A presidenta Dilma Rousseff está disposta a exonerar o ministro da Defesa, Nelson Jobim. Na verdade, ela espera que ele mesmo peça demissão, poupando-a do trabalho de afastá-lo. Antes de tomar uma decisão, porém, ela resolveu dar a Jobim uma última chance. Alcançou-o em Tabatinga, para onde ele foi em missão como ministro, e chamou-o para uma conversa. A decisão final sobre o destino de Jobim dependerá das explicações que ele der nessa conversa. Como, porém, Jobim nos últimos dias tem dado declarações reiteradas que desagradam e irritam Dilma, a tendência, de acordo com fontes do Planalto, é de que ela, após a conversa, afaste mesmo Nelson Jobim.
A avaliação feita no Palácio do Planalto é que Jobim, insatisfeito com a retirada de atribuições na passagem do governo Lula para o governo Dilma começou a criar situações para ser mesmo demitido. Primeiro, numa homenagem ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, fez rasgados elogios a ele (Jobim foi ministro da Justiça de Fernando Henrique) e críticas que pareciam dirigidas a Dilma e seu governo. Jobim disse no discurso que, agora, “tem de tolerar os idiotas”. Ele citou uma frase do dramaturgo Nelson Rodrigues, que dizia que, antigamente, os idiotas “chegavam devagar e ficaram quietos” e que, agora, “os idiotas perderam a modéstia”. Irritada, Dilma pediu a Jobim que se explicasse. E ele disse que os “idiotas” não eram as pessoas do governo, mas “os jornalistas”.
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O ministro da Defesa foi além. Ministro da Defesa também no governo Lula, ele declarou, em entrevista ao jornal Folha de São Paulo que, em 2010, não votou em Dilma para presidente, mas em José Serra, do PSDB, o candidato da oposição. Ou seja: Jobim declarava explicitamente que era conta a continuidade do governo do qual ele fazia parte, e que não confiava na capacidade da candidata da qual, depois de eleita, ele virou ministro.
A gota d’água foi uma entrevista concedida por Jobim à revista Piauí. Na entrevista, que ainda não foi às bancas, Jobim classificou a ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, de “fraquinha” e disse que a ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, “sequer conhece Brasília”. Gleisi e Ideli são escolhas da própria Dilma, que as nomeou como sua solução para a crise que se instalou com a demissão de Antonio Palocci da Casa Civil. As duas ministras tornaram-se as auxiliares mais próximas da presidenta. Assim, criticá-las foi interpretado por Dilma como uma ofensa a ela e às suas escolhas na administração do governo.
Arrogante
Irritada, Dilma mandou Jobim voltar de Tabatinga para ter com ele a conversa final. O ministro da Defesa deve chegar por volta das 19h. Segundo fontes do Planalto, a essa altura é muito pouco provável que Dilma dê uma nova chance a Jobim, mas ninguém ainda se arrisca a confirmar que ele já esteja demitido.
A avaliação que se faz é que Dilma e Jobim, ambos de temperamentos muito fortes, não conseguiram conviver. Dilma costuma ser ríspida com seus subordinados, e Jobim também. A combinação dos dois temperamentos gerou faíscas.
De acordo com fonte próxima do Palácio, Dilma considera Jobim arrogante e fanfarrão. E acha que o ministro julgou que poderia se escorar na boa relação que conseguiu estabelecer no meio militar. Desde a criação por Fernando Henrique do Ministério da Defesa, a maioria dos ministros civis que por ali passaram tiveram dificuldades com os comandantes militares. Jobim conseguiu impor essa autoridade, Dilma reconhece. Mas nem por isso, considera ela, é insubstituível.
Caso Jobim saia mesmo, a solução tende a ser a mesma usada pelo ex-presidente Lula quando colocou José Alencar como ministro da Defesa. O substituto seria o vice-presidente Michel Temer.
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