Nas últimas semanas, a presidenta Dilma Rousseff esteve às voltas com uma rebelião, aparentemente amainada, de sua base aliada no Congresso. Apostando no estilo “gerencial” de governo, que não privilegia o diálogo político tão característico de seu antecessor, Dilma trocou seus líderes na Câmara e no Senado, defenestrou aliados de ministérios importantes, enfrentou o todo-poderoso grupo formado pelo presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP); pelo líder do PMDB, Renan Calheiros (AL), e pelo ex-líder do governo Romero Jucá (PMDB-RR) – a cúpula peemedebista que dá as cartas no Senado -, sob o olhar atento do vice-presidente da República, Michel Temer, presidente licenciado da legenda. Nas palavras de Dilma, trata-se do abandono das “velhas práticas da política”, tática de enfrentamento que pode fazer a presidenta entrar para a história ou, na pior hipótese, “pelo cano”.
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Na linha de raciocínio de Dilma, nada melhor que um “rosto novo” para combater a velha política – e o ex-presidente Lula, na ânsia de pôr fim ao domínio tucano em São Paulo, já havia imposto ao PT o nome do ex-ministro da Educação Fernando Haddad, 49 anos, como candidato à Prefeitura de São Paulo. Neófito em termos de campanha eleitoral, Haddad não está só na “ala jovem” da eleição paulistana: o deputado federal Gabriel Chalita, seis anos mais novo (completa 43 em abril), é o candidato do principal partido aliado do PT governista: o mesmo PMDB dos senadores José Sarney, Renan Calheiros e Romero Jucá, a tríade que tão bem personifica os problemas que Dilma enfrenta no Senado.
Na última quarta-feira (28), Chalita concedeu rápida entrevista ao Congresso em Foco no núcleo das decisões no Senado, o plenário. O clima na Casa estava pesado, com os desdobramentos das denúncias que minam a cada dia a resistência e as chances de o agora ex-líder do DEM Demóstenes Torres (GO) manter-se no exercício do mandato de senador. Mesmo aparentando certa pressa, Chalita falou por pouco menos de dez minutos com a reportagem – tempo suficiente para demonstrar que, mesmo em um momento turbulento na base de sustentação, o candidato peemedebista está alinhado à “nova política” pretendida pela presidenta.
Cauteloso, Chalita disse que o fato de ser um “rosto novo”, a exemplo de Haddad, não é garantia de sucesso político. “É preciso ter um rosto novo, mas com boas propostas. Acho que, mesmo quando o próprio presidente Lula coloca essa história do rosto novo, não é nem no sentido de idade. É mostrar que chega um momento em que é preciso que novas lideranças surjam”, observou o deputado.
PublicidadeQuando perguntado sobre sua identificação com a proposta de gestão de Dilma, Chalita não hesitou em dizer que tem o perfil do novo político, sem os vícios do fisiologismo e do patrimonialismo, para citar apenas duas das mazelas da chamada política clientelista. “Há um desconforto da população, de ver que são sempre os mesmos candidatos, eles não abrem a oportunidade para que outras pessoas de outros partidos surjam. Não deixam que novas lideranças surjam”, acrescentou o deputado, que é advogado por formação, professor universitário, autor de dezenas de livros e, entre outros títulos, doutor em Comunicação e Semiótica.
Na entrevista a seguir, Chalita não nega que, em futuro não tão breve, pode vir até a disputar a Presidência da República. Mas, sempre na linha da parcimônia, prefere galgar “um degrau por vez”. Em tempo: no mesmo instante da entrevista, o presidente nacional do PSDB, deputado Sérgio Guerra (PE), rondava as dependências do Plenário do Senado. Como se sabe, o dirigente pernambucano integra o grupo tucano que vive na iminência de guerra contra o braço paulista do partido, encabeçado por José Serra, que venceu as prévias partidárias realizadas em 25 de março.
Confira os principais pontos da entrevista:
Congresso em Foco: O senhor se identifica com o perfil da nova política pretendida pela presidenta Dilma, em que pese o momento de turbulência nas relações entre PT e PMDB?
Gabriel Chalita – Acho que sim. Sou uma pessoa com muitas convicções, com ficha limpa, que tem uma boa relação com a população. Tenho também uma boa folha de serviços prestados, tenho idealismo. Acho que é isso que as pessoas querem de um político – que seja sincero, honesto. Que não minta, que não seja demagogo. Essa é a nova política que nós sonhamos em construir para o Brasil.
Então chegou a hora, na sua opinião, da nova política de Dilma?
Hoje, há um desconforto da população até, de ver que são sempre os mesmos candidatos, eles não abrem a oportunidade para que outras pessoas de outros partidos surjam. Não deixam que novas lideranças surjam. É importante que pessoas que ainda não participaram da política, comecem a participar.
O candidato tucano, José Serra, vale-se da experiência de ex-governador e ex-prefeito de São Paulo para azeitar sua candidatura. No entanto, não teve apoio expressivo internamente, nas prévias do PSDB paulista. Isso o beneficia na disputa contra Serra?
As eleições ainda estão começando, o debate ainda é muito inicial. O Serra está melhor nas pesquisas porque é mais conhecido, o que é natural. Nem eu nem o [Fernando] Haddad temos o grau de conhecimento dele, e nem grande parte dos candidatos. Mas acho que a população vai refletir muito em quem tem o melhor projeto, a melhor proposta para São Paulo. A gente vai tentar mostrar um projeto que seja viável para melhorar São Paulo.
O senhor é uma aposta, uma novidade do maior partido aliado do mesmo PT que quer eleger o prefeito de São Paulo. Nessa correlação de forças, o senhor pode ser visto como presidenciável do PMDB, na hipótese de dissidência na base e lançamento de candidato próprio, em 2014?
Vamos com um degrau por vez, não é? Vamos para a Prefeitura de São Paulo. (risos) Acho que o fato de ser um rosto novo não significa que isso ajude a ganhar eleição. É preciso ter um rosto novo, mas com boas propostas, bons projetos. Acho que, mesmo quando o próprio presidente Lula coloca essa história do rosto novo, não é nem no sentido de idade. É mostrar que chega um momento em que é preciso que novas lideranças surjam.
O fato de o governo ter conseguido avançar na Lei Geral da Copa significa que a crise na base acabou?
Tomara. Espero que todos nós estejamos juntos para que o Brasil seja melhor.