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A escolha de Humberto Costa foi uma intervenção da direção nacional. Rands disputara com João da Costa as prévias internas do partido, e foi derrotado. A vitória de João da Costa contrariava os interesses do PT e do PSB do governador de Pernambuco, Eduardo Campos. Por conta disso, houve a intervenção, e optou-se pela candidatura de Humberto Costa. Humberto, porém, não conseguiu pacificar o PT. Tanto João da Costa como Maurício Rands não gostaram de terem sido preteridos. Diante da confusão, o PSB também resolveu deixar a aliança com o PT, e lançou um candidato próprio à prefeitura de Recife, Geraldo Júlio.
Na carta, Rands protesta contra a forma, a seu ver autoritária, como a direção nacional interveio em Recife para, na sua avaliação, impor a candidatura de Humberto. E afirma que, no seu entender, o melhor nome para administrar Recife é o do candidato do PSB, Geraldo Júlio. Como isso colide com os interesses do PT, Rands anuncia a sua desfiliação do partido. Entrega também seu mandato de deputado federal, do qual está licenciado e o cargo se secretário, que ocupava no governo de Pernambuco.
Surpresa
Em nota divulgada hoje, Humberto se diz surpreso com a decisão de Rands. Segundo ele, no processo de prévias internas em Recife, Rands tivera o apoio de lideranças expressivas do partido. Quando surgiram questionamentos jurídicos relativos à filiação de pessoas ligadas a João da Costa, Rands renunciou da sua candidatura para ajudar na busca de um entendimento. Humberto afima na nota que Rands nunca demonstrara desconforto anteriormente com a solução encontrada.
Leia a íntegra da carta de Maurício Rands
“Carta ao Povo de Pernambuco
Venho aqui me comunicar diretamente com meus eleitores, companheiros, amigos e com o povo de Pernambuco, em especial com os militantes do Partido dos Trabalhadores – PT, que compartilharam comigo tantas lutas pela democracia e pela construção de uma sociedade melhor.
Nas prévias internas de definição do candidato do PT e da Frente Popular, durante dois meses, participei de intenso debate sobre o Recife e a vida partidária. Interagi com os militantes, na compreensão conjunta de que a melhoria na condição de vida na cidade é um processo de construção coletiva no qual o partido tem grande responsabilidade em servir de exemplo na demonstração de práticas democráticas. Testemunhei todo o engajamento desprendido e consciente de milhares de pessoas nesse nobre debate. Destes militantes, levarei sempre as melhores lembranças e a eles sou profundamente grato.
Depois da decisão da direção nacional do PT, impondo autoritariamente a retirada à minha candidatura à do atual prefeito, recolhi-me à reflexão. Ponderei sobre o processo das prévias e sobre o momento político mais geral. Concluí que esgotei por inteiro a minha motivação e a razão para continuar lutando por uma renovação no PT. Percebi terem sido infrutíferas e sem perspectivas minhas tentativas de afirmar a compreensão de que o “como fazer” é tão importante quanto o resultado.
As diferenças de métodos e práticas, aliás, já vinham sendo por mim amadurecidas e acumuladas há algum tempo. Todavia, esse processo recente fez com que as divergências ficassem mais claras e insuperáveis. Na luta pela renovação do partido, no Recife e em outros lugares, infelizmente, têm prevalecido posições da direção nacional, adotadas autoritária e burocraticamente, distantes da realidade dos militantes na base partidária.
No debate das prévias, minha candidatura buscou construir uma legítima renovação por dentro do PT e da Frente Popular. Mas lutamos, também, para renovar os procedimentos com o objetivo de reforçar as práticas democráticas. Porém, setores dominantes da direção nacional do PT já tinham outro roteiro que não o debate democrático com a militância do PT no Recife e a sua deliberação. Ou seja, cometeram o grave equívoco de ter a pretensão de impor, a partir de São Paulo, um candidato à Frente Popular e ao povo do Recife.
Por não terem dialogado com a militância do PT no Recife, muito menos com a Frente Popular, ignoraram que existiam alternativas, procedimentais e de quadros, dentro do partido, que unificariam a Frente em torno de uma candidatura do PT. Com a decisão da direção do PT, lamentavelmente, essa unidade resultou rompida. Diante da minha discordância com essa ruptura provocada pela direção nacional do partido, concluí que cheguei ao fim de um ciclo na minha vida de militante partidário.
É nesse quadro que comunico aqui três decisões tomadas por mim. Primeiro, a minha desfiliação do PT. Segundo, a devolução do meu mandato de deputado federal ao partido. E, por último, meu afastamento definitivo do cargo de secretário estadual do governo Eduardo Campos.
Existiram diversas razões que me levaram a este caminho. A mais crucial dá-se no nível da minha consciência. Sempre agi, na vida e na política, com o maior rigor entre o que penso e o que faço. Sempre cumpri os deveres da minha consciência.
Defendi nos debates partidários a renovação do modo petista de governar e a implantação de um novo modelo de gestão no Recife. Modelo capaz de aprofundar nossa concepção de democracia participativa e especialmente de trazer para a cidade métodos e ações que o governo Eduardo Campos vem praticando de forma exemplar e com reconhecimento inclusive internacional, mas que a administração do Recife não consegue implantar.
Minha experiência como secretário do governador Eduardo Campos foi fundamental para entender a importância da política de fazer, com formas competentes e inovadoras de gerir os recursos públicos, para atrair investimentos privados e promover a inclusão social.
Ainda nos debates das prévias, defendi a renovação das práticas e dos quadros partidários, bem como a melhoria da articulação política do governo municipal com o parlamento, os partidos da base e a sociedade civil organizada. Nesses 32 anos de militância, dediquei grande parte da minha vida a fortalecer o campo democrático-popular, lutando para aumentar a participação e a consciência política do nosso povo.
Amadureci as decisões que acabo de tomar com base em fatos altamente relevantes que impactaram minha consciência de cidadão. Entre estes, a opção da quase totalidade da Frente Popular pela indicação de Geraldo Júlio como candidato a prefeito do Recife. Trabalhei diretamente com Geraldo Júlio e sou testemunha de como ele foi central para o sucesso do governo Eduardo Campos. Acredito que Geraldo Júlio é o quadro mais preparado para atualizar e aperfeiçoar a gestão municipal do Recife. Implantando na cidade o que o governador Eduardo Campos está fazendo em Pernambuco, ele vai melhorar concretamente a vida do povo do Recife.
Como esta posição tem graves implicações para minha vida partidária, decidi que devo sair do PT e, com dignidade, devolver meu mandato ao partido. E como gesto concreto de que não se trata de um jogo menor, de barganha por espaços de poder, decidi também sair definitivamente do governo Eduardo Campos. Esse é o custo, sem dúvida elevado, de ser fiel à minha consciência cidadã. Saio da vida pública e da política partidária para exercer ainda mais plenamente a cidadania.
Recife, 3 de julho de 2012”
Leia a nota de Humberto Costa:
“NOTA DO CANDIDATO HUMBERTO COSTA
Causa surpresa a decisão do deputado Maurício Rands de renunciar ao mandato e deixar a legenda. Como candidato espontâneo nas prévias convocadas para escolher o nome do PT na eleição municipal do Recife, Rands teve apoio de lideranças expressivas do partido.
Diante do acirramento da disputa e dos questionamentos jurídicos suscitados pelas prévias, o PT nacional buscou o entendimento entre os dois pré-candidatos e Mauricio Rands renunciou às prévias em prol desse entendimento.
No processo de definição da candidatura, Rands nunca havia manifestado desconforto com as decisões partidárias. Lamento que sua decisão tenha sido tomada de maneira unilateral, sem um processo de avaliação ou discussão interna do partido.
Reafirmamos a convicção de que o atual momento deve ser dedicado à discussão dos desafios da nossa cidade. Estamos trabalhando com determinação para avançar no processo de mudanças iniciado pelo PT no Recife. Seguimos em frente com Humberto Costa e João Paulo.”
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