Com a experiência de quem acompanha os bastidores do Congresso desde os anos 1980, Antônio Augusto adverte: Dilma precisa rever sua forma de se relacionar com a Câmara e o Senado em 2013, ano em que passará ser mais dependente de um aliado conhecido também pela inconstância de humor, o PMDB, do vice-presidente Michel Temer. O partido deve assumir, em fevereiro, o comando das duas Casas legislativas.
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“Ela vai ter de mudar. Do contrário, o risco é grande, porque fica sem interlocução. Ela é uma presidenta focada, percebida como equilibrada e nacionalista, que age com firmeza. Mas tem esse problema de centralização. Confia em pouca gente, tem um humor que oscila com muita celeridade. E as pessoas têm medo de levar matérias para despacho com ela. Isso é muito preocupante”, avalia Antônio Augusto.
“Bolas divididas”
O deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) e o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) são os nomes mais cotados para conduzir a pauta legislativa no biênio 2013 e 2014. “O governo fica mais na mão do PMDB. Sarney e Marco Maia seriam mais propensos a seguir o governo na maioria das bolas divididas”, diz o analista político, comparando os atuais presidentes do Senado e da Câmara com os seus prováveis sucessores. Conhecido pelo insaciável apetite por cargos públicos, o PMDB alia governistas, oposicionistas e “independentes”, além de abrigar parlamentares que votam contra o governo quando têm seus interesses contrariados ou ameaçados.
Para ele, o governo poderia ter evitado derrotas como as que teve na votação do Código Florestal e dos royalties do petróleo se tivesse melhor articulação política. E a responsabilidade por esses insucessos, avalia, não é dos líderes partidários. “Faltou aos líderes orientação, por um lado. E cumprimento de acordos que foram firmados pelo governo, principalmente no que diz respeito à liberação de emendas. Acho que a menor culpa nesse processo é dos líderes, porque, para assumir compromisso, eles precisam de respaldo. A ministra Ideli fica em situação delicada porque depende da presidenta”, considera.
Isolamento
Na avaliação de Antônio Augusto Queiroz, por não confiar plenamente nas pessoas que a cercam, Dilma despende parte do seu tempo fazendo trabalho que deveria delegar a assessores, atrasando decisões e reduzindo sua agenda para a interlocução política. “Se ela se isola e vai para o enfrentamento, isso quebra a relação de confiança, esgarça a disputa, e aí dificulta completamente a condução dos temas. Esse estilo atrapalha”, afirma.
O analista político diz que a presidenta tem um desafio fundamental em 2013. “Para Dilma, não basta fazer como o Lula, que incluiu milhões de pessoas no consumo com políticas afirmativas. Ela tem de manter a política econômica com estabilidade. Fez isso reduzindo a taxa de juros, mas precisa adotar medidas universais porque apenas políticas de transferência de renda não vão manter incluídos esses milhões de brasileiros que migraram. Se não tiver investimento em saúde e educação, essas pessoas vão voltar ao plano anterior”, observa.
Apesar das críticas ao “estilo Dilma”, Antônio Augusto de Queiroz entende que outras características da presidenta a tornam a pessoa certa para o lugar certo no momento certo. “Não fosse o fato de ter uma presidenta que é inatacável do ponto de vista ético e moral, certamente os brasileiros já estariam nas ruas para cobrar decência e probidade na coisa pública”, acredita. “Se ela não tivesse esse perfil, o Brasil estaria em momento de profunda comoção. Hoje a oposição e a imprensa não focam nela, porque sabem que essas denúncias não pregam nela, por causa do seu passado limpo”, acrescenta.
Pauta em queda
Nesta entrevista exclusiva ao Congresso em Foco, o diretor de Documentação do Diap ainda avalia a produção legislativa de deputados e senadores. Para ele, o Congresso produziu menos, tanto quantitativa como qualitativamente, em relação ao ano passado. Uma queda que, segundo ele, pode ser explicada pela conjuntura.
O agravamento da crise econômica internacional, que obrigou o governo a encurtar sua pauta; as eleições municipais, que inibiram as votações, e o caso Cachoeira, que elevou o embate entre governo e oposição, ajudam a explicar a redução do ritmo da produção legislativa em 2012. “Ano que vem não tem eleição. O grosso da crise terá saído de cena. O país estará focado na retomada do crescimento porque as medidas tomadas agora começam a produzir resultados. Nesse particular, o Congresso terá pauta muito extensiva”, prevê.
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