O primeiro vice-líder do PP na Câmara, Jerônimo Goergen (RS), é duro com a presidenta Dilma Rousseff. Afirma que ela é a culpada pelas crises na base aliada ao administrar mal a relação com os parlamentares, centralizando demais as decisões e diminuindo o poder dos ministros. Goergen é relator da MP 556 e pretende usá-la para aumentar as dores de cabeça do Planalto, aumentando isenções fiscais e frustrando os planos do governo de melhorar a arrecadação.
Líder governista quer incomodar Dilma com impostos
Leia outros destaques de hoje no Congresso em Foco
Para Goergen, sem poder, os ministros ficam incapazes de resolver quaisquer “conflitos” menores. “Nomeação, carguinho, pagamento de R$ 100 mil de uma emenda”, enumera o deputado. “Estou falando o mínimo mesmo. Aí, vira crise. Tudo vira crise.” A presidenta Dilma age “muito mal”, na opinião do deputado que fez campanha para José Serra (PSDB) em 2010, trabalhou no governo Fernando Henrique e só não fez carreira no tucanato gaúcho por derrubar mais impostos.
Leia também
Na conversa com o Congresso em Foco, Goergen vai além. Critica a barganha do Executivo e dos congressistas com as emendas parlamentares. Diz que elas geram corrupção e defende a sua extinção. Lembra que o Planalto tem os parlamentares “na mão” por causa da liberação das emendas. E afirma que a administração de Lula e Dilma dá o calote em pequenas empresas, à beira da falência.
Na quarta-feira (21), o governo sofreu duas derrotas na Câmara, a aprovação de projeto que transfere para o Congresso a demarcação de terras indígenas e o adiamento do projeto da Lei Geral da Copa enquanto não houver data para a votação do Código Florestal. Foi na manhã daquele dia, antes de acontecer o movimento da base aliada, incluindo os ruralistas, que Goergen conversou com o Congresso em Foco. Veja os principais trechos da entrevista.
Congresso em Foco – Como está a relação do PP com o governo?
Jerônimo Goergen – Por incrível que pareça, o PP tem uma relação muito correta com a presidenta. Eu não a apoiei [nas eleições de 2010], mas ela não fica desgastando o PP. Na hora de trocar o ministro, teve a escolha pessoal dela. O PP tem sido muito correto com ela. Eu mesmo, que tenho uma posição independente, nunca deixei de votar com o governo. O governo erra politicamente em algumas questões, como o Código Florestal, compra a briga como se fosse dele. Na questão dos indígenas, o PT quer muito que a gente os apóie, mas, na hora de abrir a cabeça ideologicamente, eles retrocedem e pioram as coisas. O papel centralizador da presidenta faz com que não tenhamos nenhum ministro com força política para resolver às vezes pequenos conflitos.
Como?
Qualquer um. Sei lá: nomeação, carguinho, pagamento de R$ 100 mil de uma emenda. Estou falando o mínimo mesmo. Aí, vira crise. Tudo vira crise.
Ela administra mal?
Politicamente muito mal.
E administrativamente?
Não vejo essa administração. Vem do Lula, vem também do Fernando Henrique. Não quero fazer uma crítica pessoal. A crítica pessoal pode manter, mas a de gestão eu falo do Brasil. O Brasil tem uma economia que é muito forte e que sustenta uma máquina que é muito cara.
Esses ministros são excessivamente tutelados pelo Planalto?
Eles não são autorizados, não têm poder.
São exigidos na mesma medida dos poucos poderes que têm?
Dá mais a sensação assim: “Vai lá, não faça bobagem nenhuma que tá bom. Se fizer, eu te chamo”. O cara vai tocando do jeito que dá.
Pisando em ovos?
Hum, hum.
E aí não atende os parlamentares?
Até atende. Alguns não atendem pessoalmente. Uns atendem e tu não tens a execução das ações. Muitas vezes porque não podem.
Já negociou a Medida Provisória com o governo, com o líder, o ex-líder Vaccarezza ou o Chinaglia?
Eu vou ter que negociar com governo. Sei que o governo vai reagir. Vamos estar abertos para negociação desde que o governo apresente uma forma de encaminhar. Todo mundo se acostumou que, quando você pega uma relatoria de Medida Provisória, você tem que dizer ‘não’ pra todo mundo e ‘sim’ pro governo. Como eu não estou fazendo isso, o pessoal acha que o governo está me pressionando. Não tive nenhuma pressão. Acho que terei, entendeu? Na hora da pauta [em plenário], é que vai vir a pressão. Mas, para mim, não vai mudar nada.
Vai ser sua última relatoria?
Com muito orgulho, se for o caso. Eu já deixei de ser secretário de estado para não aumentar imposto. Eu estava anunciado para ser o secretário de Agricultura no Rio Grande do Sul. E, antes que eu fosse para a Secretaria, a governadora [Yeda Crusius (PSDB)] mandou um projeto de imposto para votarmos na Assembleia Legislativa. E, com a minha posição, derrubamos o aumento de imposto. Não passou, e eu deixei de ser secretário. Então, eu não tenho nenhum problema com isso. Sei que o governo se acostumou a ter relatores conduzidos por ele. Mas eu não cumpro esse papel. Mas claro que não radicalizo. Estou aqui aberto para conversar com o governo. Mas não vou aceitar tirar a competitividade da produção brasileira. Aumento de custo, nem falar. Enquanto não tiver gestão no Brasil, não me fale em aumento de imposto.
Não existe gestão no Brasil?
Não tem. Dou o exemplo do Judiciário, que toda hora tem que tomar decisões porque nós ou o governo deixamos de fazer a nossa parte. O modelo de Legislativo brasileiro está todo errado. Aqui só se vota o que o governo quer ou o que for irrelevante. Quero aproveitar para endossar o debate para avaliar essa questão das Medidas Provisórias. Eu não falo nem no excesso de MPs, mas no papel da MP. Tá todo errado. O papel legislador é do Congresso e nós somos culpados por isso.
Os deputados estão na mão do governo, das emendas parlamentares e dos cargos?
Sim, sim. Mais das emendas. São coagidos com essa questão das emendas.
É melhor o orçamento impositivo?
Você orça, tem uma previsão. Não tem uma coisa concreta. Isso é uma característica de qualquer orçamento. No caso das emendas, ou ela é de execução obrigatória ou é melhor que não tenha. Seria melhor acabar e você aumentar em 1% o valor de repasse do Fundo de Participação dos Municípios a cada município. Isso vai ser muito melhor do que essa humilhação para deputado e prefeito, que é a emenda.
Mas agora tem rebelião.
A rebelião é o excesso de humilhação. Uma situação de “me usaram”. Isso é ruim para qualquer governo. Não concordo com essa coisa de o governo ter o Congresso na mão por causa do orçamento. É o que acontece hoje.
O governo Fernando Henrique administrava melhor?
O governo Fernando Henrique tinha um foco de gestão. Não chegou a ser uma gestão completa, porque tem de fazer toda uma transição, uma mudança na economia.
Piorou?
Sim.
Mas também não tinha cargos e emendas no governo FHC?
Tinha. A emenda parlamentar não foi o PT que criou. Foi o [José] Sarney [do PMDB, hoje presidente do Senado]. O PT só melhorou. Melhorou no sentido de dominação. Estou criticando o modelo desde o início. Só que a agora piorou. Agora, ainda aumentou o valor [das emendas] e diminuiu os pagamentos. O Lula mandou liberar tudo o que era emenda para eleger a Dilma, só que não pagou. O que tem de empresa falindo aí no Brasil por obra pronta e não recebida é um absurdo.
Líder governista quer incomodar Dilma com impostos
Tudo sobre crise na base
Deixe um comentário