Carlos Augusto de Almeida Ramos, o Carlinhos Cachoeira
Preso desde 29 de fevereiro, o contraventor dono de máquinas caça-níqueis em Goiás é apontado pela PF como sócio oculto da Delta Construções. O Ministério Público o acusa de chefiar uma “organização criminosa” que corrompe policiais para manter jogos ilegais. Os crimes imputados são formação de quadrilha armada, desvio de dinheiro público, corrupção ativa e passiva, violação de sigilo funcional e advocacia administrativa. Sua defesa, patrocinada pelo ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos, o mantém em silêncio. A estratégia ainda é anular todas as provas, principalmente os grampos telefônicos, colhidas na Operação Monte Carlo, e tirar o bicheiro da prisão preventiva no Presídio da Papuda, em Brasília.
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Delta Construções e Fernando Cavendish
O ex-diretor no Centro-Oeste Cláudio Abreu mantinha estreitos contatos com Cachoeira para tratar de negócios da Delta com os governos de Goiás e do Distrito Federal. Abreu foi preso na Operação Saint-Michel, que investiga tentativa de fraudar uma licitação em Brasília. Fernando Cavendish, amigo do governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB), governo com o qual tem inúmeros negócios, até agora foi poupado pela CPI. Mas está convocado para depor agora no retorno dos trabalhos. A empresa foi declarada inidônea pela Controladoria Geral da União (CGU), acusada de pagar propinas a fiscais numa obra no Ceará. Cavendish colocou a empresa à venda, que quase foi comprada pela holding do grupo JBS Friboi, presidida pelo ex-presidente do Banco Central Henrique Meireles. Proibida de fechar novos contratos e aditivos, agora, a empresa pede na Justiça um processo de recuperação judicial. “Vou quebrar”, anteviu Cavendish em entrevista à Folha de S.Paulo. Segundo a revista Veja, ele ameaçou parlamentares de contar todos os esquemas de propinas e favores a políticos, feitos por ele e outras construtoras.
Ex-senador Demóstenes Torres (ex-DEM-GO)
Amigo do contraventor Carlinhos Cachoeira, o senador se destacou no Congresso pelo discurso no combate ao crime e à intolerância com a corrupção. Ao final, depois de constatada a sua ligação com Cachoeira, passou aos demais senadores a impressão de que seu perfil de senador não passava da constituição de um personagem. Demóstenes foi cassado porque disse no plenário não saber que Cachoeira tinha atividades ilegais, apesar de um grampo telefônico mostrá-lo alertando o bicheiro que um projeto de lei poderia “pegá-lo”, ao aumentar a punição para jogos ilegais.
O ex-senador trocou 416 telefonemas com o contraventor, de quem recebeu uma cozinha como presente de casamento. Tinha também um aparelho rádio/celular Nextel pago pelo bicheiro. Em um telefonema, pediu R$ 3 mil a Cachoeira para pagar uma despesa de táxi aéreo. Demóstenes disse aos colegas do Sendo que suas relações eram meramente particulares.
Por conta do que foi apurado pela Polícia Federal, Demóstenes responde ao inquérito 3430. O inquérito está no Supremo Tribunal Federal, porque Demóstenes era senador e tinha foro especial. Agora, com sua cassação, deve ser remetido para o Tribunal de Justiça de Goiás. Cassado, Demóstenes voltou a trabalhar como procurador de Justiça do Ministério Público de Goiás.
Marconi Perillo (PSDB), governador de Goiás
Cachoeira foi preso em uma casa no condomínio Alphaville, em Goiânia, que pertenceu a Marconi Perillo. As investigações demonstraram que Marconi recebeu três cheques da empresa de um sobrinho de Cachoeira em 2011, no valor de R$ 1,4 milhão. Os cheques pagaram a casa que o governador vendeu. Ele afirma que não olhou o emitente das ordens de pagamento e que sua intenção era negociar o imóvel com o empresário Vítor Paulo e o ex-vereador de Goiânia Wladmir Garcez. Em julho, a casa de Perillo no condomínio Alphaville em Goiânia foi escriturada.
A casa é o principal indício da ligação entre o bicheiro e o governador de Goiás, mas não o único. Em 3 de junho de 2011, Marconi ligou para Carlinhos Cachoeira, parabenizando-o pelo seu aniversário e marcando um jantar com ele na casa do senador Demóstenes Torres, o que aconteceu dois dias depois. O governador disse à CPI que os três só conversaram sobre a eventual candidatura de Demóstenes à prefeitura de Goiânia. Um mês depois, porém, em 10 de junho, uma caixa de computador, supostamente com dinheiro, tentou ser entregue no Palácio das Esmeraldas, segundo a PF. O delegado Matheus Mela Rodrigues, que comandou a Operação Monte Carlo, afirma que a caixa com R$ 500 mil chegou a ser entregue no Palácio. O governador nega o recebimento do dinheiro.
Por conta das investigações, Marconi responde ao inquérito 787/GO no STJ para apurar o caso.
Agnelo Queiroz (PT), governador do Distrito Federal
Grampos indicam que Cláudio Monteiro, ex-chefe de gabinete de Agnelo, teria recebido propina da quadrilha de Cachoeira, que queria fechar negócios da Delta no Governo do Distrito Federal. Outro que recebeu dinheiro, segundo as escutas telefônicas, foi o ex-servidor da Casa Militar João Carlos Feitoza, o Zunga. Ambos deixaram o governo do Distrito Federal após a revelação das conversas. Agnelo diz que a quadrilha tentou entrar na sua administração, mas não conseguiu.
Uma outra acusação mostra que a Casa Militar do GDF teria acessado dados confidenciais de adversários do governo, como o deputado Fernando Francischini (PSDB-PR), logo depois de ele fazer um pedido de prisão do governador Agnelo.
Por conta das investigações, Agnelo responde ao inquérito 789/DF no STJ.
Raul Filho (PT), prefeito de Palmas (TO)
Em um vídeo gravado por Cachoeira e apreendido pela PF, o prefeito de Palmas aparece negociando vantagens na prefeitura com o bicheiro. Em depoimento à CPI, ele rejeitou a influência do contraventor no seu governo. Na condição de testemunha, o prefeito de Palmas não conseguiu, porém, explicar aos parlamentares da CPI as circunstâncias do encontro que teve com Carlinhos Cachoeira em 2004. A reunião ocorreu no escritório do bicheiro em Anápolis (GO).
Raul Filho informou que na época era apenas candidato e que não sabia das atividades ilegais de Cachoeira. No vídeo gravado, Cachoeira dizia que daria o dinheiro para que Raul Filho contratasse um show do cantor Amado Batista para a sua campanha em 2004. Na CPI, o prefeito de Palmas negou que o show tenha sido pago pelo bicheiro. As explicações não convenceram os integrantes da comissão. Até o relator, Odair Cunha, que é o do mesmo partido do prefeito, disse que Raul Filho não foi firme nas declarações e se contradisse diversas vezes.
Deputado Carlos Alberto Leréia (PSDB-GO)
Amigo de Carlinhos Cachoeira. Grampos mostram Leréia cobrando do vereador Wladimir Garcez, ligado a Cachoeira e a Marconi Perillo, o depósito de dinheiro em uma conta corrente. Leréia diz que tem sociedade em um avião com o irmão do bicheiro. Responde ao inquérito 3443 no STF para apurar o caso. Uma investigação contra ele será aberta no Conselho de Ética da Câmara.
Deputado Rubens Otoni (PTGO)
Presidente do PT goiano, o deputado federal Rubens Otoni, é flagrado em vídeo numa conversa com Cachoeira. O bicheiro lembra de uma doação de campanha feita a ele, e oferece mais R$ 100 mil, desde que isso não seja declarado. Na conversa, Otoni concorda com as condições propostas por Cachoeira. Sua investigação na Corregedoria da Câmara foi arquivada e o caso não será investigado pelo Conselho de Ética da Casa.
Deputado Jovair Arantes (PTB-GO)
Pediu doação a Cachoeira à sua pré-campanha para prefeito de Goiânia. “Não tenho relação comercial com ele”, afirmou Jovair. “Sabia que ele lidava com jogo legal.”
Deputado Sandes Júnior (PP-GO)
Teve o nome citado nas investigações, em conversas que falavam de valores em dinheiro. Segundo o deputado, era um pagamento referente à rescisão de um contrato que tinha com a uma rádio de Goiânia, Rádio Positiva. Responde ao inquérito 3444 no STF para apurar o caso.
Deputado Stepan Necerssian (PPS-RJ)
Tomou emprestados R$ 175 mil de Cachoeira, segundo ele para comprar um apartamento e ingressos para o desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro. Diz que já devolveu o dinheiro. Responde ao inquérito 3445 no STF para apurar o caso.
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