Os valores são astronômicos. Pelo menos R$ 500 milhões e de US$ 80 milhões a US$ 150 milhões foram distribuídos pela JBS a políticos, lobistas, advogados e agentes públicos, segundo os delatores do grupo. Dinheiro que, de acordo com eles, foi repassado a algumas das principais lideranças da política nacional, como o presidente Michel Temer, os ex-presidentes Lula e Dilma, o presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), e os últimos dois candidatos do PSDB à Presidência, os senadores José Serra (SP) e Aécio Neves (MG).
Mas a lista dos beneficiários, conforme a delação, é muito maior: inclui governadores, ex-governadores, parlamentares, ministros, ex-ministros, jornalista, entre outras pessoas. Uma relação com 1.829 candidatos a cargos eletivos de 28 partidos, nas contas do diretor de Relações Institucionais do grupo, Ricardo Saud. Segundo ele, os repasses chegaram a R$ 600 milhões. “Tirando esses R$ 10 milhões, R$ 15 milhões aqui, o resto é tudo propina”, disse Saud.
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Com isso, de acordo com o delator, a empresa ajudou a eleger 179 deputados estaduais, de 23 estados, e 167 deputados federais, de 19 partidos. “Demos propina para 28 senadores da República, sendo que alguns disputaram e perderam eleição para governador e alguns disputaram reeleição ou eleição para o Senado. E demos propina para 16 governadores eleitos, sendo 4 do PMDB, 4 do PSDB, 3 do PT, 2 do PSB, 1 do PP e 1 do PSD”, relatou.
O presidente do grupo, Joesley Batista, também afirma que boa parte do dinheiro repassado era propina disfarçada de doação política. “Dos R$ 500 milhões então, total, pode se considerar que, dos R$ 500 milhões, R$ 400 milhões foram contrapartida a ajustes ilícitos feitos pelos políticos. Naquela hora, pagamos”, disse o empresário.
Em depoimento em vídeo, Joesley relata como eram realizados os repasses: “Tem pagamento via oficial, caixa 1, via campanha política, tem via caixa 2, tem via dinheiro em espécie. Basicamente essa é a forma de pagar. Normalmente acontece o seguinte: se combina o ilícito, se combina o ato de corrupção com o político, com o dirigente do poder público, e daí pra frente se procede o pagamento. Os pagamentos são feitos das mais diversas maneiras. Seja nota fiscal fria, seja dinheiro, caixa 2, até mesmo doação política oficial”.
PublicidadeCom base nos documentos da delação premiada, o Congresso em Foco publica, abaixo, quem são as pessoas citadas, os valores repassadas e as contrapartidas envolvidas, na versão dos delatores.
– Michel Temer R$ 15 milhões
Pessoas citadas:
Paulo Skaf, Eduardo Cunha e Guido Mantega.
A contrapartida, segundo os delatores: o pagamento foi realizado em troca de atuação favorável aos interesses do grupo J&F.
– Michel Temer e o deputado Rodrigo Loures (PMDB-PR) 5% sobre lucro obtido com afastamento da Petrobras
Pessoas citadas: Wagner Rossi, Milton Ortolan, Geddel Vieira Lima, Moreira Franco. Eduardo Cunha, Gilvandro Araújo, Roberta Funaro, Dante Funaro.
A contrapartida, segundo os delatores: a porcentagem foi combinada com base no lucro futuro obtido com o afastamento do monopólio da Petrobras no fornecimento de gás, bem como outros créditos em razão da atuação em benefício da J&F no que tange ao destravamento das compensações de crédito de PIS/Cofins com débitos do INSS. Uma parte, em valor total não especificado, foi pagamento de vantagem de forma lícita para Roberta Funaro, em 2017, em razão de um “mensalinho criado desde a prisão de operador Lúcio Funaro.
– Lula US$ 50 milhões *
– Dilma US$ 30 milhões *
A contrapartida, segundo os delatores: os pagamentos foram realizados por intermédio do ex-ministro da Fazenda Guido Mantega em razão de esquema criminoso no BNDES e em fundos de pensão (Petros e Funcef) para beneficiar a JBS. No acordo de colaboração, o MPF relata que os pagamentos haviam sido de US$ 50 milhões para Lula e US$ 30 milhões para Dilma. Mas no depoimento, Joesley Batista, aponta cifras ainda mais altas: “Na fase do presidente Lula, chegou acho que nuns 80 milhões de dólares e depois, na Dilma, chegou nuns 70. Ou o contrário, 70 na do Lula e 80 na da Dilma”. Os valores foram pagos, conforme o delator, em uma conta no exterior. Em 2014, a conta tinha um saldo de cerca de US$ 150 milhões.
– Eduardo Cunha R$ 50 milhões (CEF) + R$ 20 milhões (Aprovação da desoneração) + R$ 30 milhões (em troca de apoio enquanto presidente da Câmara)
Lúcio Funaro – gerenciava as contas
A contrapartida, segundo os delatores: os pagamentos foram realizados por meio de um sistema de “conta-corrente”, gerenciado por Lúcio Funaro. Entre 2009 e 2014, o saldo era de cerca de R$ 50 milhões. Os valores repassados se referiam a questões relativas a financiamentos da Caixa Econômica Federal, bem como do FI-FGTS.
– Aécio Neves R$ 65 milhões
Pessoas citadas: Andréa Neves, Frederico Pacheco, Paulo Pereira, Luis Tibé, Aldemir Bendini.
A contrapartida, segundo os delatores: os valores são referentes ao pagamento de propina, em 2014, em torno de R$ 63 milhões ao senador Aécio Neves em troca de atuação favorável aos interesses do grupo J&F, dentre eles a liberação de crédito do ICMS. Outros R$ 2 milhões foram pagos já em 2017, em razão da aprovação da lei de abuso de autoridade e anistia ao caixa dois.
– Marcos Pereira – Ministro da Indústria, Comércio Exterior e Serviços – Valor não especificado
Pagamento de propina em troca de aprovação de um empréstimo de R$ 2,7 bilhões junto à Caixa Econômica Federal em benefício da J&F
– João Bacelar – Deputado (PR-BA)- Valor não especificado
Pessoas citadas: Guido Mantega, Dilma Rousseff.
A contrapartida, segundo os delatores: pagamento de propina em troca da não convocação de Guido Mantega para depor na CPI do Carf.
– Marta Suplicy – Senadora (PMDB-SP) – R$ 4 milhões
Pessoas citadas: Antônio Palloci, Márcio Toledo.
A contrapartida, segundo os delatores: a senadora teria recebido R$ 1 milhão a pretexto de campanha eleitoral de 2010 e R$ 3 milhões em 2014 em troca de possíveis negócios caso a peemedebista vencesse a eleição para prefeitura de São Paulo.
– José Serra – Senador (PSDB-SP) – R$ 20 milhões
Pessoas citadas: Luiz Fernando Furquim.
A contrapartida, segundo os delatores: o senador teria recebido R$ 20 milhões, conforme diz o delator, a pretexto de campanha eleitoral, sendo que R$ 6 milhões foram realizados por meio notas frias à empresa LRC Eventos e Promoções, com a falsa venda de um camarote no Autódromo de Interlagos em São Paulo; R$ 420 mil para a empresa APPM Analista e Pesquisa, também em notas frias; R$ 13.580 em doações oficiais. A operacionalização dos pagamentos foi realizada por Furquim, já falecido, amigo de Serra.
– Antonio Palocci – R$ 320 milhões
Pessoas citadas: Dilma Rousseff, Paulo Ferreira, Brane.
A contrapartida, segundo os delatores: repasses realizado a pretexto da campanha eleitoral presidencial de Dilma Rousseff em 2010.
– Silval Barbosa (PMDB) – ex-governador do Mato Grosso – Valor não especificado
Pessoas citadas: Pedro Nadaf, Marcelo Souza de Cursi.
A contrapartida, segundo os delatores: pagamento de propina ao então governador do Mato Grosso em troca de benefícios fiscais à J&F.
– Cid Gomes – ex-governador do Ceará (PDT) – R$ 20 milhões
Pessoas citadas: Antonio Balhmann Cardoso Nunes, Arialdo Pinho, Francisco José Pinheiro, Camilo Sobreira Santana, Gelson Ferraz de Medeiros.
A contrapartida, segundo os delatores: pagamento feito em troca de liberação de créditos de ICMS em benefício da J&F.
– Reinaldo Azambuja e André Puccineli (atual e ex-governador de Mato Grosso do Sul) – R$ 150 milhões
Pessoas citadas: André Luiz Cance.
A contrapartida, segundo os delatores: pagamento realizado aos governadores de Mato Grosso do Sul, entre os anos de 2007 a 2016, em troca de benefícios fiscais.
– Fernando Pimentel (governador de Minas Gerais) – R$ 3,6 milhões
A contrapartida, segundo os delatores: o valor, de acordo com o empresário da JBS, foi repassado a Pimentel quando o petista era ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio por meio do Escritório Andrade, Antunes e Henrique Advogados, em Belo Horizonte.
– Raimundo Colombo (governador de Santa Catarina) – R$ 10 milhões
A contrapartida, segundo os delatores: repasse feito em troca de favorecimento na licitação da Companhia de Água e Esgoto de Santa Catarina
– Delcídio do Amaral (ex-senador) – R$ 5 milhões
A contrapartida, segundo os delatores: pagamento de propina por conta da concessão de Tares (Termo de Acordo de Regime Especial).
– Eunício Oliveira (senador e atual presidente do Senado) – R$ 5 milhões
A contrapartida, segundo os delatores: pagamento realizado em razão da medida provisória que disciplina créditos de PIS/Cofins por meio de doação oficial fora do período eleitoral.
– Sérgio Cabral (ex-governador do Rio de Janeiro) – R$ 40 milhões
Pessoas citadas: Julio Bueno, Hudson Braga.
A contrapartida, segundo os delatores: pagamento no montante de R$ 40 milhões, sendo que R$ 20 milhões foram realizados como doações oficiais ( R$ 5 milhões para o PMDB-RJ; R$ 1,660 milhão para o PMDB-RJ; R$ 900 mil para o PDT; R$ 1 milhão para o PMDB-RJ; R$ 1,440 milhão para o PMDB-RJ; R$ 2,5 milhão para o PMDB/RJ; R$ 5 milhão para o PMDB-RJ; e R$ 2,5 milhão para o PMDB-RJ). Os pagamentos foram feitos em momentos distintos. Além dos valores pagos, R$ 7,5 milhões foram pagos em espécie para Hudson Braga.
– Fábio Faria (deputado PSD-RN) e Robinson Faria (governador PSD-RN) – R$ 5 milhões
A contrapartida, segundo os delatores: o repasse, de acordo com delator da JBS, foi feito em troca da privatização da Companhia de Água e Esgoto do Estado do Rio Grande do Norte.
– Luiz Fernando Emediato (jornalista) – R$ 2.8 milhões
Pessoas citadas: Carlos Eduardo Petra Lopes.
A contrapartida, segundo os delatores: motivo não especificado.
– Marco Aurélio Carvalho – valor não especificado
Pessoas citadas: José Eduardo Cardozo.
A contrapartida, segundo os delatores: pagamento de vantagens indevida com o propósito de ter os pleitos da J&F favorecidos na área de atuação do Ministério da Justiça. Os pagamentos de deram através de um contrato fictício com escritório advocatício de Marco Aurélio.
– Pagamento de propina em Rondônia – valor não especificado
Pessoas citadas: Edgar Nilo Tonial.
A contrapartida, segundo os delatores: pagamento de propina a fiscais da Secretaria Estadual da Receita em Rondônia em troca de benefícios fiscais.
– Pagamento de propina para homologação de créditos tributários – R$ 160 milhões
Pessoas citadas: Antonio Miranda, David Mariano.
A contrapartida, segundo os delatores: pagamento em troca de agilização para homologação de créditos tributários.
– Gilberto Kassab (Ministro das Ciência, Tecnologia e Inovação) – valor não definido
A contrapartida, segundo os delatores: em 2009, a JBS deu continuidade ao contrato de aluguel de caminhões com sobpreço em torno de R$ 350 mil a cada mês, mediante notas fiscais. Propinas autorizadas por Mantega para o PSD no valor de R$ 7 milhões.
– Angelo Goulart (procurador do MPF) – Valor não especificado
Pessoas citadas: Willer Tomaz, Anselmo Cordeiro, Ricardo Leite.
A contrapartida, segundo os delatores: solicitação de vantagem indevida em contrapartida a beneficiar a J&F na operação Greenfield, bem como obstruir a celebração de acordo de colaboração premiada no âmbito da Operação Lava Jato.
– Crimes contra o sistema financeiro
Valor não definido – pessoas não citadas
A contrapartida, segundo os delatores: o Grupo J&F destinou entre 1% a 3% para pagamento lícito de comissões originadas das exportações de suas empresas. Para isso, foram constituídas as empresas offshores Lunsville e Valdarco, que recebiam sempre os valores destinados ao pagamento de comissões, e mantinham sempre um saldo disponível para ser usado por determinação de Joesley Batista para pagamentos de propina.
– Geração de pagamentos em espécie – valor não especificado.
Pessoas citadas: Michel Temer, Márcio Tolego, Marta Suplicy, Antonio Miranda, Davi Mariano, Roberta Funaro, Altair, Eduardo Cunha, Lucio Funaro, Ivanildo Baerts, João Baerts, Pedro Nadaf.
A contrapartida, segundo os delatores: relata diversas entregas de valores em espécie em decorrência de acertos espúrios.
– Repasses não contabilizados a partidos políticos – valor não especificado
Pessoas citadas: Fernando Bezerra Coelho (PSB-PE), Bruno Araújo (PSDB-PE), Beto Richa, Alceu Moreira, Gabriel Guimarães, Marcos Montes Cordeiro, Aelton freitas, Raimundo Gomes de Matos, Eduardo Sciara, Geddel Vieira Lima, Luiz Fernando Emediato, Paulo Ferreira, Zé Silva, Brizola Neto.
Segundo os delatores, o método de pagamento era sempre determinado pelo político, podendo consistir em doação oficial, pagamento de notas fiscais avulsas ou entrega de dinheiro em espécie; que os partidos e agentes políticos que receberam por meio de pagamento de notas fiscais avulsas ou entrega de dinheiro.
A contrapartida, segundo os delatores:
– Compra de partidos para formação de coligação em campanha presidencial de 2014 – Valor não especificado
Pessoas citadas: Guido Mantega, Vital do Rego, Michel Temer, Eduardo Cunha, Sergio Cabral, Eunício Oliveira, Aécio Neves, Jader Barbalho, Renan Calheiros, Valdir Raupp, Henrique Eduardo Alves, Antonio Carlos, Ciro Nogueira, Carlos Luppi, Edinho Silva, Renato Rabello, Gilberto Kassab.
A contrapartida, segundo os delatores: os valores eram oriundos da conta corrente a partir de tratativas com Guido Mantega. Foram realizados diversos pagamentos a políticos e a partidos políticos, de forma a trazê-los para a coligação da qual o Partido dos Trabalhadores fazia parte nas eleições de 2014.
– Operações fraudulentas no Banco Rural – Valor não especificado
Pessoas citadas: Guido Mantega, José Roberto Salgado.
Joesley Batista relata a prática do crime de empréstimo vedado, previsto no artigo 17 da lei 7.492/86, versando sobre operação conhecida como “troca de chumbo”
– Lúcio Funaro R$ 11 milhões
Pessoas citadas: Evaldo Ulinsky.
A contrapartida, segundo os delatores:Repasse realizado por uma intermediação de venda da empresa Jandelle/Big Frango
– Cláudio Humberto (jornalista) R$ 18 mil mensais, pagos por 24 meses.
A contrapartida, segundo os delatores: o colaborador Ricardo Saud diz ter sido chantageado pelo jornalista para que deixasse de fazer publicações relativas a ele. Cita caso de notícias que o associaria como sendo o “homem da mala” do grupo J&F.
Temer perdeu a capacidade de presidir o país, concordam lideranças do governo e da oposição
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