Com sentença de 12 anos e um mês de cadeia que deveria ter sido iniciada às 17h desta sexta-feira (6), o ex-presidente Lula desistiu há pouco de fazer o discurso que marcaria os últimos instantes de liberdade do primeiro ex-presidente da República preso em período democrático. Lula está desde ontem (quinta, 5) rodeado de correligionários, parlamentares de outros partidos, movimentos sociais, sindicalistas e, claro, a militância petista, que há mais de 24 horas se aglomera nos arredores do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo. Seria o último ato de Lula em um cenário repleto de gente rumo à solitária reclusão do cárcere, na Superintendência da PF em Curitiba, mas o petista passou mal durante a tarde e até desistiu de discursar à massa. Resolveu também que não se entregará às autoridades hoje, nos termos da ordem de prisão emitida pelo juiz federal Sérgio Moro.
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Lula, segundo informações repassadas por correligionários que o acompanham, irá a uma missa que marca o aniversário de sua esposa, Dona Marisa, que morreu em 3 de fevereiro de 2017. Depois disso, embora negociações com a Polícia Federal continuem, ele deve se apresentar às autoridades em São Bernardo do Campo, onde dormirá cercado de companheiros. Segundo informações de bastidor, a PF não fará operação para prender o petista nesta sexta-feira.
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Poucos minutos antes do horário previsto para o discurso de Lula, o deputado José Geraldo (PT-PA) disse ao Congresso em Foco que novas reuniões vão se desenrolar de hoje para amanhã, e que há a chance de que o ex-presidente só se apresente na próxima segunda-feira (9). Mas nada de discurso, antecipou. “Está complicado para [Lula] sair do prédio, para chegar até lá embaixo. Tem muita gente conosco. Todos os andares do prédio estão tomados por gente. Ele está muito cansado”, relatou o parlamentar.
Segundo informações do site Universa a partir de relatos do médico do petista, Lula está abatido e com pressão alta. Aos 72 anos, o ex-presidente está no sindicato desde ontem (quinta, 5) e por lá dormiu, de maneira que se desgastou de ontem pra hoje. “Ele está muito emocionado. É diabético e a pressão está alta”, explicou o médico Gustavo Johnen.
Ou seja, o petista não se apresentou para o início da pena no horário imposto pelo juiz federal Sérgio Moro, que o condenou a nove anos e seis meses e viu sua pena aumentada. Responsável pelo julgamento em primeira instância, o responsável pela Operação Lava Jato em Curitiba considerou a natureza inédita da situação, que envolve a prisão de um ex-chefe de Estado, e mantém a PF em negociações com a defesa de Lula, de maneira a prendê-lo da maneira menos traumática.
“A ideia é evitar qualquer tipo de confronto”, sintetizou o delegado Igor Romário de Paula, chefe da unidade de combate ao crime organizado da Polícia Federal no Paraná. A declaração do policial foi feito pouco antes do encerramento do praxo fixado por Moro.
Livre e localizado
Segundo a 13ª Vara Criminal, de São Bernardo, o fato de Lula não ter se apresentado no horário descrito por Moro não quer dizer que ele descumpriu ordem judicial. A assessoria de imprensa explica que o juiz federal apenas deu a oportunidade para que Lula se entregasse livre e tranquilamente, por “deferência” em razão do cargo que ele ocupou, e que preferiu não usar a força para fazer sua decisão ser cumprida.
Ainda segundo a assessoria, o fato de todo o país saber onde Lula está e o transcurso das negociações de sua defesa com a PF significa que Lula não é considerado procurado ou foragido. Para a Vara, sequer o cordão humano que se forma no sindicato é considerado demonstração de resistência à prisão, e isso só seria configurado se agentes, por exemplo, fossem destacados para prendê-lo e não o encontrassem no local.
Inicialmente, depois de muita negociação sobre a estratégia a ser tomada pela cúpula petista, ficou decidido que o ex-presidente só se entregaria depois de discursar. Mas, com o transcurso das horas e depois de diversos pronunciamentos de aliados, que pareciam introdução para a fala de Lula, ficou decidido que não iria ao carro de som transformado em palanque. Poucos segundos antes das 17h, a militância iniciou uma contagem regressiva para marcar o encerramento do prazo final dado por Moro.
Serenidade x tensão
Mais cedo, como o Congresso em Foco mostrou, o clima de tensão dentro e fora do Sindicato dos Metalúrgicos, que está cercado por milhares de militantes e sindicalistas, contrastava com a tranquilidade que Lula, no relato de quem o acompanha no local, demonstra a todo instante. Segundo parlamentares petistas ouvidos pela reportagem, Lula demonstrou desde o início a intenção de negociar sua apresentação, como também preferia sua defesa jurídica, mas alguns de seus correligionários defendiam a resistência. De olho em uma possibilidade de habeas corpus na próxima semana, no Supremo Tribunal Federal (STF), advogados de Lula têm esperança em conseguir evitar a prisão, desde que a ordem judicial não seja desrespeitada – o que estaria configurado em caso de resistência por parte do petista.
A hipótese de ida de Lula para Curitiba, como consta da ordem de prisão, foi prontamente descartada pelos petistas mais radicais. “Essa alternativa não nos interessa. Se eles querem prender o Lula eles têm que vir aqui, na frente do povo, e pela segunda vez invadir o Sindicato [dos Metalúrgicos], na frente de todo mundo, dessa massa que não quer deixar Lula só”, declarou Linbergh Farias (RJ), líder do PT no Senado, que esteve com Lula em São Bernardo do Campo desde o início da vigília. “É uma Justiça completamente seletiva!”
“Não vamos aceitar essa canalhice dessa prisão ilegal! O Moro levou 22 minutos para despachar, de maneira criminosa, ilegal, odiosa essa perseguição ao presidente Lula. Nosso povo vai resistir!”, bradou o líder do PT na Câmara, Paulo Pimenta (RS), em vídeo gravado ao lado de Lindbergh ontem.
O vice-líder do PT na Câmara Carlos Zarattini (SP) disse mais cedo ao Congresso em Foco que Lula esteve tranquilo durante todo o tempo da mobilização petista. Já o deputado Valmir Prascidelli (PT-SP) lembrou que o cacique petista esteve reunido com a família e chegou a avaliar a possibilidade de se entregar em São Paulo ou esperar a PF ir ao sindicato para só então conduzi-lo à capital paranaense.
Alguns deputados disseram que a opinião da maioria dos líderes do partido era de “engrossar o caldo” e deixar a apresentação de Lula para semana que vem. A resistência à ideia partiu, principalmente, da defesa de Lula. Uma comitiva para acompanhar a ida do ex-presidente à PF em São Paulo também chegou a ser considerada. Em quaisquer das hipóteses, a principal preocupação da cúpula do PT é proteger e reforçar a imagem de seu líder máximo.
Estrutura
Mais cedo, o chefe de custódia da Superintendência da Polícia Federal em Curitiba (PR), Jorge Chastalo, deu detalhes sobre o planejamento da prisão. De acordo com Jorge, a corporação previu alternativas de escolhas de Lula para a detenção e montou uma estrutura adequada para a opção do petista. Mais cedo, como este site mostrou, já havia sido descartada a ida para Curitiba.
Se a escolha for uma viagem a jato até Curitiba, em um avião particular, o Jorge informou que agentes da PF estão de prontidão, no aeroporto Afonso Pena, para transportá-lo até a Superintendência da corporação. Esse traslado será por meio de helicóptero. Em caso de descumprimento da decisão, que fixou apresentação até 17h, o policial federal lembrou que fica a cargo da PF “executar a medida [de prisão] no momento em que achar oportuno”.
Um avião da PF já está à disposição de Lula em São Paulo para levá-lo a Curitiba, caso a defesa do ex-presidente resolva apresentá-lo na capital paulista, alternativa que também requer uso do helicóptero para o translado. Já considerando a hipótese de extrapolação do horário judicial, o próprio agente previu que o mandado de prisão só deveria ser cumprido depois da 18h.
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