Edjalma Borges
Especial para o Congresso em Foco
Cerca de 100 alunos da Escola Malaquias Ribeiro Damasceno, em São Lourenço do Piauí, a 528 km da capital Teresina, correm o risco de perder o ano letivo. Desde o início das aulas, em abril, os carros que transportavam os alunos, a maioria da zona rural, pararam de circular. Agora, para chegar à escola estadual, os estudantes dependem de caronas ou dos pais pagar uma condução.
No município e em outros que se encontram na mesma situação, como os vizinhos Dom Inocêncio e Dirceu Arcoverde, o transporte era feito por ônibus mantidos pela prefeitura, por meio de uma parceria com a Secretaria de Estado da Educação (Seduc). Por discordar do repasse e das exigências da Seduc, a parceria foi desfeita e a maioria dos alunos não consegue frequentar as aulas.
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Como grande parte dos estudantes se desloca da zona rural do município, os que possuem motocicletas fazem um trajeto de mais de 13 km até a sede. É o caso de Iago Ribeiro Paes Landim, de 17 anos, da localidade Lagoa Feia. Em um local onde a gasolina é vendida a cerca de R$ 5,00, os pais de Iago, que pelo custo não consegue ir todos os dias à aula, têm gastado mais de R$ 100 por mês para mantê-lo na escola. “Eu vou de moto, mas é muito ruim. Nossa moto não está boa e são 13 km e um litro de gasolina só dá para ir uma vez. Está muito ruim”, conta Iago.
“Ando três quilômetros até o ônibus da prefeitura que leva os alunos da Educação de Jovens e Adultos (EJA) e nos dá carona. Meu filho Leandro Gomes de Matos, de 17 anos, já desistiu de ir à escola por conta dessa dificuldade”, conta Julia Gomes de Sousa, estudante e mãe de aluno, de Cacimba dos Matos, distante a 16 km da sede do município.
Andrelina Gomes de Sousa, mãe do aluno Caio Levi, de 19 anos, conta que o filho vai de carona. Quando não consegue, não vai à aula, porque não tem mais como pagar o combustível da moto. “A gente cobra e dizem que vão colocar e nunca acontece, já está no segundo semestre e nada. Não podemos mais pagar combustível e ele já perdeu muitas aulas”, lamenta a mãe, que mora em Angico, distante 16 km da escola.
É comum os estudantes que vão de moto à escola sofrerem acidentes por conta das péssimas condições das estradas. É o caso de uma aluna de Lagoa das Vacas, que, em 28 de agosto, caiu da motocicleta e teve escoriações enquanto pilotava para chegar ao Malaquias Ribeiro Damasceno.
A Escola Malaquias Ribeiro Damasceno, que ficou conhecida após o ex-aluno Sérgio dos Santos Santana ser aprovado em Medicina na Universidade Federal do Piauí (UFPI), carece de sala de leitura, de quadra de esportes, laboratório de ciências e, ultimamente professor de Língua Portuguesa, após a professora dessa disciplina, Cláudia Assis Ribeiro assumir à direção da escola.
“Toda semana cobramos providência da 13ª Gerência Regional de Educação, que fica na cidade vizinha de São Raimundo Nonato, que por sua vez cobra a Seduc. É o que podemos fazer. Lamentamos que os alunos estejam sendo prejudicados e esperamos que logo isso seja resolvido”, disse a diretora.
Prefeitura versus estado
Procurada pela reportagem, a prefeita de São Lourenço, Michelle Oliveira (PP), disse que cobra, constantemente, o governo estadual e que a prefeitura mal consegue manter o transporte escolar da rede municipal.
“O estado é que deveria ajudar os municípios, e não o contrário. Praticamente toda semana cobro a secretária de Educação e seus assessores, mas só desculpas e mais desculpas. Esse problema não é só em São Lourenço, mas em vários municípios da região. O transporte que deveria ser por conta do estado, teoricamente, era para gerar emprego e renda para nosso município, pois o estado teria que contratar motoristas, fato que infelizmente não está ocorrendo e vem prejudicando os alunos e os motoristas que dependem disso para viver”, explicou a prefeita.
Já a secretaria estadual da Educação, que tem como titular Rejane Dias, esposa do governador do Piauí, Wellington Dias (PT), enviou nota à reportagem informando que o transporte escolar de São Lourenço era de responsabilidade da prefeitura, que rompeu o convênio com o governo ainda no primeiro semestre deste ano, deixando os estudantes sem transporte.
A secretaria alega que fez um termo aditivo ao contrato, que está em análise na Secretaria de Estado da Fazenda (Sefaz). A nota diz que a “Seduc corre contra o tempo” para que tão logo possa regularizar a situação do transporte nos municípios.
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O que esperar do futuro do Brasil? malditos corruptos, um dia vocês hão de pagar pelos seus crimes.