Ao lançar o partido Rede Sustentabilidade, no sábado (16), em cerimônia que reuniu políticos insatisfeitos com suas legendas, entre petistas, tucanos, verdes e gente até do PSOL, a ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva evitou revelar que o ato marcava o início de sua candidatura para as eleições de 2014. Respaldada por cerca de 20 milhões de votos em 2010, quando disputou o cargo pelo PV, Marina viu na cerimônia que o “movimento”, outro termo escolhido para simbolizar a ideia de “rede”, interessou a mais políticos do que ela poderia imaginar.
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Estão envoltos na Rede desde petistas históricos, como Eduardo Suplicy (SP) e Domingos Dutra (MA), fundadores do partido, passando por ex-petistas como Heloisa Helena (PSOL-AL) e Serys Slhessarenko (sem partido-MT), até a gente como os deputados Reguffe (PDT-DF), Alfredo Sirkis (PV-RJ) e Walter Feldman (PSDB-SP). Dutra, Sirkis e Feldman já anunciaram filiação à Rede.
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Estavam todos lá para apoiar a fundação da legenda e, objetivamente, viabilizar a candidatura Marina em 2014. A ex-ministra só dizia que a questão ainda estava no estágio de “uma discussão”. “Por enquanto, é apenas uma possibilidade”, despistou Marina.
PublicidadeMas não era apenas isso para seus aliados. Para a ex-senadora Heloísa Helena, dissidente petista e fundadora do PSOL, essa já é uma realidade à espera apenas da exigência legal para a criação da Rede, a 500 mil assinaturas de adesão. Em entrevista ao Congresso em Foco logo após a aclamação do nome da legenda, Heloisa disse que o evento significava “a estruturação de uma corrente política na vida nacional que possa criar as condições objetivas de superar a fraude da falsa polarização PT-PSDB, e termos a candidatura de Marina em 2014”. Em 2010, a ex-senadora provocou uma briga interna no PSOL porque defendia que o partido apoiasse a candidatura de Marina ao Palácio do Planalto. Mas o PSOL acabou lançando Plínio Arruda.
Tanto Heloísa como Suplicy já assinaram a lista de adesões que possibilitará a criação do partido. Dizendo-se tentado “a cair na rede”, frase dita entre Marina e Heloisa no púlpito do evento, Suplicy fez menção não só à afinidade com as duas, mas com o que o partido pretende colocar em seu estatuto. Ele que diz não acreditar que o PT estude outro nome da sigla para lançar ao Senado em seu lugar. “Quero insistir com o PT sobre a aprovação dessas medidas de democratização, como o processo de escolha dos candidatos”, alfinetou o senador. Em 2002, ele disputou prévias com Lula, exatamente para definir que sairia candidato naquele ano contra José Serra (PSDB). Lula venceu as prévias e conseguiu eleger-se presidente da República.
No governo do PT, Suplicy sempre esteve à margem das grandes decisões. Além de jamais poder tornar-se um ministro, não é o tipo de “companheiro” preferido nas audiências no Palácio do Planalto. Antes de a Justiça condenar a cúpula do partido à prisão no episódio do mensalão, Suplicy foi um dos petistas que criticaram a própria legenda no caso de compra de votos de parlamentares.
Agora, o partido, sob forte influência de Lula, quer que outro petista saia candidato ao Senado. Para evitar isso, Suplicy diz que só aceita trocar o cargo se o candidato for Lula, que odeia o Legislativo.
Nova política
Outro petista insatisfeito prestes a cair na “rede” de Marina Silva é Domingos Dutra (MA), adversário ferrenho do senador José Sarney. Ele está inconformado com o apoio de Lula e da cúpula do partido ao “maior oligarca” do Brasil. “Após 33 anos de PT, estou aqui para fazer uma nova política”, sintetizou o deputado maranhense, que chegou a fazer greve de fome no Plenário da Câmara, em junho de 2010, depois de contrariar a direção nacional do partido e apoiar o então candidato a governador Flávio Dino (PCdoB-MA), da base aliada. Mas o PT nacional interferiu e a legenda apoiou a filha de Sarney, Roseana Sarney (PMDB), que venceu as eleições.
Segundo o estatuto do partido ainda a ser elaborado, Marina disse exatamente o que Suplicy diz querer ser praticado no PT – escolha democrática entre a militância sobre os candidatos do partido a cargos eletivos. Essa restrição tirou o senador de disputas, por exemplo, da prefeitura de São Paulo. Com a imposição de Lula, foi escolhido Fernando Haddad, que acabou ganhando a eleição do ano passado.
Urgente!
Marina até tentava disfarçar a candidatura de 2014. “Somos uma rede, e é possível que possam aparecer outras possibilidades [de candidatura à Presidência]. E estamos abertos para encontrar [alternativas] em nós mesmos”, discursou. Aos gritos, a multidão pedia o contrário: “Partido, urgente, Marina pra presidente!”.
A ex-ministra do Meio Ambiente foi cortejada por políticos de partidos diversos no evento. “Vim só dar apoio a Marina para a criação do partido”, disse Reguffe à reportagem, depois de cumprimentar a ex-ministra, que se preparava para uma entrevista coletiva. Ele garantiu que continuará no PDT.
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