A ex-senadora Marina Silva (ex-PT e ex-PV) e um grupo aliados anunciaram neste sábado (16), em Brasília, a criação do partido Rede Sustentabilidade. O anúncio foi feito aos gritos de “Partido, urgente, Marina pra presidente!”. Se conseguir as assinaturas necessárias exigidas por lei, a Rede será o 31º partido brasileiro. A exemplo do Democratas (DEM), a nova legenda não terá o nome de “partido”. O evento contou com a participação de políticos do PT, PSDB e PV.
A agremiação partidária, liderada por Marina Silva, que pretende candidatar-se a presidente em 2014, tem com o propósito de fundar “uma nova política”, pela contestação de velhas práticas eleitorais e concepção de uma nova conduta político-partidária. Ao anunciar o nome do partido, Marina fez questão de ressaltar o caráter de espontaneidade das adesões, de forma a enfatizar o caráter de contraposição às antigas estruturas partidárias. “Nós temos um DNA, que é a sustentabilidade”, resumiu, estendendo o termo à prática política, aos modelos de desenvolvimento, à questão ética e às demais intervenções do homem em sociedade. “Agora, nosso nome, e nós vamos registrar, é Rede, porque nós não vamos ficar se travestindo daquilo que a gente não é. Se não fôssemos uma rede, não teríamos aqui hoje mais de mil pessoas que, do dia 25 pra cá, se organizaram pelo país chegando aqui pagando sua própria passagem, por seus próprios meios”, acrescentou Marina.
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Ao fim do discurso, ela foi ovacionada e, em seguida, ouviu gritos de guerra como “um dois três, quatro, cinco, mil, a Rede é do Brasil!”. Na sequência, pedaços de tecido simbolizando redes foram distribuídos no auditório e uniram os militantes da nova legenda, enquanto um globo inflável gigante era jogado de um lado para o outro, sobre suas cabeças, ao som da música “A rede”, de Lenine.
Sugestões na internet
O nome do partido foi fruto de sugestões em fóruns da internet, de maneira que, como queria Marina Silva, o “movimento” – outra denominação benquista da ex-ministra – já nasce marcado pela irrestrita participação popular. Em uma das definições que tentou fazer sobre o novo partido, Marina deu um recado nas entrelinhas aos políticos tradicionais, ao fazer a referência histórica do “presente de grego”. “Não somos oposição, nem situação. Somos um paradoxo. É como se fôssemos um cavalo de Tróia dentro do sistema partidário”, disse, em menção ao episódio da batalha entre gregos e troianos.
Minuta do estatuto do novo partido
PublicidadeNo “manifesto político”, os fundadores do partido destacam: “Somos um país soberano e independente, mas com pouca capacidade de interferir nos fóruns e mercados globais. Um país rico, livre e plural, mas com graves indicadores de violência, desigualdade e pobreza. Somos a sétima economia do mundo, mas não conseguimos dar educação de qualidade e garantir bom atendimento de saúde para todos”.
Movimento
No início do evento, Marina fez um breve debate acomodada em uma estrutura de base circular posta no meio do auditório, entre uma espécie de arquibancada com personalidades diversas e convidados do outro lado. Ela insistiu na diferenciação de seu “movimento” em relação às demais e estruturas político-partidárias. Para Marina, que já integrou PT e PV, o importante é que ela e seus correligionários sejam vistos como a negação das velhas práticas partidárias, que dão margem ao fisiologismo, à troca de favores, ao patrimonialismo. E, de maneira geral, à corrupção.
“Será um erro muito grande se deixarmos de nos identificar com o movimento. Tem pessoas desse movimento que vão continuar no PV, no PT, no PSDB, etc. Nós vamos continuar sendo um movimento”, acrescentou a ex-ministra do Meio Ambiente no governo Lula, lembrando que apenas “alianças pontuais” serão admitidas na nova legenda. “Somos diferentes, não somos a mesma coisa.” Marina, que chefiou o Ministério do Meio Ambiente entre 2003 e 2010, manteve a linha de contestação à política petista. “Se a presidenta Dilma estiver fazendo algo bom para o país, nossa posição vai ser favorável. Se o governo tiver decisões contra o Código Florestal, por exemplo, nossa posição será contrária.”
O encontro está em curso em uma casa de eventos em Brasília, a cerca de três quilômetros do Congresso. Participam da cerimônia dezenas de políticos de diversos partidos, além de artistas, jornalistas e demais formadores de opinião. Em telões posicionados nas laterais do auditório, foram veiculadas mensagens de nomes como Gilberto Gil e o ator Wagner Moura, eternizado como o “Capitão Nascimento” do filme Tropa de elite.
Soldado de Marina
Ex-senadora e uma das fundadoras do PSOL, Heloísa Helena foi a mais ovacionada durante o evento. Com discurso marcado pelo forte sotaque nordestino, ela caprichou na menção à possibilidade de Marina voltar a disputar a Presidência da República, mesmo tendo ressaltado “que ela [Marina] não gosta” de antecipar a candidatura. “Todas as vezes em que as pessoas dizem que ‘não é o partido da Marina’, que não aceitam o messianismo, o personalismo, eu quero dizer que, em tese, eu estou com essas pessoas”, iniciou a ex-presidente do PSOL.
Mas Heloísa afirmou que era, orgulhosamente, um soldado de Marina. “Mas quero dizer também que, como sou de uma família de muitas mulheres maravilhosas, guerreiras, que não foram em seus corações tocadas pela inveja maldosa, quero dizer que me sinto muito feliz em ser soldado conduzido por você, minha querida Marina Silva! Muito feliz com essa possibilidade de ter uma mulher do povo, uma guerreira como você, Marina silva, como capitã dessa pequena canoa que vai desbravar tempestades em alto mar.” Logo depois Heloísa deu longo abraço em Marina, sob ovação generalizada.
Domingos
Participaram do evento, entre outros, Domingos Dutra, um dos fundadores do PT e deputado federal pelo Maranhão que já anunciou que estará no novo partido; Aspásia Camargo, deputada estadual pelo PV do Rio de Janeiro; deputado federal Walter Feldman (PSDB-SP); Ricardo Young, vereador pelo PPS de São Paulo; e Jefferson Moura, vereador do Psol do Rio.
O deputado federal Alfredo Sirkis (PV-SP) também é um dos correligionários do novo partido, e enviou carta lida no evento pelo filho, Guilherme Sirkis, em que destaca o entusiasmo quanto à rede democrática capitaneada por Marina Silva. “Não estou estimulando ninguém do PV a me acompanhar individualmente muito menos liderando alguma dissidência. O PV continua a ser programaticamente o mais avançado dos partidos brasileiros, foi o único a votar, de forma unanime, em defesa do Código Florestal”, diz Sirkis, no mais recente artigo publicado no Congresso em Foco.