Está cada vez mais complicada a situação do líder do DEM no Senado, Demóstenes Torres (GO), um dos principais nomes do partido. Em reportagem sobre as ligações do parlamentar com o bicheiro Carlos Augusto Ramos, o “Carlinhos Cachoeira”, a edição deste fim de semana da revista CartaCapital informa que relatórios da Polícia Federal em Goiânia revelam que o senador “tinha direito a 30% da arrecadação geral do esquema de jogo clandestino” operado por Cachoeira em Goiás e na periferia de Brasília.
Segundo a publicação, tal movimentação financeira totalizou cerca de R$ 170 milhões nos últimos seis anos. As investigações da PF revelaram que 8 mil máquinas ilegais de caça-níqueis e 1,5 mil pontos de exploração de bingo eram utilizados no esquema, cujo lucro seria parcialmente direcionado, via caixa dois, para a agora incerta candidatura de Demóstenes ao governo de Goiás.
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Intitulada “Os 30% de Demóstenes”, a reportagem diz que a Polícia Federal sabe das relações entre o senador e o bicheiro desde 2006, no âmbito da Operação Monte Carlo. Segundo a CartaCapital, Demóstenes pode ter embolsado cerca de R$ 50 milhões a partir do esquema, cálculo feito pela própria PF, com base nas investigações constantes do “Relatório Sigiloso de Análise da Operação Monte Carlo”, que está sob os cuidados do Núcleo de Inteligência Policial da Superintendência da PF em Brasília.
“Na época, o império do bicheiro incluía 8 mil máquinas ilegais de caça-níqueis e 1,5 mil pontos de bingos. Como somente no mês passado a jogatina foi desbaratada, na Operação Monte Carlo, as contas apresentadas pela PF demonstram que a parte do parlamentar deve ter ficado em torno de 50 milhões de reais. O dinheiro, segundo a PF, estava sendo direcionado para a futura candidatura de Demóstenes ao governo de Goiás, via caixa dois”, para quem o senador conseguiu manter o caso longe dos holofotes “por conta de um expediente tipicamente mafioso: ao invés de se defender, comprou o delegado da PF”.
Segundo a reportagem, um dos agentes da PF foi cooptado pela quadrilha encabeçada por Carlinhos Cachoeira, o que teria atrapalhado e atrasado os trabalhos investigativos. “A participação do senador Demóstenes Torres só foi novamente levantada pela PF em 2008, quando uma operação também voltada à repressão de jogo ilegal, batizada de ‘Las Vegas’, o flagrou em grampos telefônicos em tratativas com Carlinhos Cachoeira. Novamente, o parlamentar conseguiu se safar graças a uma estranha posição da Procuradoria Geral da República, que recebeu o inquérito da PF, em 2009, mas jamais deu andamento ao caso”, concluiu a revista.
Por meio de sua assessoria de imprensa, Demóstenes, que não esteve no Senado nesta sexta-feira (23), adiantou que não vai comentar qualquer assunto referente às investigações da PF. O senador também informou que não divulgará nota de esclarecimento sobre o assunto. Mas o deputado Delegado Protógenes (PCdoB-SP) pode obrigar o senador a falar, caso seja concretizada a abertura de comissão parlamentar de inquérito articulada pelo parlamentar paulista – que conseguiu, com folga, o número mínimo de 171 assinaturas de adesão, protocolando requerimento de instalação na última terça-feira.
Página policial
Na semana passada, este site registrou que senadores já se mobilizavam para ajuizar ação no Supremo Tribunal Federal contra Demóstenes, como reação a outra reportagem sobre o envolvimento do senador com Cachoeira. Segundo a versão on-line da revista Época, o bicheiro habilitou em Miami 15 aparelhos de rádio Nextel e distribuiu para pessoas de sua confiança, entre eles o senador, com o objetivo de evitar escutas telefônicas, legais ou ilegais, que flagrassem conversar sobre o esquema clandestino investigado pela PF. Antes da representação, no entanto, os parlamentares queriam ouvir Demóstenes sobre as denúncias.
Senadores querem ouvir Demóstenes antes de representação no STF
Nas últimas semanas, notícias sobre o caso Demóstenes-Cachoeira em diversos veículos têm posto o senador em situação cada vez mais delicada. Edição de hoje (sexta-feira) do jornal O Globo, por exemplo, noticia que Demóstenes pediu dinheiro e vazou informações de reuniões oficiais ao bicheiro, segundo escutas telefônicas feitas pela PF. Segundo o veículo fluminense, relatórios sobre o registro e “outros graves indícios” foram encaminhados pela polícia à Procuradoria Geral da República (PGR) em 2009, mas o procurador-geral, Roberto Gurgel, “não tomou qualquer providência para esclarecer o caso”.
Diante da avalanche de notícias comprometedoras para Demóstenes, parlamentares do PT e do Psol integrantes da Frente Parlamentar de Combate à Corrupção irão à PGR, na próxima terça-feira (27), para questionar Gurgel sobre a lentidão do processo. Além disso, os congressistas devem protocolar pedido de urgência para apressar a análise do caso na PGR. “É de se estranhar essa lentidão para abertura de inquérito. De nossa parte, trata-se de zelo pela ética na política e defesa do próprio Congresso Nacional”, observa o líder do Psol na Câmara, Chico Alencar (RJ).