Em conversa com o empresário Joesley Batista, o diretor de Relações Institucionais do grupo J&F, Ricardo Saud, diz ter a informação de que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, passaria a advogar no mesmo escritório do ex-procurador Marcelo Miller, que atuou no acordo de leniência do grupo, assim que deixasse o cargo. Na conversa gravada aparentemente de maneira acidental pela dupla, Saud conta que soube dos planos de Janot pelo próprio Miller.
No diálogo, os dois admitem que utilizavam Miller como ponte para se aproximar de Janot. Na data da gravação, possivelmente 17 de março, ele ainda não havia se desligado do Ministério Público. Na conversa, Saud diz ter questionado Miller se as informações obtidas por ele eram repassadas ao procurador-geral. “Você passa tudo pro Janot, né? Do que está acontecendo aqui. Ele disse: ‘Não, não. Não vou te mentir não. Não passo, não. É um amigo meu em comum. É um amigo meu em comum”, contou a Joesley na gravação.
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Saud prossegue o relato. “É um amigo comum nosso [disse, segundo ele, Miller]. Eu falei, comum nosso? Ele [Miller] falou, não. Comum meu, dele e do Janot. Esse cara ta me ajudando. Esse cara faz parte do meu escritório. Aí eu falei assim: ‘Mas como faz parte do seu escritório?’. ‘Não posso falar, depois eu te explico e tal [relata Saud sobre resposta de Miller]. Tá, mas eu descobri que você passa pro Janot. (ininteligível) [Questiona novamente Saud]. É o seguinte: ‘O Janot não vai concorrer mais ao cargo. Ele faz parte do nosso escritório’. Ele falou: ‘Janot vai sair e vai advogar com esse mesmo escritório. Mesmo escritório que ele está hoje’”, narrou o lobista.
Mais adiante, Saud conta que Miller respondeu que o amigo em comum “é o dono desse escritório que o Janot vai trabalhar depois junto com o Marcelo [Miller]” e disse que um outro procurador, “um tal de Christian”, também advogará com eles. “Então o escritório vai ser ele, esse Christian, ele [Miller] e o Janot”, diz o empresário.
Segundo ele, o procurador-geral faltava com a verdade ao dizer que continuaria no Ministério Público mesmo quando terminasse o seu mandato na PGR. “Fala que vai voltar como Procurador da República é mentira. O Janot vai sair e vai para esse mesmo escritório que ele tá indo, o mesmo escritório (ininteligível). Ele, esse Christian…”, diz Saud, que ressalta: “Tao fazendo um puta escritório, um puta escritório. Nada meia boca, não”.
Por meio de sua assessoria, Janot diz que “jamais aceitou convite para integrar qualquer escritório de advocacia” e afirma que manterá o cargo de subprocurador-geral da República. Ressalta ainda que, após sua aposentadoria, cumprida quarentena de três anos, “pretende atuar na iniciativa privada, especialmente na área de combate à corrupção em compliance”, além de publicar livros sobre sua experiência no Ministério Público.
PublicidadeMiller passou a atuar no escritório Trench, Rossi & Watanabe Advogados, do Rio de Janeiro, contratado pela JBS para negociar a leniência, acordo na área cível complementar à delação. A decisão de Miller de deixar o Ministério Público Federal e partir para a área privada da advocacia veio a público em 6 de março, véspera da conversa entre Joesley Batista e Michel Temer, gravada pelo empresário, no Palácio do Jaburu.
O ex-procurador era um dos principais auxiliares de Rodrigo Janot no grupo de trabalho da Lava Jato até março deste ano. Assim que as delações vieram à tona, a PGR foi obrigada a esclarecer que Marcelo Miller, hoje advogado, não assessorou Joesley nas negociações com os antigos colegas no caso da delação premiada. No entanto, na ocasião, confirmou que ele atuou no acordo de leniência da JBS.
Em um áudio de quatro horas de gravação, os delatores, sem se dar conta, aparentemente, de que estão gravando a própria conversa, contam detalhes de suas negociações para saírem imunes dos crimes cometidos e citam ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e parlamentares.
Leia íntegra da nota da PGR:
“O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, esclarece que jamais aceitou convite para integrar qualquer escritório de advocacia. Ao deixar a chefia do Ministério Público da União, Rodrigo Janot manterá o cargo de subprocurador-geral da República. Depois que se aposentar e cumprir três anos de quarentena, pretende atuar na iniciativa privada, especialmente na área de combate à corrupção em compliance, e publicar livros sobre sua experiência na PGR”.
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