O segundo protesto em Brasília marcado pelas redes sociais, sem lideranças definidas e com uma pauta composta por diversos itens, como uma CPI para investigar gastos com a Copa, a derrubada da PEC 37 e a tarifa zero para o transporte público, teve aproximadamente 30 mil pessoas, de acordo com cálculos da Polícia Militar. Público seis vezes maior do que os 5 mil de segunda-feira (20). E, ao contrário da primeira manifestação, cuja tônica foi a paz, a noite de hoje deixou várias marcas de destruição na cidade.
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A parte mais tensa da manifestação foi quando, após perceber que não iriam conseguir ocupar o Congresso, uma parte dos manifestantes tentou invadir o Palácio do Itamaraty. Ao encontrar resistência da Polícia Militar, quebraram 25 janelas, colocaram fogo em uma porta com um coquetel molotov e picharam a parte interna do prédio. Acabaram retirados do local pela PM. Nas paredes, lia-se a palavra “corrupção”.
Oficial de chancelaria, Túlio Costa, 31 anos, estava na parte mais distante do protesto. Quando os sprays de pimenta e as bombas de gás começaram a ser usadas pela PM, ele viu boa parte dos manifestantes correrem para o lado do Itamaraty, logo próximo. “Pessoal saiu muito rápido, o pessoal que tava mais longe. E pegaram o Itamaraty para Cristo”, afirmou.
Ele acredita ter sido coincidência a escolha do Itamaraty como alvo dos manifestantes. Inicialmente, a repressão policial era mais forte do lado direito do Congresso, próximo ao Palácio da Justiça. Isso fez os participantes do protesto se deslocarem para o lado oposto. Na visão dele, faltou um plano da PM para dar vazão às pessoas que sairiam da manifestação.
Vaias
PublicidadeOs grupos, então, voltaram para o gramado central do Congresso. Foram vaiados pela maioria que estava ali para gritar palavras de ordem e exigir mudanças de forma pacífica e negociada. A palavra paz chegou a ser escrita com laser em uma das cúpulas do Congresso. Mesmo assim, o grupo não descansou. Passaram a jogar pedras e garrafas de vidro contra os policiais militares que faziam um cordão de isolamento. Neste momento, a PM passou a usar bombas de gás lacrimogêneo e de efeito moral para dispersar os manifestantes. Boa parte foi embora, outros ficaram por quase duas horas no local.
Os que foram embora deixaram um rastro de destruição no caminho. Picharam as paredes de ministérios, como o do Meio Ambiente, quebraram os pontos de ônibus da Esplanada dos Ministérios e os controladores de velocidade da via. A Catedral Metropolitana, reaberta em dezembro após três anos fechada para reforma, também virou alvo. Um dos vitrais do prédio foi trincado.
Mesmo com o aumento da violência por parte de um pequeno grupo de manifestantes, a ordem dada pela Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal continua sendo para seus policiais deixar o protesto seguir, evitar confontos e proteger o patrimônio público.
Vândalos
O secretário de Segurança do Distrito Federal, Sandro Avelar, afirmou na noite desta quinta-feira (20) que há “vândalos” infiltrados em meio aos verdadeiros manifestantes que protestam na Esplanada dos Ministérios em Brasília. As polícias já identificaram “alguns” e devem localizar outros, prometeu ele. “Não acho que sejam manifestantes radicais, porque os manifestantes têm organização e bandeiras. Essas pessoas querem usar esses movimentos como uma espécie de catarse”, afirmou ele, em entrevista ao Congresso em Foco.
O protesto em Brasília, por melhores condições sociais, corria pacífico, até que um grupo atacou o prédio do Itamaraty e passou a fazer fogueiras em tendas no gramado da Esplanada. A polícia passou a usar bombas de efeito moral e de gás lacrimogêneo, além de spray de pimenta. Avelar afirmou que não houve nenhum tipo de mudança na ação policial, apenas uma reação ao vandalismo.
Apesar disso, o secretário de Segurança elogiou a manifestação popular. Avelar classificou-o como um movimento de “milhares de pessoas que, de forma pacífica e democrática”, expressam suas opiniões. Já os vândalos seriam “uma minúscula minoria”.
Faltam lideranças
Ainda assim, Sandro Avelar criticou a falta de liderança dos manifestantes. Ele disse que esta semana se reuniu com representantes dos movimentos “Acorda, Brasília” e com estudantes da Universidade de Brasília. “Ninguém consegue liderar o movimento”, disse. O secretário de Segurança ainda afirmou não ter recebido uma pauta de reivindicações dos dois grupos.
A mesma crítica já havia sido feita por senadores no início da semana. Depois, o vice-presidente da Câmara, André Vargas (PT-PR), chegou a conversar com três participantes do protesto. No entanto, de acordo com o petista, não havia como conversar com os jovens, já que eles não tinham uma pauta definida e nem representatividade entre os manifestantes.
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