Na entrevista que concedeu à edição desta semana da revista Veja, a presidenta Dilma Rousseff fez questão de minimizar o tamanho da crise que enfrenta no relacionamento com sua base de sustentação. No esforço que faz, a presidenta diz que os problemas, as trocas de líderes e as seguidas derrotas são apenas contingência do processo democrático. No Palácio do Planalto, as declarações dos assessores de Dilma acontecem no mesmo diapasão.
Basta, porém, atravessar a rua que divide o Palácio do Planalto para o Congresso Nacional para que o discurso mude, mesmo entre os aliados mais próximos do governo. O presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), avaliou esta semana que a mudança dos líderes no Congresso aconteceu no pior momento. “Quando não se tem acordo de um ponto importante, que é o novo Código Florestal e onde há uma vontade de parcela significativa dos deputados em votar a matéria, é obvio que isso vai em cadeia tomando conta de todos os debates e discussões na Casa”, avaliou o presidente da Câmara.
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O novo líder do governo no Senado, Eduardo Braga (PMDB-AM), deixou escapar numa conversa em Manaus saudades do ex-presidente Lula. E, efeito prático mais evidente de que as coisas não seguem seu ritmo normal é que todas as votações de interesse do governo encontram-se paralisadas tanto na Câmara como no Senado, e a ordem do próprio Planalto é que tudo permaneça assim pelo menos até após a semana da Páscoa.
A história de uma crise, em capítulos
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Proximidade das eleições
O único ponto comum na avaliação sobre a crise que é feita tanto de um lado como do outro da Esplanada dos Ministérios é que a proximidade das eleições municipais agrava a situação. Levantamento do portal UOL aponta que 137 parlamentares, entre deputados e senadores, podem se candidatar em outubro. Tal situação faz aumentar a pressão sobre o Executivo. É importante para esses candidatos conseguirem a liberação de emendas e a aprovação de seus projetos para que possam usar como trunfo político. Cargos no Executivo também ajudam na hora de disputar um pleito. Enfim, tudo o que Dilma tem recusado.
A intervenção firme do ex-presidente Lula na disputa eleitoral em São Paulo, forçando a candidatura do ex-ministro da Educação Fernando Haddad é outro ponto mencionado. A escolha de Haddad fez com que outros petistas ficassem pelo caminho – o caso mais notório é a senadora Marta Suplicy (PT-SP). Além disso, a decisão de José Serra de entrar na disputa aparentemente minguou as chances de Haddad. Para fortalecê-lo, começaram a acontecer ações que diminuíssem as possibilidades de outros candidatos no lado dos aliados, especialmente Gabriel Chalita, do PMDB. A própria entrada do ex-senador Marcelo Crivella no Ministério da Pesca foi interpretada como uma ação para neutralizar Chalita – o PRB, partido de Crivella, tinha acabado de fechar apoio ao candidato peemedebista. O vice-presidente Michel Temer, principal liderança do PMDB, só ficou sabendo da nomeação de Crivella pela TV. “A eleição em São Paulo acabou se juntando aos temas polêmicos aqui e contaminando tudo”, endossou um deputado da base governista.
Se Dilma não mudar, nenhuma mudança adianta
Para os deputados e senadores, no entanto, os problemas estão mesmo ligados à forma como Dilma relaciona-se com o meio político. A escolha para presidenta da República foi a primeira experiência eleitoral de Dilma. As regras e o modus operandi da política eleitoral nunca fizeram parte do mundo de Dilma até ela ocupar o principal gabinete do terceiro andar do Palácio do Planalto.
“Enquanto ela não mudar, não adianta trocar as peças”, reclama um parlamentar do PTB. Após as derrotas da semana, voltou-se a cogitar a saída das ministras das Relações Institucionais, Ideli Salvatti. “Ela não é o Lula. Se pensam que ela vai receber os 513 deputados e 81 senadores, estão enganados”, afirmou um deputado petista. Segundo o parlamentar, a presidenta tem uma forma diferente de fazer política. Trata apenas com líderes ou presidentes de partidos. E também pensa mais nos resultados, sem se preocupar em agradar diferentes alas partidárias.
De fato, em toda a história de Dilma na Presidência da República, há episódios de insatisfação das estruturas tradicionais dos partidos. Ainda na campanha, ela teve problemas com a direção do próprio PT. Todos os processos de demissão de ministros acusados de corrupção no primeiro ano de governo geraram novos desgastes. O Congresso em Foco historiou os principais momentos dessa tensa relação de Dillma com os políticos da sua base de sustentação. Clique abaixo para ler, em 12 capítulos, a história da crise da presidenta com sua base.
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