentro das propriedades privadas ?, de certa forma, penalizam os produtores rurais, ao reduzir espaços de produção. Ao mesmo tempo, no entanto, o senador reconhece que a preservação dessas áreas é fundamental para o equilíbrio do sistema produtivo.
?APPs e reserva legal punem o agricultor, mas garantem um sistema melhor. Temos que aproveitar o próprio vento que derruba a casa para gerar energia?, afirma Blairo. A inteligência está, na avaliação do senador, em transformar as exigências ambientais brasileiras em um valor agregado em favor do produto agrícola brasileiro. O senador argumenta que a reserva legal deve ser colocada na mesa de negociação internacional como um diferencial da agricultura brasileira. ?Tem que ter diferencial no preço dos nossos produtos por isso?, defende.
Na avaliação de Blairo, o futuro das áreas ambientais no Brasil está no pagamento por serviços ambientais. Esse instrumento de preservação ? defendido tanto por ruralistas quanto por ambientalistas ? consiste em remunerar a quem voluntariamente preserva as vegetações do país. ?Podemos pensar também em vender carbono acumulado em nossas reservas legais?, sinaliza Blairo.
?Rei da soja?
Formado em Agronomia pela Universidade Federal do Paraná, Blairo Maggi foi considerado por muitos anos como o ?rei da soja?, perdendo o título para o primo Eraí Maggi na safra de 2005/2006.
A família Maggi chegou ao Mato Grosso na década 1970, trazendo na bagagem a empresa Sementes Maggi, fundada em 1973. Inicialmente um negócio na área de produção de sementes, o grupo André Maggi ? nome do patriarca ? foi crescendo e se transformou em uma holding que abrange hoje negócios em quatro eixos: comercialização e processamento, agropecuária, energia e navegação. O grupo atua hoje em todas as regiões do país, com braços também na Argentina, Holanda, Noruega e Polônia.
É com a mesma força empresarial, que Blairo atua na política. Suas campanhas milionárias têm garantido a ele um ótimo desempenho nas urnas. Nas últimas eleições, em outubro do ano passado, Blairo venceu em primeiro lugar com 37,09% dos votos (1.073.039), contra os 24,48% dos votos do senador Pedro Taques (PDT), que obteve 708.402. A campanha de Blairo foi cinco vezes mais cara que a de Taques: no total, as despesas do senador do PR foram de mais de R$ 5,6 milhões. Taques gastou em torno de R$ 1,1 milhão
Ex-governador do Mato Grosso, Blairo foi eleito, pela primeira vez, nas eleições de 2002, com 51% dos votos no primeiro turno. Em 2006, se reelegeu governador do estado com 63,59%, também no primeiro turno. Maggi costuma contar que entrou na vida pública para pagar uma promessa: ainda menina, sua filha mais velha, Ticiane Maggi, foi vítima de um câncer linfático e o pai prometeu que se a filha se curasse, ele passaria a ?ajudar um grande número de pessoas?. Blairo Maggi exerceu parte dos mandatos de governador pelo PPS, partido de oposição ao governo Lula, se filiando ao PR, base aliada do PT, em 2007.
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