Termo cunhado pelo pensador alemão Ludwig August von Rochau no século XIX, a realpolitik explica os momentos em que os governantes valem-se apenas de considerações práticas e estratégias oportunistas para tomar suas decisões, abandonando as noções e convicções ideológicas. Ao decidir trocar Cândido Vaccarezza (PT-SP) por Arlindo Chinaglia (PT-SP) na liderança do governo, a presidenta Dilma Rousseff, na avaliação de deputados ouvidos pelo Congresso em Foco, ficou na linha da definição de von Rochau. Disposta a dar uma resposta ao PMDB à altura da chantagem pretendida após a derrota na indicação de Bernardo Figueiredo para a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), Dilma decidiu-se a tirar o senador Romero Jucá (PMDB-RR) da liderança do governo no Senado. Mas apenas tirá-lo seria um ataque muito direto ao grupo de Jucá, comandado pelo presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP) e pelo líder peemedebista no Senado, Renan Calheiros (AL). Para diluir o ataque, Vaccarezza acabou virando bode expiatório: saiu também.
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Não que Dilma morresse de amores por Vaccarezza. “Ela não tinha nenhum motivo concreto agora para tirá-lo, mas a verdade é que o prazo de validade de Vaccarezza já tinha vencido também”, afirma um importante parlamentar do PT. Os problemas com Vaccarezza remontam ainda do início do ano passado, depois da derrota sofrida pelo governo na primeira votação do Código Florestal na Câmara. Mas ele não tramou deliberadamente uma derrota. E Dilma tem convicção de que Jucá ajudou na armação para barrar Bernardo Figueiredo na ANTT.
Se Dilma, porém, apenas afastasse Jucá estaria declarando claramente uma guerra a um importante grupo da sua base de sustentação. Ela precisava de um argumento público para rebater essa intenção. Aí, veio a ideia de rodízio no cargo. Por ela, Dilma pode fazer o discurso de que a saída de Jucá não foi algo pessoal, mas apenas consequência de uma mudança de estratégia: se haverá um rodízio, os atuais líderes, naturalmente, têm de dar lugar a novos líderes. Mas aí era preciso trocar não apenas Jucá, mas também o líder na Câmara. Como Vaccarezza já não era mesmo o líder dos sonhos de Dilma, saiu também, embora já não fosse agora algo previsto. “A saída de Vaccarezza surpreendeu todo mundo”, disse um dos vice-líderes do governo na Câmara, Osmar Serraglio (PMDB-PR).
Avião sem piloto
Reforça a interpretação de compensação o fato de que houve um intervalo de aproximadamente cinco horas entre Vaccarezza anunciar, em entrevista coletiva, que não era mais o líder do governo na Câmara e Dilma indicar o substituto. “A única coisa que é possível imaginar é uma possível compensação, para evitar uma nova rebelião dos aliados”, disse um deputado governista ao Congresso em Foco.
Durante o tempo em que o governo ficou sem líder, a expressão mais repetida entre os deputados era de que o governo, na sua relação com o Congresso, virara um “avião sem piloto” entre os governistas. Em reunião de Vaccarezza com os vice-líderes, houve uma “sensação de perda”, conforme relatou um deputado. A decisão de trocar a liderança ocorreu na segunda-feira (12). Até então, o petista não tinha ideia do que o esperava. Foi alertado pelas notícias na internet. Teve certeza após receber uma ligação do chefe de gabinete da presidenta, Giles Azevedo. E recebeu a notícia da própria Dilma ontem pela manhã.
Para governistas, Vaccarezza vinha conseguindo manter a bancada sob controle. Desde o ano passado, o governo conheceu praticamente vitórias. A única derrota foi na Emenda 164 do Código Florestal, aprovada contra a vontade do Palácio do Planalto. O texto, entre outras coisas, regulariza a situação de ocupações ilegais em áreas de preservação permanente (APPs). A modificação acabou derrubada pelo Senado.
Mesmo assim, a derrota na votação do Código Florestal é classificada como uma briga de ambientalistas contra ruralistas, fora da disputa entre governo e oposição. “Aquela derrota não conta, foi uma outra disputa”, lembrou outro vice-líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE). Para ele, o novo líder está dentro da “perspectiva da bancada” por reunir as qualidades para exercer o cargo.
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