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“Eu poderia dizer que esse cidadão está aqui fazendo papel de palhaço, que era melhor esse cidadão pendurar uma melancia no pescoço para poder aqui aparecer”, disse o parlamentar fluminense, que fazia uso da palavra em uma das duas tribunas do plenário. “Vossa excelência me respeite! Vossa excelência é obrigado…”, começou a responder Cid Gomes, na outra extremidade do púlpito, interrompido pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), seu desafeto declarado.
“Há um orador com a palavra, vossa excelência não pode interrompê-lo! Vossa excelência sequer é parlamentar para usar a tribuna!”, vociferou Cunha, enquanto via Cid Gomes se retirar do plenário. Com a retirada, instalou-se uma gritaria e a movimentação de parlamentares e seguranças institucionais ao redor do ministro.
“Se o Executivo permite que um de seus ministros venha a esta Casa e a desrespeite, essa Casa terá de reagir, não tenho a menor dúvida disso”, completou Cunha, depois de um discurso de desagravo final, antes de encerrar a comissão geral para dar início à ordem do dia. Ele disse que a Câmara ajuizará interpelação judicial contra Cid imediatamente.
Fogo cruzado
No início da sessão, depois de Cid Gomes fazer o mea culpa de praxe, tentando explicar o que havia dito – mas sem dizer quem compõe as centenas de “achacadores” (nos dicionários, gatunos, chantagistas, ladrões etc) –, deu-se uma espécie de consenso de que ele falava de governistas. Parlamentares que, devido à situação de aliados ao governo da hora, prestam-se a negociatas em interesse próprio.
Mas, em determinado momento de sua explanação, Cid passou ao ataque ao lembra que sua fala havia sido dita em “local reservado”, em uma universidade pública, e vazada com a intenção de polemizar o assunto. Repetindo o que havia dito na ocasião, ele explicou que, para aprovar o orçamento, deputados e senadores se valem de sua prerrogativa para negociar nacos das verbas federais em benefício próprio. “Criar dificuldades para conseguir facilidades”, filosofou o ministro.
E passou a responder ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que no início de março rebateu publicamente as declarações do ministro (“Um governo que tem como lema ‘Pátria Educadora’ não pode ter um ministro da Educação mal-educado”, disse Cunha). “Eu fui acusado de mal educado. Pois muito bem: prefiro ser acusado por ele de mal educado, do que ser acusado de achaque, como ele”, atacou Cid, abrindo os trabalhos na ofensiva e apontando para Cunha, que apenas o observava.
Um dos primeiros a interpelar Cid Gomes, o líder do DEM na Câmara, Mendonça Filho (PE), foi direto. “Só há duas opções: ou o ministro se demite do cargo, ou a presidente Dilma demite o ministro. Ou então os 400 deputados da base do governo assumem que são achacadores e aí o ministro fica no cargo”, defendeu Mendonça.
O procurador da Câmara, Cláudio Cajado (DEM-BA), subiu à tribuna institucionalmente e, com legislação impressa em mãos, passou a ler normas da administração pública federal, interrompendo a leitura vez ou outra para se dirigir diretamente ao ministro – avisando que Cid teria incorrido, por exemplo, em “ato de improbidade pública”.
“O achaque que vossa excelência faz é financiado com dinheiro público que, ao invés de servir para construir escolas, vai para os corruptos!”, bradou Cajado, praticamente exigindo uma retratação completa de Cid, por meio da apresentação de nomes. “Quem não conhece vossa excelência que o compre”, vociferou o Cabo Sabino (PR-CE), dizendo que Cid tem uma postura no Ceará e outra no Parlamento. “Hoje o senhor vem a essa Casa debaixo de vara!”
Sinal
No fim da sessão, Cid Gomes fez um discurso interpretado como uma provável indicação de que estaria de saída do governo Dilma. Mantendo o tom das críticas aos parlamentares que se valem das prerrogativas do mandato em benefício próprio, o ministro baixou o tom e declarou:
“Estou aqui com toda humildade nesta Casa em respeito ao Parlamento brasileiro”, reafirmou Ciro, voltando à referência àqueles que apostam no “quanto pior, melhor” para depois negociar ministérios, por exemplo.
“Vim do nada e para o nada retornarei. Aceitei o desafio de ser ministro da presidenta da República porque sei que ela é séria, bem intencionada, e é vítima de diversos setores da sociedade brasileira”, emendou o ministro, ganhando aplausos dos correligionários.
As declarações que culminaram na briga em plenário foram feitas por Cid Durante visita à Universidade Federal do Pará. “Tem lá [no Congresso] uns 400 deputados, 300 deputados que, quanto pior, melhor para eles. Eles querem é que o governo esteja frágil porque é a forma de eles achacarem mais, tomarem mais, tirarem mais dele, aprovarem as emendas impositivas”, declarou o ministro, sem saber que estavam gravando sua fala.
STF notifica Cid Gomes a prestar esclarecimentos sobre “achacadores”