Deputada federal põe dinheiro na bolsa entregue por um operador de esquema de corrupção; desembargador pede ao governador cargo para seus parentes; governador tem os bens bloqueados por acusação de superfaturamento; dinheiro de emendas parlamentares é desviado; empresa de parlamentar é contratada para organizar eventos pagos com verbas públicas; investigação contra distrital é engavetada… A lista de desmandos envolvendo autoridades da política local em Brasília parece interminável.
Mas moradores da cidade resolveram parar de reclamar. No próximo dia 23 de agosto, eles saem às ruas em passeata e panfletagem contra a corrupção e a má administração da coisa pública. É o movimento “Reage, Brasília”, que acontecerá no Eixo Monumental da capital, mas no lado oposto ao Congresso Nacional, onde ficam os órgãos públicos distritais. O grupo de manifestantes vai entregar um manifesto ao governador de Brasília, Agnelo Queiroz (PT), e a representantes do Tribunal de Justiça e da Câmara Legislativa brasiliense. Ao final, vão promover um show cultural no Eixo Monumental.
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Motivação não falta para o protesto, embora seja difícil pontuar todos os casos. “Não foi um caso só. Foi o conjunto”, afirma o estudante de direito Diego Ramalho, de 24 anos, um dos coordenadores da manifestação.
Diego é um dos integrantes do movimento “Adote um Distrital”, pelo qual as pessoas escolhem um dos deputados para fiscalizar e denunciar seus desvios. A continuação de denúncias de irregularidades e de situações de impunidade em Brasília mesmo depois do escândalo do mensalão comandado pelo ex-governador José Roberto Arruda levou os integrantes do grupo à ideia de uma reação organizada contra a situação. “A gente falou: ‘Vamos ficar só reclamando ou vamos fazer alguma coisa?’. Aí começou a mobilização nas redes sociais”, conta Ramalho. A partir desta semana, começa a articulação para pedir apoio a entidades como a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), sindicatos e igrejas, além do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE) local.
O “Reage, Brasília” convida toda a população a participar. Quem não puder ir, poderá manifestar seu apoio usando camisetas pretas ou colocando tarjas negras nos braços ou nos carros. Ramalho diz que dedicar parte da vida aos movimentos sociais e ao exercício da cidadania dá um pouco de trabalho, mas vale a pena.
“Com certeza, não é todo mundo que faz isso, mas se cada um fizer um pouquinho, fiscalizando na sua cidade, é bem menos trabalho”, diz o estudante de direito. “Mas é tudo um processo”, conta ele.
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Ramalho e outras 23 pessoas coordenam um grupo de pessoas que monitoram de perto o Poder Legislativo local. O movimento “Adote um distrital” funciona assim: cada pessoa “apadrinha” um deputado distrital da Câmara Legislativa do Distrito Federal. A partir daí, passa a acompanhar de perto o mandato dele: votações, gastos de verba indenizatória, doações de campanha, reportagens que citam seu nome.
O “padrinho” do político passa a mandar mensagens eletrônicas para o distrital cobrando determinadas posturas. E mais: tudo o que é feito é publicado no site do movimento. Lá, há todas as informações sobre os 24 deputados da Câmara Legislativa. Veja o site www.adoteumdistrital.com.br
Qualquer um pode adotar um deputado. Basta escolher um deles na lista de biografias do site e preencher um cadastro no site. Depois, os coordenadores do “Adote” entram em contato com o voluntário e o integram à “rede” de pessoas que já apadrinham aquele político.
O grupo é ligado ao Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral de Brasília, ONG que conseguiu aprovar a lei da Ficha Limpa, aquela que impede políticos condenados por um colegiado de juízes de serem candidatos. De acordo com os organizadores do “Adote”, a ideia não é nova. Em São Paulo, o jornalista Milton Jung, da rádio CBN, conseguiu articular um grupo de 55 pessoas que fiscalizam atentamente cada um dos 55 vereadores da maior cidade do Brasil.
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