Líder do governo Temer no Senado, Romero Jucá (PMDB) fugiu ao estilo de busca pelo “entendimento” e, mesmo recuperando-se de uma diverticulite, subiu à tribuna para disparar críticas contra adversários e a atuação da imprensa. Sobrou até para o Supremo Tribunal Federal (STF). Na esteira do impasse sobre o afastamento de Aécio Neves (PSDB-MG) do mandato, determinado por cinco ministros da Primeira Turma do STF, Jucá exortou os pares de Legislativo a reverter a decisão em plenário. Mas o principal alvo do senador no discurso foi o ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot, que denunciou o “quadrilhão do PMDB”, mas recomendou o arquivamento de outra denúncia contra Jucá e outros peemedebistas.
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Jucá fez menção ao caso em que, junto com outros caciques do PMDB, foi acusado por Janot de obstrução de Justiça. Gravado em áudio pelo ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, no famigerado diálogo em que fala de “estancar a sangria” da Operação Lava Jato, o senador foi beneficiado com o arquivamento por insuficiência do conjunto probatório, segundo conclusão da Polícia Federal endossada por Janot.
Publicidade“Um ano e três meses depois, o Rodrigo Janot teve que engolir a sangria, teve que engolir as opiniões, as agressões, os absurdos, e teve que botar aquela assinatura canalha num pedido de arquivamento da ação contra nós”, disse o senador, que depois do discurso partiria para São Paulo para retomar o tratamento de saúde.
“A organização criminosa do Janot está caindo por terra”, acrescentou. O peemedebista se refere ao rompimento da delação premiada dos irmãos Batista, do Grup J&F (JBS), que levou a denúncias contra o presidente Michel Temer, o próprio Aécio e diversos outros figurões da política brasileira.
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No momento em que Jucá discursava, o ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no STF, negava um pedido de Aécio contra os termos do afastamento de seu mandato – além da suspensão das atividades parlamentares, o tucano também não pode viajar ao exterior, deve se recolher ao domicílio durante a noite e está proibido de ter contato com outros investigados.
A decisão deve levar senadores a analisar o ofício do Supremo sobre o caso Aécio, em plenário, com boas chances de reverter a situação do colega. A matéria já teve urgência de votação aprovada na última semana. No momento, a discussão está em curso no Senado, com discursos da tribuna, em processo de análise de requerimento para adiar dessa deliberação. A medir pela temperatura de plenário e pelo placar da aprovação da urgência (43 votos a 8), o requerimento deve ser rejeitado.
“Espero que esta Casa se dê ao respeito, porque se nós formos esperar que o Supremo marque, para quando quiser, uma votação para decidir o destino de senadores, por conta de uma ação a respeito de Eduardo Cunha, desculpem-me, é demais. Esta questão de Eduardo Cunha é de outra Casa, outra conjuntura, outra questão, que não cabe aqui hoje”, acrescentou Jucá, referindo-se ao afastamento do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ), condenado na Lava Jato e preso desde outubro de 2016 em Curitiba (PR), confirmada pelo Supremo em maio de 2016.
Quintal de casa
Jucá falou inclusive sobre seu caso pessoal, um dos políticos com mais complicações judiciais no STF. Apontado como um dos próceres do quadrilhão do PMDB no Senado, o peemedebista teve ainda membros de sua família investigados pela Polícia Federal em Roraima, no âmbito da Operação Anel de Giges. Ações de busca e apreensão, além de condução coercitiva, foram realizados na semana passada em endereços de Marina e Rodrigo Jucá, filhos do senador, e Ana Paula e Luciana Surita, enteadas dele e filhas da prefeita da capital roraimense, Teresa Surita, com quem o peemedebista foi casado.
Para Jucá, trata-se de mais uma ação midiática para criminalizar a classe política. “Não vou aceitar ser julgado pela turba midiática. A turba nunca foi boa conselheira”, disse, referindo-se à imprensa, particularmente às Organizações Globo. “A turba, agora, faz plim-plim.”
O único senador que aparteou o discurso de Jucá foi Fernando Collor (PTC-AL), réu na Lava Jato por corrupção e lavagem de dinheiro. Em sua intervenção, Collor, um dos principais desafetos de Janot no Congresso, chamou o ex-procurador de “calhorda”. Ao antecessor de Janot no comando do Ministério Público Federal (MPF), Roberto Gurgel, o senador alagoano reservou a classificação de “chantagista”.
Collor também defendeu que o Senado reverta a decisão do Supremo. “Fico pasmo com os meandros por onde percorrem certos juristas para justificar a legalidade da medida imposta a um Senador desta Casa. A explicação é uma só e não cabe interpretação. Ela está clara, límpida, cristalina, no texto da nossa Carta Maior. […] Se a legitimidade numa democracia é dada pelo voto, nenhum Poder é mais legítimo do que o Legislativo. E é esse Legislativo que vem sendo achincalhado, criminalizado”, discursou o senador.
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