Sem contar com o apoio explícito de Eduardo, ele deposita todas as suas esperanças no apoio de parlamentares insatisfeitos com a concentração de poder nas mãos de “meia dúzia” no Congresso e que querem mudança. “Há um sentimento na Casa de que é importante tentar fazer algo diferente. O instrumento dessa tentativa é muito mais um nome novo, que representa mudança, do que um nome que representa o continuísmo”, afirma, em alusão a Henrique, deputado em 11º mandato e líder do PMDB há sete anos.
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Júlio lançou oficialmente sua candidatura no dia 20 de dezembro, com a divulgação de uma carta assinada pela bancada do PSB na Câmara. A direção nacional do partido, inclusive Eduardo Campos, nunca se manifestou em relação à candidatura. Nada que o desanime, garante. “O Eduardo Campos não me pediu para retirar a candidatura, nem me desestimulou. A direção do PSB não deliberou a respeito da nossa candidatura, mas há pessoas da Executiva Nacional colaborando”, afirma o deputado.
Eduardo Campos
Atual quarto-secretário da Câmara, Júlio reconhece que gostaria de ter o apoio explícito do governador de Pernambuco e diz ter duas explicações para o não engajamento dele em favor de sua candidatura. A primeira hipótese, diz ele, é que Eduardo Campos não quer ter o ônus de uma eventual derrota do PSB na disputa pela presidência da Câmara nem ser acusado de interferir num processo do Legislativo. Essa acusação ocorreu em 2011, quando o governador se envolveu diretamente na eleição de sua mãe, a ex-deputada Ana Arraes, para o Tribunal de Contas da União (TCU). Na época, Ana também recebeu o apoio velado de Henrique Eduardo Alves, comenta-se ainda hoje no Congresso.
A outra hipótese, continua Júlio Delgado, é que o governador, cotado para a sucessão presidencial, não quer se indispor com a presidenta Dilma Rousseff, que apoia a candidatura de Henrique Alves. “Se ele entrasse de cabeça, o próprio governo poderia ver esse gesto como uma reafirmação de candidatura para 2014”, avalia Júlio. “Somos da base, temos compromisso com o governo. Não vamos fazer um processo de enfrentamento agora. O governo poderia reagir e essa intromissão poderia ser confundida”, acrescenta.
Para Júlio, a eleição de um presidente da Câmara fora dos quadros do PMDB seria a opção mais “saudável” para o governo Dilma. “A vitória de outro partido da base pode fazer com que esse poder seja distribuído mais equitativamente”, defende. Ainda sem adversários, o líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL), prepara-se para assumir a presidência da Casa, em eleição marcada para o dia 1º de fevereiro.
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Decisão de cúpula
Henrique Eduardo Alves tem o apoio declarado das maiores bancadas, como o PMDB, o PT, o DEM e o PSDB. Mas Júlio insiste que a aliança foi costurada apenas pelos líderes e tem causado desconforto nas bases partidárias, que, silenciosamente, pretendem dar o troco na hora do voto. Ele também acusa o adversário de oferecer cargos na Mesa Diretora em troca de apoio. Na avaliação dele, essa onda de insatisfação mostra que há, sim, um desejo por mudança na Casa. E é esse anseio que ele tenta capitalizar.
“O favorito recebeu apoio institucional de vários partidos. Mas o apoio foi decidido por um número minoritário de parlamentares. Há muita gente dentro dos partidos que não está satisfeita com essa mesmice”, afirma. “Estamos construindo ainda uma proposta, o que mostra que nossa campanha tem faceta diferenciada. A proposta não é minha, não é de um partido, mas construída coletivamente para ser executada coletivamente”, acrescenta.
Desafios e polêmicas
O principal desafio, afirma, é reaproximar a sociedade do Parlamento. Entre os compromissos assumidos pelo candidato até agora, estão a garantia de voto à bancada feminina nas reuniões de líderes, a adoção de mecanismos que priorizem a inserção de projetos de parlamentares na pauta do plenário e a votação de propostas independentemente da existência de consenso ou não sobre o tema.
Já do ponto de vista administrativo, ele acena com uma proposta que seduz os parlamentares: a construção de um novo prédio para abrigar os 84 deputados instalados em gabinetes de qualidade inferior, sem banheiro, no chamado Anexo III. Segundo ele, a medida não implicaria gasto algum para a Casa: bastaria fazer o Banco do Brasil cumprir um acordo que, de acordo com o deputado, foi costurado na gestão de Arlindo Chinaglia (PT-SP).
Pelo acordo, que garantiu ao Banco do Brasil assumir a folha de pagamento da Câmara, a instituição cederia o dinheiro para a construção do chamado Anexo V. “Temos de equilibrar os gabinetes dos deputados que vivem em condições piores que a sua sala de trabalho. Isso segrega, divide, coloca a categoria por deputado”, defende.
Outro assunto polêmico do qual o deputado promete não fugir é a cassação do mandato dos deputados condenados no julgamento do mensalão. Diferentemente de Henrique Alves, que diz não aceitar que o Supremo Tribunal Federal (STF) determine a perda de mandato dos parlamentares, Júlio Delgado afirma que é preciso aguardar a decisão final dos ministros. “Há uma interpretação errada. Não se contesta decisão final do STF. Mas ainda não houve decisão final. Temos de aguardar a publicação do acórdão”, diz o deputado em entrevista exclusiva ao Congresso em Foco.
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