Congresso em Foco – Por que o senhor acha que foi incluído na lista do petrolão?
Jerônimo Goergen – Eu não quero transferir responsabilidade de nada para ninguém. Isso é a pior coisa, especialmente para um episódio como esse. Eu poderia criar um fato político e dizer que a culpa é de A ou de B. Mas alguns episódios em relação a mim me geram estranheza. Primeiro, que o Palácio [do Planalto] sabia [quem estava na lista]. Eu mesmo soube três horas antes, porque o Palácio disse a um jornalista que meu nome estaria lá. O Palácio estava tão preocupado comigo para já saber e pautar a imprensa… Depois, por que eu apareço dia 12 de fevereiro nisso? Até então eu não estava. E depois, por que eles me citam no período em que os líderes eram [José] Janene, [João] Pizzolatti, [Mário] Negromonte e, em uma outra citação, Pedro Corrêa e [Nelson] Meurer. Eu não era deputado no [período de liderança de] Janene, não era no Pizzolatti, não era no Negromonte, não era no Pedro Corrêa. E, na minha entrada [na Câmara], que se deu em 2011, eu fui contra o Meurer.
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O senhor acha que foi traído pelo partido?
Se tu lembrares, nós apoiamos aqui a Rebecca Garcia contra o Dudu [da Fonte] na Mesa e queríamos o Márcio Reinaldo no lugar do Meurer. Eu liderei esse movimento, que no dia 11 de agosto derrubou o Meurer da liderança, e que no final do ano derrubou o Negromonte do Ministério [das Cidades]. Como é que eu sou tão gênio para não ser deputado em todo esse período aqui… E, casualmente, também fui eu que entrei com uma ação tentando cancelar a Convenção Nacional do Partido Progressista no ano passado, junto com a senadora Ana Amélia. Fui o único deputado que fez isso. E o Luis Carlos Heinze, que ameaçou dar um soco na cara do Ciro [Nogueira], o que deixou muito atrito entre eles. Não quero transferir responsabilidade, mas esse cenário aqui… E eu fui, há dez dias, acusado pelo governo de ter sido líder da greve dos caminhoneiros. Casualmente, meu nome aparece em uma data em que meu atrito dentro do partido e com o governo é muito forte. Fui eu que forcei o PP do Rio Grande do Sul a fazer uma carta dizendo que nós éramos oposição, que nós não iríamos coadunar com erros etc. Então, prefiro responder tua pergunta com a dúvida. Estes pontos aqui [aponta para rabiscos a caneta em um guardanapo] não se explicam. E uma única citação de meu nome em um contexto desse é algo que não tem como entender. Com relação a isso tudo, eu vou interpelar o [Alberto] Youssef, porque não o conheço. Com certeza, ele não me conhece – deve saber pelas listas que ele tinha. Eu sou um membro da bancada, quem não sabe? Então, vou interpelar, porque, em uma delação premiada, ele não pode falar uma coisa sobre a qual não tenha prova.
Mas qual seria o elo que o teria ligado aos demais suspeitos?
Ele [Yousseff] relatou um fato de corrupção em que ele ia buscar um dinheiro para o partido, como ele disse, e esse dinheiro era repassado para os líderes, de 2006 – ou 2004, não me lembro – para cá: o Janene, como ele relata, o Negromonte, o Pizzolatti, o Pedro Corrêa e o Meurer. Depois, ele disse que custava R$ 4 milhões a eleição de líder – quatro vezes o Negromonte e duas o Pizzolatti. Em nenhum desses períodos eu era deputado federal. Eu era estadual, mas eles pagavam os caras para votar aqui – e deputado estadual não vota aqui [na Câmara]. O período em que eu entro, que é 2011, este grupo aqui [volta a mostra os rabiscos] já tinha decidido, e isso é importante, que seria o Nelson Meurer o líder. Recém-eleito, vindo para tomar posse, disse como é que eu vou ter um líder de bancada nova? Eu queria escolher meu líder. Naquele momento nós montamos um grupo: Heinze, Zonta, Jerônimo [autoreferência], [Esperidião] Amin, Rebecca, Maluf, Márcio Reinaldo e [Roberto] Balestra. Esse grupo se rebelou com o “prato feito” que o outro grupo tinha. Havia um comentário muito grande de que o Meurer só ia ser líder…
Só estava segurando a vaga?
Porque o Pizzolatti tinha impugnado a candidatura dele, por causa de outros processos, e quando ele se livrasse dos processos na Justiça, ele voltaria e tomaria o lugar dele. Só que demorou dois anos para ele voltar, e aconteceu muita coisa nesses dois anos. Nosso grupo se rebelou – nós lançamos Rebecca Garcia para a Mesa contra o Dudu. Por 76 votos nós perdemos para eles. O Negromonte veio a plenário pedir voto para o Dudu. Márcio Reinaldo perdeu também, mas enfim… Nosso caminho seguiu. Teve uma cisão no grupo majoritário. Dessa cisão saiu, uma época, Dudu, Arthur [Lira] e Aguinaldo [Ribeiro]. Esse grupo se dividiu, não sei por que razão, brigaram lá, e vieram nos procurar para a gente trocar o líder. E provavelmente no final de julho, início de agosto. Não tínhamos reunião de bancada, não tinha um método democrático nesse processo. Cada um andava por aí, que nem um zumbi, tentando sobreviver. Eu, inclusive, pedi para ir para a Comissão de Agricultura ao líder, então era Meurer, e ele me negou, ainda me botou na CFT [Comissão de Ciência e Tecnologia]. Foi desse nível o negócio.
E então a disputa interna se impôs…
Bom, juntamos lá com aqui [mais uma consulta ao guardanapo] derrubamos o Meurer no dia 11 de agosto de 2011. O ministro ainda era Negromonte. Na época, tem um episódio que tu deves lembrar, da Veja, em que o ministro Negromonte chamava os deputados e oferecia R$ 30 mil para retirar a assinatura da lista desse nosso acordo. Na época, chamou o Neri Geller, que era suplente do Pedro Henry. E o Pedro Henry voltou da Secretaria [de Saúde] do Mato Grosso porque o Neri não aceitou a propina deles lá. Eu fui ao Mendes Ribeiro, líder do governo na época, e o Amin foi à Idelli Salvati. Falamos nisso, e dissemos que isso seria responsabilidade do governo, se eles não fizessem alguma coisa. Acabou saindo na Veja, consolidou o processo. Então, de 2011 até agosto só se viveu esse confronto. E depois, se seguiu esse confronto até o final do ano, caiu o Negromonte e, em março, quando Aguinaldo assume – não sei se foi por isso – cai o Paulo Roberto Costa. A queda do Negromonte coincide com a falta de sustentação política do Paulo Roberto Costa na Petrobras. Em que contexto meu nome aparece? É o que quero saber. É a história: ou eu não estava aqui e no último ano eu fui o cara que combateu todo esse grupo. O que me dá a impressão, realmente, e que colocaram todos os gaúchos no mesmo bolo para não ter problema. Não quero transferir a responsabilidade, mas tenho essa pulga atrás da orelha.
É uma teia de relações partidárias que o absorveu?
Por último, preciso te relatar. Agora – para você ver como minha relação com o Meurer e essa turma é tão complicada – eu coloquei meu nome para vice-presidência da Casa. Em uma reunião com os membros da bancada, o Meurer disse: “Você não pode ser, porque não vai nos defender”. Eu não vou defender o quê? Isso foi dia 28 de janeiro. Dia 12 de fevereiro eu apareço na lista! É estranho, né?
O senhor se emocionou de uma maneira muito intensa na primeira coletiva de imprensa logo após a divulgação da lista. Chegou a dizer que o PP acabou. Acabou?
Sabe que existe a figura de linguagem, né? O que eu estava, no contexto geral, falando é que o PP acabou faz tempo pelo aspecto político. O que é o PP dentro dessa Casa? Pergunta o que o PP pensa sobre reforma política. Não pensa. Pergunta o que pensa sobre reforma tributária. Não pensa. Pergunta o que pensa sobre qualquer coisa. Não pensa. Está sempre se defendendo de um lado pro outro. Então, sob o ponto de vista político, o PP acabou faz tempo. O PP estava no mensalão. Agora, ainda virou a prostituta do processo. O governo jogou tudo no colo do PP.
Mesmo com alguém como Francisco Dornelles, vice de um governador aliado, na condição de presidente de honra do PP?
Dornelles deu estabilidade à instituição. Vamos dizer assim: passou o mensalão, o Dornelles entrou e estabilizou o PP. Não sei se esses métodos existem ou não existem – estamos aí, vamos ter que provar –, mas ele estabilizou. A saída dele desestabiliza o processo, e aí começa um outro movimento. E a gente aparece sempre combatendo. Como te falei: eu era candidato à Mesa, e colocaram Waldir Maranhão. E eu não era um defensor. Forcei posição do partido ao dizer que era oposição ao governo. Então, a minha oposição interna e ao governo vivia o pior momento dela nesses últimos dias. Eu, inclusive, no dia em que saiu a lista, eu gravei um vídeo que ia ser publicado no meu Facebook conclamando o povo para ir para a rua. Agora, estou eu tendo de explicar.
O senhor cogita sair do partido?
No meio dessa fase aí eu estive com o [Gilberto] Kassab duas vezes. Graças a Deus não fui porque ia ser governo – e eu não apoio a Dilma. Mas eu não estaria na lista [se tivesse migrado para o PSD, fundado por Kassab]. Eu só estou na lista porque eu sou PP – isso eu tenho muito tranquilo. Não sei se é por que alguém do partido me botou, ou o partido inteiro merecia isso. Agora, não tenho outro objetivo a não ser limpar meu nome. Não sei se vou concorrer, não sei se vou sair, se vou ficar. Me licenciei do diretório, porque acho que o que menos me importa agora é a vida partidária, principalmente nacional. Então, eu não te respondo a pergunta porque o cara que toma a paulada que eu tomei não tem outro objetivo na vida a não ser limpar seu nome.
Tende mais a ficar ou a sair?
O limitador da saída é a impossibilidade legal. É aí que está o questionamento, às vezes, da fidelidade partidária. Estou preso numa jaula agora. Mas, para mim, nesse momento não importa. PP? Que exploda tudo! Vou cuidar de mim.
O senhor acha que o governo perdeu o controle da base, ou o apoio popular?
O governo pegou uma economia pronta; surfou numa onda política do Lula que, no primeiro governo, foi muito hábil; os mecanismos de manutenção de poder você vê, hoje, aparecer. A Dilma entrou quando a curva estava dobrando. E aí entra uma figura que era tida como gestora, o que nunca foi verdade. Entra uma figura soberba, sem nenhuma humildade, sem nenhuma condição. Então, o que aconteceu? O governo perdeu, primeiro, para a arrogância da presidente, pela falta de habilidade política dela. Eu, por exemplo, acho que o governo não poderia continuar. Primeiro, pela incompetência. E também – ou depois, ou junto, ou antes – pela corrupção, que o patrocinou. Mas o que mais me preocupa não é tirar ou botar a Dilma. O que me preocupa é que estamos no terceiro mês de governo. Faltam quatro anos, e uma líder como ela, fraca, para onde vai levar o país? Por exemplo, esse pacote fiscal. É a mesma coisa nós chancelarmos os governos Lula e Dilma; vamos pagar a conta para não derrubar tanto. Mas eu vou votar contra. Porque, se eu sou acusado de ser governista por votar com o governo, eu não vou nem olhar o conteúdo desse pacote. A falta de habilidade política do governo deixou cada um aqui… Cada um toma a sua decisão.
O senhor é a favor do impeachment?
É o que eu disse – eu já vejo condições para que esse assunto possa ser falado. Mas a minha opinião não é cassá-la. O problema é a fraqueza, a fragilidade que ela tem. Quem é ela, hoje, no Brasil? Ela não pode andar na rua. É como tu chegar na tua casa e teu filho não te respeitar. Tu é o chefe daquela família; ela é a chefe da Nação.
Mas não há uma maioria que a ampara?
Mas nem esse a admira. O problema é que ela perdeu a admiração e o respeito do povo. Quem ganha não a respeita. E outra: a gente não vê nenhuma atitude dela no sentido de reverter isso. Ela é inábil nata, não consegue dizer “bom, estou errando, vamos consertar”. Não consegue.
O recurso extremo do impeachment não seria pior para o Brasil, para as instituições democráticas? O PMDB não herdaria esse poder excessivo?
Estou falando do governo. Acho que este governo é que tem de sair. Não vejo no [vice-presidente Michel] Temer a condição de que ele assuma a Presidência. Porque ele é o governo. Por mais que ela esteja excluída. Mas temos de ter cuidado também para não deixar nenhuma margem para qualquer tipo de golpe político. Minha análise é simples: se o problema é o governo, se a chapa foi eleita com o dinheiro do petrolão, então que se tire o governo. E não tem nada dessa coisa de chamar Aécio [Neves], claro. Vai ter nova eleição. Se não a gente corre o risco de não ter o apoio da sociedade.
O senhor participaria de manifestações de rua contra o governo?
Eu me fragilizei pelo processo [no STF]. Acho que minha opinião nem ajuda à rebeldia da sociedade, porque nesse momento, da forma como isso veio a público, eu sou culpado desde o anúncio de uma lista que… É tão grande a expectativa da sociedade em cima disso que se condena antes. Então, a minha ida para a rua não ajuda. Agora, eu tenho dito ao povo, naquilo que me cabe, que se o povo não for para a rua e transferir para esta Casa a responsabilidade política sobre o que fazer para o futuro do Brasil, o Brasil não tem futuro. O povo tem que ir para a rua. É a pressão da rua que vai mexer ou não com alguma coisa.
O senhor já tomou providências para provar sua alegada inocência. Está convicto de que vai conseguir?
Isso machuca demais o cara. Não é fácil. O que é bom é que as pessoas conhecem [o deputado]. Ou seja, me deram o crédito e eu tenho de provar [inocência]. Na verdade, eu não tenho que provar – quem tem que provar é quem diz. O que eu posso te dizer? Tenho meus advogados, peguei os meus colegas de quando eu era da juventude do partido e eles eram da minha diretoria. Já estão trabalhando, todos os meus sigilos estão abertos. Já até mandei imprimir no banco e vou deixar à disposição da imprensa, não tem problema nenhum. O Janot não precisa me pedir, ele agora está autorizado a quebrar [o sigilo], mas eu vou oferecer a ele. E vou ingressar com a interpelação judicial contra o Youssef. É o mínimo que eu posso fazer, porque se ele citou o meu nome em uma delação premiada, ele tem que ter prova, senão ele não poderia ter dito. A delação é mais do que uma citação. Nessa petição, não é uma citação. Ela foi transformada, deram crédito à citação para abrir a investigação. Nesse contexto, eu vou esperar que o Ministério Público, em que eu confio – fui contra a PEC 37 [restringia o poder de investigação da instituição], não assino CPI contra eles aqui –, olhe de verdade cada documento da gente. Vou buscar um contato com o Janot, todo mundo. Eu só quero que olhem os meus números. Mas principalmente o meu cronograma, e a citação feita a um cronograma em que eu não existo na Câmara. O tempo é que é o nosso problema. Crédito a sociedade já me deu, mas se o tempo se arrastar, transforma a gente em um zumbi político.
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