Tais conclusões e os respectivos percentuais foram levantados pela agência de comunicação e consultoria estratégica InPress Oficina, de Brasília. Para chegar a esses resultados, a empresa – integrante do Grupo In Press – ouviu 36 lideranças, na Câmara dos Deputados e no Senado Federal, entre os últimos dias 16 e 18, em parceria com o Congresso em Foco.
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Se os números lhe sugerem otimismo, saiba que o humor do Parlamento em relação a Temer pode ser ainda mais positivo do que sinalizam os índices acima. Afinal, 60% dos líderes ouvidos são da base governista e 40% da oposição, quando no mundo real o governismo já abarca mais de 400 deputados, isto é, em torno de 80% da Câmara.
Embora permita produzir quantificações, a pesquisa teve caráter qualitativo. Seu objetivo principal não era gerar respostas objetivas para questões previamente organizadas sob a forma de questionário. Mas, sim, identificar valores e sentimentos relacionados com as expectativas do Congresso quanto ao novo governo.
Em entrevistas por telefone, líderes que se situam entre os mais influentes do Legislativo – em sua maioria, liderando formalmente suas bancadas – discorreram livremente sobre diversos tópicos apresentados pelos pesquisadores. Suas respostas foram posteriormente analisadas e quantificadas pela equipe técnica da InPress Oficina.
Riscos
Colhidos os dados por meio da chamada “quali” (jargão para pesquisas qualitativas), os resultados foram examinados à luz dos riscos e oportunidades que eles refletem. No caso em questão, o estudo apontou duas grandes ameaças ao governo Temer. Uma delas é a força da oposição, citada por 62,5% dos entrevistados.
Representada principalmente pelo PT (e também integrada por PCdoB, Psol e Rede), ela está em larga desvantagem numérica no Congresso, mas é forte nas ruas e nas redes sociais. Parlamentares governistas lembraram a influência petista sobre os movimentos sociais e entidades com forte capacidade de mobilização – como MST, CUT, UNE e MTST – e a habilidade que o PT e os demais partidos de esquerda sempre tiveram para criar dificuldades quando estão na oposição. Já no núcleo oposicionista houve quem apresentasse os protestos em curso contra o impeachment como uma indicação de que o “governo golpista” de Michel Temer não encontrará trégua nas ruas.
O segundo grande risco, de acordo com a pesquisa é a Lava Jato. Para 48% dos entrevistados, “não mudam” as investigações sobre os bilhões de reais desviados da Petrobras e de outras organizações estatais. Ou seja: continuarão alimentando a crise política e arrastando políticos poderosos para o seu caldeirão.
“Nós, os aliados da Dilma, estamos numa tempestade, mas eles [apoiadores do Temer] não estão em céu de brigadeiro”, resumiu um congressista.
É praticamente unânime, ainda, a visão de que a gestão iniciada em 12 de maio – data em que Temer substituiu Dilma, na condição de interino – será um “governo de tiro curto”. O calendário e a baixa aprovação popular do presidente em exercício apertam o cronograma para as ações de Estado e reduzem o espaço para erros.
Finalmente, as entrevistas deixaram evidente a compreensão da heterogeneidade do recém-formado ministério. Nessa coalizão, dois ministros – Henrique Meirelles (Fazenda) e José Serra (Relações Exteriores) – são percebidos como potenciais aspirantes à sucessão de Temer, o que pode se tornar uma fonte de conflitos dentro da coalizão governista.
Oportunidades
Os riscos, na avaliação do Congresso, são superados com folga pelas oportunidades que o momento nacional apresenta. Em sua maioria, os líderes ouvidos deram mostras de acreditar que Michel Temer possui as habilidades políticas e administrativas que faltaram a Dilma Rousseff.
Essa confiança pode ser expressa nos números reproduzidos no primeiro parágrafo deste texto e em alguns outros. Para 58% dos entrevistados, por exemplo, Temer na Presidência da República representa mais credibilidade para o país (58%), melhores condições de governabilidade (56%) e possibilidade de aumentar a qualidade dos serviços públicos (45%).
A disposição de Temer para dialogar com o Congresso e com os diversos segmentos sociais é muito enfatizada pelas lideranças parlamentares. “O tratamento é outro. Com poucos dias no governo, Temer já mostrou a necessidade e a decisão de fazer uma gestão compartilhada. As primeiras reuniões têm sido transparentes. A Dilma, em quase três anos, só esteve três vezes no Congresso. O Temer já anunciou sua presença em votações importantes”, disse uma delas.
Também é encarado como um trunfo do governo a equipe econômica, cuja competência técnica é bastante reconhecida. “Tenho grande confiança no ministro da Fazenda. Ele está sendo objetivo e a população está entendendo”, afirmou um congressista.
A avaliação de Meirelles e sua equipe é melhor do que a do ministério em geral. Para 44%, Temer está se cercando de assessores qualificados para suas funções. Para 40,63%, falta qualificação à sua equipe. Esse quase empate está relacionado com duas críticas que o governo enfrenta atualmente no Congresso: o elevado número de ministros às voltas com investigações criminais (agora seis, depois do afastamento do senador Romero Jucá do Ministério do Planejamento); e o grande espaço ocupado por ministros da cota pessoal de Temer (como Eliseu Padilha, Geddel Vieira Lima e Henrique Eduardo Alves, que também têm em comum o fato de serem do PMDB e estarem sob investigação).
De qualquer maneira, é grande a parcela de parlamentares (49%) para os quais Temer completará o mandato de Dilma Rousseff, encerrando o seu governo em 31 de dezembro de 2018. A parcela restante se divide igualmente entre os que consideram impossível fazer qualquer previsão sobre o tempo em que ele ficará na Presidência da República e os que dizem acreditar na volta de Dilma ao Palácio do Planalto.
Novo produto
A convite do Grupo In Press, o fundador do Congresso em Foco, Sylvio Costa, foi convidado a analisar os dados em eventos para convidados, realizados na segunda-feira (23), no Rio de Janeiro; na terça, em São Paulo; e nesta quarta-feira (25), em Brasília.
Participaram desse road show a sócia-diretora da InPress Oficina, Patrícia Marins, e Marilia Stabile, sócia-diretora da empresa de monitoramento .map, também pertencente ao Grupo In Press. Em São Paulo, o trio foi reforçado pelo economista e professor da Universidade de São Paulo (USP) Heron do Carmo.
Com a realização da pesquisa, o Grupo In Press e o Congresso em Foco lançam um novo produto, denominado Tendências em Pauta. A ideia é oferecer a empresas, associações empresariais, entidades do terceiro setor e outras organizações sem vínculos com o Parlamento ou com partidos políticos uma ferramenta que permita analisar com maior acuidade tendências, relativas a grandes temas nacionais ou setoriais.
“Tudo será feito sob medida para atender à realidade do cliente”, afirma Patrícia Marins. “Pela metodologia e pela customização que ela permite fazer, temos certeza que estamos criando algo inédito e extremamente valioso num momento em que absolutamente todo mundo precisa de informações políticas de melhor qualidade para orientar os seus negócios”. Ela acrescenta: “Não poderíamos encontrar melhor parceiro do que o veículo que foi o mais citado pela mídia internacional nas últimas semanas por causa da cobertura que está fazendo da crise política”.
A parceria possibilitará ao Congresso em Foco colocar em prática um antigo projeto, o de se credenciar como fonte qualificada de informações para o mercado corporativo. “Será um novo passo, que contribuirá para avançarmos em algo que sempre perseguimos, que é o jornalismo de precisão”, afirma Sylvio Costa. “Nesse caso, usando as melhores técnicas de pesquisas para extrair conclusões jornalisticamente relevantes. De quebra, há a possibilidade de refinar a cobertura que já fazemos, uma vez que poderemos publicar no site ou em nossas revista as conclusões jornalisticamente mais importantes”.
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