O Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) homologou a colaboração premiada de Nelson Leal Junior, ex-diretor geral do Departamento de Estradas de Rodagem do Paraná (DER-PR). Em depoimentos prestados, ele fala que houve esquema de corrupção entre o órgão público e concessionárias de pedágio entre 2011 e 2014, durante o governo de Beto Richa (PSDB). Pessoas ligadas às investigações afirmam que ele citou, nos depoimentos, nomes de autoridades com foro privilegiado.
Leal foi preso na 48ª fase da Lava Jato, batizada de Operação Integração. Nesta semana, o juiz Sérgio Moro declinou da competência do processo, que passou à Vara Federal de Jacarezinho, no Paraná, onde a investigação teve início.
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Em um dos depoimentos, o ex-diretor disse que se formou uma “associação criminosa entre agentes públicos, operadores financeiros e empresários que mantinham contrato com o DER, inclusive as concessionárias de pedágio, para solicitar vantagens indevidas em prol desses agentes públicos”.
Ele cita que o esquema durou de 2011 a 2014, mas ressalta que acredita que a Triunfo, empresa investigada que controla a Econorte, mantinha relação de pagamentos com o governo “até recentemente”.
PublicidadeLeal afirma, ainda, que a fiscalização do Ministério dos Transportes não foi induzida a erro porque “não havia fiscalização nenhuma” e os relatórios eram “mera formalidade”.
Os valores obtidos pelo ex-diretor foram lavados em um apartamento em Balneário Camboriú (SC), com o aluguel de uma embarcação e depósito em conta corrente como se fossem provenientes de atividade de empresa chamada Junqueira Leal.
Como parte do acordo, Nelson Leal Junior cumpriu três meses em regime fechado. Ficará em prisão domiciliar por um ano, com tornozeleira eletrônica, e depois cumprirá mais dois anos em regime semiaberto. Ele ainda deverá pagar multa de R$ 1,2 milhão e entregar à Justiça o apartamento em Santa Catarina.
Moro recusou analisar esse processo alegando sobrecarga de trabalho e que o caso não tem relação com a Petrobras. Antes, porém, anulou o depoimento de Carlos Nasser, ex-assessor da Casa Civil do governo de Beto Richa (PSDB) que citava o ex-governador tucano. No depoimento anulado, Nasser, que é réu no processo, fez uma relação direta entre Richa e os pagamentos de propina. Ele declarou que trabalhava na Casa Civil com uma função de assessoramento ao então governador e que, se recebeu algum dinheiro da Triunfo em sua conta, foi recurso para campanhas políticas.
Como mostrou o Congresso em Foco, Moro tem relação familiar com o presidente do conselho administrativo do grupo Triunfo, Luiz Fernando Wolff de Carvalho, primo em segundo grau de sua esposa, Rosângela Moro. O juiz nega que a recusa do processo tenha relação com o parentesco de sua mulher com um dos principais investigados.
Via assessoria de imprensa, Moro negou que o parentesco tenha relação com sua decisão de recusar o processo. “As razões da declinação da competência da Operação Integração estão escritas na decisão da exceção de incompetência. Parentescos remotos e pessoas que o juiz não conhece não têm qualquer relevância”, diz a nota. Advogados ouvidos pelo site, porém, entendem que ele deveria ter incluído a relação familiar entre os impeditivos para continuar com o processo em mãos.
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