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Depois, Luiz Carlos Pimentel, agente da PF que trabalha no setor de Inteligência no Distrito Federal, afirmou que as investigações revelaram que nenhum outro grupo tentou abrir jogos no entorno do DF e em Goiás, região de atuação do grupo. O policial depôs como testemunha de acusação. Ele sugeriu que policiais acobertavam as ilegalidades ao dizer que muitos faziam trabalho pela região. Como chefe-substituto do serviço de inteligência da Polícia Federal, o depoente coordenava os trabalhos e fazia análise de alguns dos alvos da operação.
Os dois depoimentos deram início a uma série de audiências de instrução e julgamento de Carlos Augusto de Almeida Ramos, o Carlinhos Cachoeira, e outros sete réus envolvidos no esquema do bicheiro. Cachoeira deverá depor nesta quarta-feira (25). Além dele, também deporão Gleyb Ferreira da Cruz, Idalberto Matias de Araujo, o Dadá, José Olímpio de Queiroga Neto, Lenine Araújo de Souza, Raimundo Washington de Sousa e Wladimir Garcez. Geovani Pereira da Silva também é réu no processo, mas está foragido.
Como consequência da Operação Monte Carlo, 81 pessoas foram denunciadas e o processo foi desmembrado em dois. Um deles é para os réus com mandado de prisão, como Cachoeira, e o outro congrega 73 acusados.
Demóstenes
Segundo Fábio Alvarez, o ex-senador Demóstenes Torres não teve envolvimento com o jogo ilegal. Ele afirmou que não foram identificadas durante as investigações da Operação Monte Carlo tais relações e que todas as ligações que não tinham relações com o jogo propriamente dito eram encaminhadas para autoridades competentes, que davam continuidade ao processo. Entre os áudios estavam os que flagraram Demóstenes conversando com Cachoeira.
Fábio Alvarez foi questionado pela procuradora Léa Batista, do Ministério Público Federal. Ele informou que Cachoeira foi identificado como líder da organização criminosa ainda no início das investigações. Os próprios integrantes do grupo o chamavam assim, segundo o policial. Fábio disse ainda que José Olímpio Queiroga era o orientador das casas de bingo, e Geovani Pereira, o contador do grupo.
O agente detalhou o início das investigações, que partiram das interceptações telefônicas para a identificação dos integrantes da organização. Foi aí que se descobriu que o grupo usava rádios cadastrados no exterior. Fábio contou ainda que Cachoeira pediu informações às Polícias Civil, Militar e Federal e obteve o que queria. O responsável por fazer o contato era o delegado da PF Fernando Bayron, e a Polícia Civil informava sobre os locais das operações de busca e apreensão de máquinas caça-níqueis, fato também relatado pelo policial Luiz Carlos Pimentel.
Segundo Fábio, Cachoeira chegou a pedir informações ao delegado e ao ex-sargento da Aeronáutica Idalberto Matias de Araújo sobre a interceptação dos rádios. No depoimento, o policial informou que policiais militares atuavam dentro e fora das casas de jogos ilegais fazendo a proteção delas, e que um policial identificado como major Silva protegia todo o grupo. Além disso, o esquema não permitia que nenhum outro contraventor de fora do grupo abrisse casas de jogos ilegais em Goiás e no entorno do Distrito Federal.
Luxo
Assim que terminou seu depoimento, Fábio foi interrogado por Dora Cavalcante, defensora de Cachoeira. O agente afirmou que todas as gravações que evidenciaram a relação do ex-senador Demóstenes Torres com Cachoeira foram encaminhadas às autoridades policiais competentes para que providências fossem tomadas. Segundo ele, tudo o que aparecia nas gravações mas não tinha com os jogos ilegais não era anexado aos inquéritos da Operação Monte Carlo.
Em seguida, Pimentel contou que o que despertou a atenção da Polícia Federal foi o grande número de carros de luxo em regiões muito pobres. “Eram muitos locais, próximos uns dos outros, e começou a ficar descarada a ação criminosa e o grande número de máquinas caça-níqueis.” O agente revelou que o grupo criminoso controlava a atividade de jogos ilegais, principalmente nas cidades de Águas Lindas e Valparaíso de Goiás.
A defesa tentou desqualificar a testemunha, alegando que ela teria interesse na acusação. Pimentel respondeu que “por ser o servidor mais antigo do setor, tinha a função de análise e coordenação dos trabalhos do grupo”. A defesa contradisse a testemunha por acreditar que ela seja muito próxima da acusação. Pimentel afirmou que não tem interesse na operação. “Sou policial federal e só tenho compromisso com a verdade.”
Os dois agentes contaram que as investigações tiveram início a partir de um requerimento do Ministério Público de Valparaíso (GO) após terem observado a expansão de atividades em casas de jogos ilegais na região. No início, os alvos eram apenas três pessoas: Raimundo Washington, Major Silva e José Olímpio. No entanto, outro nome apareceu no transcorrer da investigação – o de Lenine Araújo, identificado como “baixinho”.
A partir da interceptação do rádio de Lenine, a Polícia Federal percebeu que o aparelho era registrado em outro país. Segundo Pimentel, era Lenine quem intermediava as ações de Cachoeira no entorno do DF e tinha consciência da influência que o grupo tinha na segurança pública de Goiás. Geovani Pereira, que é apontado com o contador do grupo, prestava contas diretamente a Carlinhos Cachoeira, afirmou o depoente.
Chefe da contravenção
Preso desde 29 de fevereiro, Cachoeira é acusado de chefiar uma quadrilha que comandava jogos ilegais além de utilizar sua influência no estado para obter vantagens pessoais com agentes públicos e privados, como o ex-senador Demóstenes Torres. Caso Cachoeira decida falar no tribunal, será a primeira vez que ele dará a sua versão da história que o envolve.
Quando compareceu à CPI que leva seu nome no Congresso Nacional, o bicheiro usou o direito constitucional de ficar calado. No entanto, a mulher de Cachoeira, Andressa Mendonça, já afirmou diversas vezes que ele pode falar tudo o que sabe. No Congresso Cachoeira afirmou que “tem muito a dizer” e que o faria “em breve”, mas só depois da audiência na Justiça de Goiás.
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Com informações do UOL