O ex-boxeador e hoje deputado federal Acelino “Popó” Freitas (PRB-BA) é um dos congressistas que participaram, no último dia 29, de um jogo beneficente de futebol em Rio Branco, com a alegada intenção de arrecadar donativos para vítimas da enchente no Rio Acre, em fevereiro. Ao fim da partida, organizada pelo senador Sérgio Petecão (PSD-AC), Popó parecia estar naquele período pós-luta em que, ainda na adrenalina e ensopados de suor, lutadores desafiam para o próximo embate o detentor do “cinturão” de campeão: ele reclamava do fato de o governador do Acre, o petista Tião Viana, ter proibido a Defesa Civil de receber as doações. Tião e Petecão são ferrenhos adversários políticos.
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Em um primeiro momento irônico e, em seguida, de forma enfática, Popó foi filmado (veja o vídeo abaixo) como costumava derrubar seus adversários nos ringues do mundo: sem camisa, olhar fixo e irado em direção ao oponente – no caso, as lentes de filmagem de um celular, em mensagem endereçada ao governador. “Isso é uma falta de vergonha… Já tá eleito, né, governador? Já tá bom… Na governadoria tem muita comida, e em sua casa… E as pessoas que estão aí passando fome, necessitando, estão proibidas de receber o alimento!”, golpeia Popó, aumentando o tom em seguida.
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Assista ao vídeo em que Popó “encara” Tião Viana:
“O senhor nunca mais vai ser eleger. Se precisar de mim para pedir voto contra o senhor, eu vou pedir!”, acrescentou o deputado, reforçando que, enquanto Tião tem fartura, parcela do povo acreano carece de condições mínimas de sobrevivência. É quando o discurso do baiano Popó ganha contornos mais dramáticos, com menção à origem pobre na periferia de Salvador.
“Para um cara que dormiu no chão e passou fome até os 23 anos, que é meu caso… eu sei o que é passar fome. O senhor não sabe, não! Tá aí na boa, né?”, provoca Popó, que mostrou discrição em seu primeiro ano como congressista, como este site mostrou em julho de 2011.
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Oito gols
Na imprensa acreana, o caso tem características de disputa política regional. Alguns dizem que Tião, que não prestigiou a partida de futebol, ignorou a iniciativa e seu caráter beneficente. Outros se apressam em dizer que o Gabinete Civil do Governo do Acre apenas orientou os organizadores do evento em um primeiro momento, quando Tião determinou o não recebimento dos donativos. Houve até quem tenha apontado desvio de recursos na bilheteria do jogo, cuja motivação seria meramente política. Por fim, a Defesa Civil foi autorizada a receber as doações, e aliados do governador anunciaram nota de repúdio, formalizada na Assembleia Legislativa do Acre, às declarações de Popó.
O evento, intitulado “Jogo da solidariedade”, levou a campo do Estádio Florestão, na capital Rio Branco, um time de congressistas de Brasília contra uma equipe acreana formado por empresários, políticos e pastores locais. Mais de 40 boleiros foram inscritos para disputar a partida, que teve entrada a R$ 10, mais um quilo de alimento não perecível. Mais de seis mil pessoas, segundo a imprensa local, viram o time de Romário e Tiririca vencer o combinado acreano por 5 a 3.
Participaram da peleja, do lado do Congresso, alguns ex-craques dos gramados, todos agora deputados: Romário (PSB-RJ), o craque da seleção; Deley (PSC-RJ), o meio-campo do Fluminense campeão de 1984 que dormiu com os “recônditos da alma lavada” em 2010, no tricampeonato tricolor; e Danrley (PSD-RS), a “parede” que já evitou muitos gols contra o Grêmio de Porto Alegre.
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Em tempo: o jogo aconteceu em uma quinta-feira à noite, e os parlamentares embarcaram em Brasília rumo ao Acre pela manhã. À parte a causa nobre, nada de atividade legislativa para os congressistas-boleiros naquele dia, bem como no dia seguinte, quando há o natural “retorno às bases”. Câmara e Senado funcionaram normalmente nos dias 29 e 30: entre outras atividades, o Congresso promulgou aposentadoria integral por invalidez para servidores; a Frente Parlamentar de Combate à corrupção pediu acesso a informações sobre deputados citados em investigação da Polícia Federal; e até o deputado Anthony Garotinho (PR-RJ) foi ao plenário anunciar que pedirá o fim do pagamento a deputados e senadores licenciados, “um desrespeito ao povo brasileiro”, depois de ler matéria do Congresso em Foco sobre tal benesse concedida pelo Congresso às excelências.
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