Leia também
Leia tudo sobre o Caso Cachoeira
Leia outros destaques de hoje no Congresso em Foco
“Eu trago aqui a verdade dos fatos. Pelo meu trabalho limpo, eu fui pago com dinheiro sujo”, afirmou. Durante sua fala inicial, que durou quase uma hora, o jornalista confirmou que a empresa Alberto & Pantoja – um fantasma do esquema de Cachoeira – depositou R$ 45 mil na conta da filha dele pelo trabalho que realizou durante a campanha de 2010 para o governador. Bordoni justificou que a filha recebeu o valor porque ele estaria viajando na época.
Os dados bancários foram passados ao ex-assessor especial do governador Lúcio Fiúza Gouthier, que, ontem (26) na CPI, nada disse, valendo-se do direito de não produzir provas contra si. “[Com relação ao dinheiro] não tem nada a ver com extorsão, pelo contrário. É trabalho prestado limpo, decentemente, desde 1998. São quatro vitórias consecutivas do meu ex-amigo Marconi Perillo.” O restante do dinheiro, segundo Bordoni, foi pago pela empresa Adécio & Rafael Construtora e Terraplenagem. De acordo com as investigações da Polícia Federal, a empresa Alberto e Pantoja é de fachada, usada por Cachoeira para lavar dinheiro da Delta Construções.
Bordoni disse ainda que acertou verbalmente, em conversa com Perillo, a sua atuação na campanha para produzir material de rádio. “Acertei pessoalmente com ele, contrato verbal entre amigos. […] O que existiu, de fato, foi um pagamento de caixa dois […]. Esperava ter sido pago com dinheiro limpo, não com dinheiro da contravenção, de caixa dois.”
O acerto foi de que a participação renderia R$ 120 mil durante a campanha e R$ 50 mil de bônus pela vitória. De acordo com o jornalista, do total acertado, foram pagos R$ 80 mil durante a campanha, sendo que ele recebeu R$ 40 mil do próprio Marconi Perillo, R$ 30 mil do setor financeiro da campanha e R$ 10 mil do ex-tesoureiro Jayme Rincón. Teria ficado faltando ainda uma parcela de R$ 90 mil – R$ 40 mil pela campanha e o restante referente ao bônus.
“Por Marconi, eu topava qualquer parada”
Durante seu depoimento, Bordoni ofereceu à CPI a quebra dos sigilos fiscal, bancário e telefônico dele e de sua filha, ao afirmar que não se preocupava em saber quem tinha depositado o dinheiro recebido. Ele disse ainda que Perillo faltou com a verdade quando depôs à CPI ao negar que houve caixa dois na campanha. “Para quê e por que eu iria mentir, meus amigos? Eu fiz um pacto com meu amigo Marconi. Quem tem amigos como tal, não precisa de inimigos”, disse.
Bordoni contou aos parlamentares que conhece Perillo desde que “era menino”, e que participou das campanhas do tucano desde o seu primeiro pleito, em 1998. Bordoni declarou ter sido “marconista” assumido e afirmou ter tido grande admiração pelo político, mas que se decepcionou com os últimos acontecimentos. “Por Marconi, eu topava qualquer parada”.
Clima quente
Durante o depoimento, os parlamentares da CPI chegaram a se exaltar quando o deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP) interrompeu a fala de Bordoni para dizer que ele estava fugindo do tema. O deputado Silvio Costa (PTB-PE) então interveio e afirmou que o jornalista estava detalhando tudo o que Marconi negara antes. Bordoni respondeu ao ataque dizendo que alguns senadores não estavam interessados em esclarecer nada.
Diante do enfrentamento, Sampaio gritou. “Isso é molecagem. Eu não admito que Vossa Excelência fale de mim, eu não concebo que Vossa Excelência se refira a mim”. O bate-boca começou quando Bordoni explicava sobre as interferências de Cachoeira no governo de Goiás.
Faltas
Das três testemunhas convocadas para depor à CPI do Cachoeira nesta quarta-feira (27), apenas o jornalista Luiz Carlos Bordoni aceitou explicar as denúncias contra ele. Além de Bordoni, foram chamados a ex-chefe de gabinete do governador de Goiás, Marconi Perillo, Eliane Pinheiro e o presidente da Agência Goiana de Transportes e Obras (Agetop), Jayme Rincón.
Eliane é suspeita de repassar informações policiais a Cachoeira e ao tesoureiro da campanha de Perillo em 2010. Ao ser chamada para depor, ela afirmou que por orientação “única e exclusiva” de seu advogado não responderia a nenhum questionamento e foi dispensada.
Jayme Rincón é acusado de receber R$ 600 mil de uma das empresas de Cachoeira. Ele não compareceu e enviou um segundo atestado médico à comissão para justificar a ausência. Segundo o atestado, Rincón não pode ser submetido a situações de estresse por sofrer de aneurisma e por isso, correria o risco de hemorragia cerebral caso fosse à CPI. Ele foi conovocado pela primeira vez em 30 de maio e pelo mesmo motivo não compareceu.
Embora tenha confirmado a veracidade do atestado com o médico que o assinou, o presidente da comissão, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB) convocou Rincón para realizar uma perícia médica no Senado.
A deputada Íris de Araújo (PMDB-GO) questionou o estado de saúde de Rincón, pois segundo a parlamentar, ele continua trabalhando normalmente na Agetop.
Deixe um comentário