Em evento produzido pelo jornal O Estado de S. Paulo nesta terça-feira (27), o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) fez declarações diretamente relacionadas ao protagonismo que os militares têm recebido no governo Temer, na esteira da intervenção federal no Rio de Janeiro e da criação do Ministério da Segurança Pública. Indagado sobre a indicação de um general do Exército para chefiar o Ministério da Defesa (general Joaquim Silva e Luna), algo que não acontecia há quase 20 anos, o tucano citou casos na América Latina em que, enfraquecidos, governos recorrem aos militares para ganhar força.
“Governos, sobretudo quando não são fortes, apelam para os militares”, discursou o ex-presidente, durante o primeiro evento da série “A Reconstrução do Brasil”, do Fórum Estadão, realizado hoje (27) em São Paulo.
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Para ilustrar sua fala, FHC fez referência ao final da gestão do ex-presidente chileno Salvador Allende (1970-1973), médico e político marxista que fundou o Partido Socialista do Chile e foi deposto por um golpe militar liderado pelo então chefe das Formas Armadas do país vizinho. Fernando Henrique continuou sua dissertação. “No passado, colocar um civil na Defesa era símbolo de qual poder prevalece”
As declarações do tucano, que recentemente incensou a candidatura do apresentador Luciano Huck à Presidência da República, vêm a público um dia depois de o governo anunciar o general Joaquim Silva e Luna para o comando do Ministério da Defesa, em substituição a Raul Jungmann, que chefiará o novo Ministério da Segurança Pública. Tanto a intervenção no Rio de Janeiro, encabeçada pelo general Walter Braga Netto (chefe do Comando Militar do Leste), quanto a criação da pasta têm sido vistas por oposicionistas e outros setores da sociedade como um sinal de que Temer usa as Forças Armadas para se viabilizar eleitoralmente e fugir das denúncias de corrupção e demais pautas negativas, com o apoio de uma parte da mídia.
Para FHC, os governos estaduais e mesmo o federal devem mudar o modelo de enfrentamento às drogas no Brasil, deixando de lado a estratégia da mera repressão.”Em várias ocasiões [na gestão tucana] houve pressão para fazer intervenção na segurança nos estados. Não fiz intervenção porque elas paralisam as reformas constitucionais […] A questão da segurança está ligada à corrupção. Questão do tráfico de armas é tão grande quanto a da droga. Tem de enfrentar a questão da droga de maneira diferente, não apenas repressiva”, ponderou o ex-presidente.