Instalada há pouco mais de um mês, a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do Cachoeira terá nesta terça-feira (29) a chance de sair do impasse e, afinal, iniciar uma investigação própria, quebrando o acordão feito pela oposição e pela base na semana passada. Convocada exclusivamente para a votação de requerimentos, deputados e senadores devem hoje analisar as quebras de sigilo da Delta em todo o país e também a convocação de governadores envolvidos.
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Entre os 234 requerimentos apresentados à CPMI até sexta-feira (25), 18 dizem respeito à construtora Delta e outros 14 são relativos aos governadores do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT); de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), e do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral Filho (PMDB). Em tese, todos podem ser votados. Mas existe a expectativa que deputados e senadores se concentrem nas duas frentes.
Dentro da CPMI, cresceu nos últimos dias a possibilidade de quebra dos sigilos bancário, fiscal e telefônico da Delta, a construtora com maior número de contratos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), em todo o país. O próprio relator da comissão, deputado Odair Cunha (PT-MG), deu sinais recentes de que pode ceder e aceitar o acesso aos dados, antes restritos à operação da empresa no centro-oeste e em Tocantins.
“A pauta está aberta, todos os requerimentos estão prontos para ser votados”, informou o presidente da CPMI, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB). Porém, para isso acontecer, é preciso combinar com todos os membros da comissão. PT e PMDB defendem apenas a convocação de Perillo, assim como a restrição da quebra de sigilo da Delta na chamada área de atuação de Cachoeira.
PublicidadeMesmo com o relator petista dando sinais de que aceita uma quebra mais ampla, o líder do PT na Câmara, Jilmar Tatto (SP), disse ontem que os dados devem se restringir ao Centro-Oeste. Também afirmou que somente o governador de Goiás deve ser convocado. “O que você tem contra Agnelo e Sérgio Cabral? Nada”, afirmou.
Para Tatto, o governador do Distrito Federal é “vítima” das acusações por não ter deixado a “corrupção entrar em Brasília”. Já Sérgio Cabral, que viajou para o exterior junto com Fernando Cavendish, ex-presidente da Delta, não fez nada ilegal. “Uma festa em Paris não configura quebra de decoro”, avaliou o líder petista.
Perillo é o principal alvo
Uma análise em todos os requerimentos apresentados mostra que Marconi Perillo é o principal alvo dos parlamentares. Estão na pauta quatro pedidos de convocação para o tucano explicar suas relações com Cachoeira. Pesa contra ele a acusação de ter empregado pessoas no governo de Goiás a pedido do bicheiro. O contraventor também comprou uma casa que era do governador.
Os requerimentos de convocação foram assinados pelos deputados Filipe Pereira e Hugo Leal, ambos do PSC do Rio de Janeiro, Maurício Quintella Lessa (PR-AL) e Rubens Bueno (PPS-PR), e pelo senador Randolfe Rodrigues (Psol-AP). Para Hugo Leal, a presença se justifica pelas informações tornadas públicas recentemente, “devidamente amparadas pelas investigações da Polícia Federal”.
Mas não é apenas convocar Perillo que os integrantes da comissão querem. Adversária política do tucano em Goiás, a deputada Irís de Araújo (PMDB-GO), mulher do ex-governador Íris Rezende, apresentou dois requerimentos pedindo ao Ministério da Fazenda e ao Banco Central investigações para identificar a abertura de contas no exterior em nome do atual governador goiano.
Outro requerimento é de autoria do deputado Miro Teixeira (PDT-RJ). Ele pede a quebra do sigilo telefônico e de SMS do governador tucano. Apesar de estar na pauta, é pouco provável que esses pedidos sejam votados hoje. Se depender de PT e PMDB, em especial, apenas a convocação de Perillo será analisada, sob protestos do PSDB, que quer os três chefes de Executivo no banco da CPMI.
Pacificação
“Somente a convocação dos três governadores vai pacificar a CPMI”, disse o deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS) ao Congresso em Foco. Ele defendeu ontem que os requerimentos sejam aprovados na sessão de hoje, com a data para as oitivas ficarem mais para frente. Isso pela quantidade enorme de dados já disponíveis aos parlamentares e outros que ainda devem chegar.
Mesmo entendendo que a convocação dos três pode “pacificar a CPMI”, Onyx acredita que a sessão desta terça-feira será mais uma vez local para a disputa entre governistas e oposicionistas. A tendência, para parlamentares ouvidos pelo site, é que a tal pacificação não vai ocorrer hoje. Isso porque a maioria entende que, no momento, existem mais indícios contra Perillo do que contra Agnelo e Sérgio Cabral.
Além disso, não interessa ao governo ver um governador do mesmo partido da presidenta Dilma Rousseff na CPMI. Assim como do maior aliado, o PMDB. Neste caso, petistas e peemedebistas juntaram forças para derrubar os oposicionistas e os considerados independentes. Três requerimentos pedem a convocação de Cabral e outros quatro de Agnelo.
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