O policial militar Abel de Queiroz disse ter ido ao escritório do advogado José Yunes, amigo próximo do presidente Michel Temer, em pelo menos duas ocasiões, para entregar dinheiro. Os fatos teriam ocorrido entre os anos de 2013 e 2015. De acordo com informações do jornal Folha de S. Paulo, em depoimento à Polícia Federal, Queiroz disse ter dirigido um veículo blindado na Transnacional, transporte de valores contratada por empresas alvo da Lava Jato, entre elas a Odebrecht, e que outros agentes, que identificou como Oliveira e Alves, levaram os valores para dentro do imóvel.
O depoimento foi prestado pelo militar à PF em 28 de março e ainda seque sob sigilo. O policial trabalhava como motorista da Transnacional e “falou como testemunha no inquérito que apura pagamentos, pela empreiteira, de R$ 10 milhões a campanhas do MDB, supostamente acertados com Temer no Palácio do Jaburu, em 2014”.
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Conforme informações dos jornalistas Letícia Casado e Fábio Fabrini, os investigadores estiveram no escritório de Yunes com o militar, que reconheceu o local das entregas, no bairro Jardim Europa, em São Paulo. O depoimento embasa acusação apresentada Ministério Público Federal contra Yunes e outros aliados de Temer, que são apontados como arrecadadores de propina para o emedebista.
No último mês, o Ministério Público Federal (MPF), por meio da Procuradoria da República em Brasília, acusou os principais amigos do presidente de atuar como arrecadadores de propina para ele. Apontados como membros do chamado “quadrilhão do PMDB”, na definição do próprio MPF, o advogado José Yunes, ex-assessor especial da Presidência da República, e José Baptista Lima Filho, coronel aposentado da Polícia Militar de São Paulo, viraram réus por decisão do juiz federal Marcus Vinicius Reis, da 12ª Vara da Justiça Federal, em Brasília.
A partir das delações e dos demais elementos do conjunto probatório, procuradores acusam Yunes de ser o responsável, por mais de uma vez, pela receptação de dinheiro ilícito e posterior repasse para membros do MDB.
Em uma dessas ocasiões, segundo relato de delação premiada, a Odebrecht entregou ao advogado um pacote de dinheiro fruto de pagamentos combinados em reunião, realizada com a devida antecedência com o próprio Temer, no Palácio do Jaburu (residência oficial da Vice-Presidência da República). A verba ilícita se prestou ao financiamento de campanhas em 2014, ainda segundo a acusação.
O próprio Yunes admitiu, em depoimento a procuradores e membros da Polícia Federal, ter recebido o pacote em seu escritório em São Paulo, mas sem saber o que havia em seu interior. O advogado disse também desconhecer o remetente e a destino da encomenda, e que a repassou a Lúcio Funaro. Apontado como operador do MDB em esquemas de corrupção, Funaro, que ficou preso entre junho de 2016 e dezembro de 2017, envolveu Temer não apenas nessa investigação, mas também naquela que o apura a acusação de propina para assinar o Decreto dos Portos.
Segundo Funaro, em delação premiada, de fato houve a operação relatada por Yunes. O operador do MDB também disse ter recebido a informação de que o deputado cassado Eduardo Cunha (MDB-RJ), preso em decorrência da Operação Lava Jato e também denunciado por envolvimento no “quadrilhão do PMDB”, determinou a um de seus assessores a que pagasse propina a Temer por meio de José Yunes.
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