Com o adiamento do depoimento do bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, previsto para ontem (15) na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do Cachoeira, o plano B dos parlamentares veio à tona. Nas investigações, eles querem seguir o rastro deixado pelo dinheiro pelo contraventor e das empresas ligadas ao esquema, especialmente a Delta Construções. A ideia é, a partir da quebra de sigilo bancário, rastrear caminhos que saiam da construtora, de outras empresas do esquema e que eventualmente parem no bolso de políticos e administradores públicos.
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Durante toda a segunda-feira (14) e ontem (15), os discursos pareciam afinados entre governistas e oposição. Parlamentares integrantes da comissão ressaltavam que a CPMI do Cachoeira é “diferente” e que “começa de trás para frente”. Os argumentos se justificam, na visão de deputados e senadores, pela quantidade de informações já disponíveis até o momento. O fato concreto que motivou a criação da investigação do Congresso foram as Operações Vegas e Monte Carlo, da Polícia Federal, que resultaram na prisão de 82 pessoas.
Entre os presos, está Carlinhos Cachoeira, acusado de explorar o jogo ilegal em Goiás. A partir da prisão, vieram à tona suspeitas em torno do relacionamento do contraventor com uma série de políticos. Em especial, o senador Demóstenes Torres (sem partido, ex-DEM-GO), que agora enfrenta um processo por quebra de decoro parlamentar no Conselho de Ética do Senado. Também apareceram as ligações de Cachoeira com a Delta Construções.
E é nela, na opinião de parlamentares ouvidos pelo Congresso em Foco, que reside um dos principais focos da investigação. Saber qual caminho fez o dinheiro da construtora é fundamental. A partir da quebra dos sigilos bancário e fiscal da Delta, os parlamentares poderão saber se o dinheiro da empresa chegava, por exemplo, ao caixa 2 de campanhas de políticos ou no bolso de administradores públicos responsáveis por licitações ganhas pela construtora. Um caminho provável: se a Delta, conforme as investigações, valia-se do esquema de Cachoeira para vencer licitações e se Demóstenes era peça integrante desse esquema, o raciocínio tem sentido. Mas precisa ser comprovado. É nisso que parlamentares da CPI pretendem se empenhar.
Publicidade“Siga o dinheiro e chegarás ao criminoso”, afirmou o líder do PSDB no Senado, Álvaro Dias (PR), lembrando da famosa frase do caso Watergate (clique aqui para ler sobre a frase e o caso Watergate). O tucano defende que os sigilos da Delta sejam quebrados. E que a CPMI se debruce nas informações das Operações Vegas e Monte Carlo remetidas pela Justiça Federal e pelo Supremo Tribunal Federal (STF). “O depoimento é parte da investigação, mas temos muito material para analisar”, disse.
A mesma opinião tem o senador Pedro Taques (PDT-MT). Procurador da República licenciado, ele disse que é “preciso avançar” na produção e análise de provas documentais. “A prova testemunhal não é a melhor prova”, opinou.
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Ontem (15), durante a sessão administrativa realizada pela comissão, Taques voltou a cobrar uma retomada no rumo da investigação. Após os parlamentares aprovarem um requerimento pedindo explicações por escrito do procurador-geral da República, Roberto Gurgel, ele ressaltou: “Precisamos saber do envolvimento da Delta”.
Cruzamento
O lema “Siga o dinheiro” não está apenas na cabeça dos oposicionistas. Para o líder do PT no Senado, Walter Pinheiro (BA), suplente da CPMI, mesmo com o depoimento do Cachoeira ficando para a próxima semana, em 22 de maio, a estratégia continua a mesma: é preciso fazer o cruzamento e análise de todas as informações coletadas até agora. Dentro da comissão, cresce a pressão para que sejam aprovados requerimentos para investigar a Delta. Tais requerimentos deverão ser votados na sessão administrativa da CPI marcada para amanhã (17).
“Já deveríamos ter aprovado o bloqueio dos bens da Delta. Até mesmo para evitar a realização de negócios”, disparou o senador Randolfe Rodrigues (Psol-AP). “Cadê a quebra do sigilo bancário da Delta, do senhor Canvendish (presidente da Delta)? Isso precisa estar na pauta para a gente começar a trabalhar”, completou o líder do PPS, Rubens Bueno (PR).
Sem prejuízo
Logo após a decisão do ministro do STF Celso de Mello, que adiou o depoimento de Cachoeira, o relator da CPMI, deputado Odair Cunha (PT-MG) informou que o calendário de oitivas não será prejudicado. Para ontem (15), existia a possibilidade de os procuradores da República Daniel de Rezende Salgado e Lea Batista de Oliveira, responsáveis pela Operação Monte Carlo, prestassem depoimento. “Não haverá prejuízo para a CPI”, garantiu.
No entanto, haverá um novo atraso na oitiva dos procuradores. Inicialmente prevista para a semana passada, os depoimentos acabaram adiados pela extensão do depoimento do delegado Matheus Mella Rodrigues, responsável pela Operação Monte Carlo. Agora, com a primeira audiência marcada pela Justiça Federal em Goiânia, eles só devem comparecer à comissão em junho.
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