Segundo Janot, delações premiadas e provas reunidas nos autos do inquérito são suficientes para apontar indícios mínimos para sustentar a denúncia. Tanto Gleisi, uma das principais defensoras da presidente Dilma Rousseff no processo de impeachment, quando Paulo Bernardo negam a prática de crime que lhes é atribuída (veja as notas de ambos abaixo).
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A partir da provocação de Janot, caberá ao ministro Teori Zavascki, relator da Lava Jato no Supremo, levar a denúncia à apreciação da Segunda Turma do STF, colegiado com cinco juízes da corte máxima. Caso esses magistrados decidam acatar a demanda do PGR, os três acusados passam à acusação de réus, fase conclusiva da investigação judicial – coleta de provas, testemunhos e diligências são procedimentos típicos desse estágio investigatório. O processo corre no Supremo porque Gleisi possui foro privilegiado na condição de senadora, de maneira a abarcar Paulo Bernardo e Ernesto no enredo de seu caso.
No pedido de abertura de ação penal, a Procuradoria-Geral da República acusa Gleisi de ter recebido R$ 1 milhão, na forma de propina, do esquema de fraudes em contratos de grandes empreiteiras com a Petrobras. O objetivo do repasse era financiar a campanha da senadora nas últimas eleições para o Senado.
Delação
Dois personagens centrais do sistema de corrupção mencionaram o suposto suborno a Gleisi – o doleiro Alberto Youssef, um dos principais operadores das movimentações financeiras fraudulentas, e o ex-diretor da estatal Paulo Roberto Costa, elo entre políticos e a empreiteiras na petrolífera. Ambos já foram condenados pelo juiz federal Sérgio Moro e estão entre os beneficiados por terem colaborado com a Justiça. Segundo os delatores, o montante foi repassado a Gleisi a pedido de Paulo Bernardo, à época na chefia do Planejamento.
Ernesto Kugler também pediu os valores para Gleisi, segundo o relato de Youssef. O empresário nega qualquer tipo de atuação na campanha da senadora petista.
Um outro delator da Lava Jato, que firmou delação premiada mais recentemente em relação a Youssef e Paulo Roberto, declarou ter transportado a propina em espécie, em quatro viagens de São Paulo para Curitiba, para ser entregue a Gleisi. Antonio Carlos Pieruccini, incluído entre os investigados, disse ter entregado o montante a Ernesto Kugler.
“Indagado acerca dos fatos constantes do anexo 01 (senadora Gleisi Hoffmann) afirmou: que, em 2010, o declarante transportou R$ 1.000.000,00 (um milhão de reais) de São Paulo para Curitiba, a pedido de Alberto Yousseff; que Alberto Yousseff disse que os valores se destinavam à então candidata à senadora Gleisi Hoffmann; que Alberto Yousseff disse que os valores seriam usados para o financiamento da campanha de Gleisi Hoffmann; que a conversa inicial com Alberto Yousseff ocorreu provavelmente em fevereiro ou março”, registra trecho da colaboração premiada de Pieruccini anexada à denúncia feita por Janot.
Sofrimento
Por meio de seu perfil no Facebook, Gleisi foi além da nota à imprensa (leia abaixo) e se disse “sofrendo” desde outubro de 2014 com as menções ao seu nome na Lava Jato. “O indiciamento da Polícia Federal sobre o caso foi rejeitado. Agora, vou defender-me junto ao Supremo. Como já falei inúmeras vezes sobre esse assunto, posto discurso que fiz da tribuna do Senado esclarecendo todos os pontos, inclusive o envolvimento político do advogado do delator, Figueiredo Bastos, que tem sido o coordenador profissional de diversas delações, incluindo delatores e delatados”, argumentou a parlamentar petista.
Leia a íntegra das notas divulgadas pelas respectivas defesas:
Gleisi Hoffmann
“É com inconformismo que recebemos a notícia de que o PGR apresentou denúncia em desfavor da senadora Gleisi Hoffmann.
Todas as provas que constam no inquérito comprovam que não houve solicitação, entrega ou recebimento de nenhum valor por parte da Senadora. A denúncia sequer aponta qualquer ato concreto cometido. Baseia-se apenas em especulações que não são compatíveis com o que se espera de uma acusação penal.
São inúmeras as contradições nos depoimentos dos delatores que embasam a denúncia, as quais tiram toda a credibilidade das supostas delações. Um deles apresentou, nada mais, nada menos, do que seis versões diferentes para esses fatos, o que comprova ainda mais que eles não existiram.
Ao apagar das luzes, depois de um ano e meio da abertura do inquérito, uma terceira pessoa aparece disposta a dizer que teria realizado a suposta entrega de valores, numa nova versão que foge de qualquer raciocínio lógico. Vale lembrar que esta pessoa é amigo/sócio/ funcionário de Alberto Youssef, o que comprova ainda mais a fragilidade das provas e se vale do mesmo advogado de Alberto Youssef para fazer sua delação.
Rodrigo Mudrovitsch e Veronica Abdala Sterman”
Paulo Bernardo
“As referências ao ex-ministro Paulo Bernardo na denúncia baseiam-se em declarações contraditórias e inverossímeis. Não houve qualquer envolvimento dele com os fatos narrados na denúncia. Demonstraremos isso com veemência e acreditamos que a denúncia não pode ser recebida.
Rodrigo Mudrovitsch e Verônica Sterman”
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