O ex-governador de São Paulo Fleury Filho, peemedebista que comandou o estado entre 1991 e 1995, já avisou que recusará convite para chefiar um futuro Ministério da Segurança Pública, pasta imaginada pelo governo Temer como reação à onda de violência em curso em estados como Rio de Janeiro e Rio Grande do Norte – e à inaptidão que algumas gestões estaduais têm demonstrado para enfrentar o problema. Fleury disse ao blog da repórter Andréia Sadi no G1 que se sentiu “honrado com a lembrança”, mas acrescentou que rejeitará “qualquer convite nesse sentido”.
“Sou amigo do Michel há muitos anos. Ele foi meu secretário de Segurança Pública em São Paulo. Mas eu não tenho pretensão de voltar para a vida pública. Posso contribuir fora de qualquer cargo”, ponderou o ex-governador, cuja gestão ficou marcada com a chacina de detentos no Carandiru, famoso presídio de São Paulo que deu origem a filmes e documentários. Foi Fleury, como responsável pela segurança pública paulista, que deu a ordem para a entrada da Polícia Militar na penitenciária, o que resultou na morte de 111 presos. Com repercussão internacional, o episódio ficou conhecido como “Massacre do Carandiru”.
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A repórter lembra ainda que foi o próprio Temer, em conversa com aliados ontem (quarta, 14), que revelou cogitar o nome de Fleury para o novo ministério. Na contramão do anunciado corte de gastos e de estrutura do Estado, o que se revelaria mero discurso, a nova pasta esvaziará as atribuições do Ministério da Justiça e, por exemplo, retiraria de seu comando a Polícia Federal.
Ainda segundo a reportagem, assessores de Temer afirmaram que o ex-governador já havia sido sondado pelo Planalto, informação que ele negou. Fleury diz ter estudos sobre o setor de segurança pública desde 1998, e que nesse sentido poderia contribuir com sugestões para a atuação da nova pasta – conversas nesse sentido já foram realizadas com o presidente, segundo o ex-governador.
Segovia e bancada da bala
As negociações sobre a nova pasta estão em curso há meses e sua criação é defendida por governistas de diversos partidos, principalmente pelos membros da chamada “bancada da bala” na Câmara. Segundo o jornalista Josias de Souza, o grupo já pressiona Temer no sentido de receber o comando do ministério, na esteira de greves de policiais Brasil afora e do recrudescimento do crime organizado no Rio de Janeiro.
“Abstraindo-se a obviedade de que a criação de um novo ministério não fará murchar as estatísticas da violência, a proposta esconde um elemento tóxico: a pasta da Segurança, a ser entregue a um deputado qualquer, absorveria em seu organograma pedaços estratégicos do Ministério da Justiça. […] Num cenário de normalidade, a ideia de subordinar a engrenagem da PF a um parlamentar de qualificação duvidosa seria apenas temerária. Torna-se explosiva numa atmosfera em que o diretor-geral do órgão, Fernando Segovia, está na berlinda por ter sinalizado a intenção de arquivar inquérito estrelado por Temer”, escreve Josias.
Ele se refere ao fato de que o diretor-geral bancado por caciques do PMDB alvos de investigações, como o ex-presidente José Sarney, têm dado declarações que vão ao encontro de acusações oposicionistas a respeito da blindagem de investigados, Temer à frente. Na mais recente entrevista polêmica, Segovia diz que o inquérito sobre o “Decreto dos Portos”, por meio do qual o presidente teria beneficiado uma concessionária do Porto de Santos em troca de propina, não exibe indícios de crime e deve ser arquivado.
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Além disso, o diretor-geral chegou a sugerir punição ao delegado que encaminhou questionário considerado incômodo por Temer. A fala gerou pronta reação de revolta em setores da advocacia, do Judiciário, do Ministério Público e da própria PF, com manifestos de repúdio publicados na imprensa. Único senador da Rede, Randolfe Rodrigues (AP) protocolou na Justiça Federal do Distrito Federal um pedido de afastamento de Segovia, que demonstra ter se arrependido da fala, mas se diz mal interpretado e negou atuar para proteger investigados.
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