Durante mais de cinco horas, o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, foi questionado por senadores nesta quarta-feira (24) em sessão temática da Casa sobre as vacinas contra a covid-19. Parlamentares reclamaram que o chanceler divagou, fugiu do tema, e não respondeu a grande parte das perguntas.
A sessão foi realizada pelo Senado Federal no dia em que o país ultrapassou o lamentável número de mais de 300 mil vidas perdidas na pandemia e com a vacinação ainda engatinhando. Assim, em meio à fase mais letal da crise sanitária no Brasil e ao colapso no sistema de saúde, senadores defenderam veementemente na sessão que Ernesto não tem mais condições de comandar a pasta e deve pedir demissão.
O chanceler foi questionado diversas vezes sobre se a atual política externa brasileira e a postura do governo de Jair Bolsonaro não está prejudicando, por exemplo, a negociação de vacinas com países como a China e os Estados Unidos. As perguntas miraram também quais esforços o ministério de fato tem adotado para acelerar a imunização da população e frear a contaminação pelo coronavírus.
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Pela manhã, Ernesto Araújo já tinha participado de uma sessão da Comissão de Relações Exteriores da Câmara onde também ouviu questionamentos semelhantes. Nas respostas dadas aos deputados, assim como aos senadores, o ministro negou qualquer problema nas negociações com países como a China.
Veja trecho da fala de Ernesto na Câmara:
PublicidadeErnesto afirmou que muitas das críticas feitas pelos senadores à atuação do Itamaraty não estavam bem embasadas ou que se tratavam de afirmações subjetivas.
“Essas expressões do tipo: ‘Ah, eu ou o Ministério das Relações Exteriores tem atuado contra os interesses do Brasil’, eu não vejo onde. Gostaria que me indicassem o que acham que na nossa atuação tem sido contra os interesses do Brasil. É claro que nós não somos perfeitos, mas eu tenho certeza de que estamos fazendo tudo pelos interesses do Brasil, tudo de maneira constitucional”, argumentou.
O ministro afirmou estar reformando a política externa brasileira para torná-la mais “dinâmica”, capaz de trazer investimentos e empregos e, principalmente, para permitir a independência nacional e a defesa da “soberania” do país.
“Agora, essa ideia que algumas de vossas excelências estão alegando de que há uma deficiência no trabalho do Itamaraty na questão das vacinas, isso é absolutamente improcedente. Tenho aqui todos os elementos para mostrar que nós temos conseguido obter tudo aquilo que está dentro da estratégia do plano de vacinação brasileiro”, insistiu o ministro.
Outro fato chamou a atenção durante a sabatina: acompanhando o chanceler Ernesto Araújo, o assessor para assuntos internacionais do presidente Jair Bolsonaro, Filipe G. Martins, fez um gesto, captado pela TV Senado, e que revoltou senadores. O ato enfureceu ainda mais os parlamentares, e o presidente Rodrigo Pacheco (DEM-MG) anunciou que o caso será investigado pela corte.
Pede pra sair!
Na medida em que a sessão foi avançando e os senadores foram se indignando ainda mais com a falta de respostas por parte do ministro. Em um retrato da urgência de ações eficazes, a senadora Simone Tebet (MDB-MS) relatou que, ao longo da sessão, recebeu a súplica de um hospital de seu estado com por medicamentos em falta e que foi informada de que uma de suas funcionárias, de 30 anos de idade, foi diagnosticada com covid-19 e estava passando muito mal.
A seguir, algumas das críticas à atuação e súplicas pela demissão do ministro:
Mara Gabrilli (PSDB-SP): “A gente não quer discutir o passado. A gente precisa discutir o presente. O senhor saiu do assunto vacina, o senhor saiu do assunto Covid, o senhor ficou divagando. […] E eu repito, eu volto a dizer: o senhor não responde e o senhor não está funcionando. Olhe a reação de todos os Senadores com relação ao senhor. E o senhor demonstra isso em cada resposta, porque o senhor divaga, o senhor não consegue responder […] Eu insisto para o senhor: pede para sair, Ministro! Chega! O senhor está fazendo o Brasil perder tempo, e isso está levando a muita morte. Então, chega! Vamos dar um basta nisso!”
Randolfe Rodrigues (Rede-AP): “Nós estamos precisando agora das vacinas dos Estados Unidos e dos insumos para vacinas feitos pelos chineses. Vocês não pediram desculpas à China pelas ofensas que foram proferidas! Sr. Ministro, me permita! Sr. Presidente, me permita! Veja: eu acredito que, a esta altura, o senhor não teria condições de ser Ministro, com todo o respeito, nem no Afeganistão, nem na República Centro-Africana, nem no Reino de Tonga, que, lamentavelmente, são alguns dos poucos países que recebem agora livremente brasileiros sem restrições. Faça coro com meus colegas: o senhor não tem condições de ser Ministro! Faça um favor em homenagem aos 300 mil brasileiros que perderam a vida: renuncia a este cargo, peça para sair!”.
Simone Tebet (MDB-MS): “nós estamos aqui numa reunião sem sentido, diante de um Ministro que não reconhece qualquer falha. Ministro, vossa excelência é unanimidade no Senado Federal – coisa que eu nunca vi –, unanimidade de rejeição e de incompetência! Não há outro caminho, ministro. Nada de vossa excelência ou do Ministério de vossa excelência, infelizmente, chegou ao fim. Tem que realmente sair, porque é um elemento, diante de uma pandemia, que atrapalha o processo até pelas próprias atitudes que tomou até hoje e por declarações como essa, em plenos fóruns mundiais, que, no mínimo, despertaram nesses países caretas e expressões de espanto”.
Jorge Kajuru (Cidadania-GO): “Quando se entra em vida humana, eu gostaria de saber, sinceramente, do senhor, como foi o convívio, neste ano todo, com o Presidente Bolsonaro ignorando a pandemia, não a enfrentando com nenhuma capacidade, pelo contrário, com desprezo? O senhor não sente que o senhor colocou a sua digital nisso; que o senhor, na sua vida, amanhã vai ter que contar para os seus netos que, infelizmente, o senhor trabalhou num Governo, por um ano, viu 300 mil mortes, 12 milhões de pessoas infectadas, e o senhor não pôde fazer nada? E tomara que comece, a partir de agora, a fazer! Não lhe desejo mal, de forma alguma, nem a sua demissão. Eu só me demitiria se eu ouvisse as perguntas que eu ouvi, repito”.
Fabiano Contarato (Rede-ES): “Eu me pergunto também se, considerando que o lema desse Governo é ‘Brasil acima de tudo’… Com todo o respeito, o senhor faria bem para a diplomacia brasileira, o senhor faria muito bem para o Itamaraty, que tem um corpo diplomático maravilhoso, que eu quero aqui parabenizar, o senhor faria muito se deixasse esse posto, para que esse Itamaraty volte, efetivamente, a funcionar, porque os meus questionamentos foram pontuais e objetivos, mas as respostas não foram nada satisfatórias, e acredito que as dadas aos meus colegas também não”.
Zenaide Maia (PROS-RN): “O Sr. Ministro se notabilizou, juntamente com o Presidente da República, por subestimar os impactos da pandemia, não deixando só de atuar para obter fornecedores, máscaras, insumos, respiradores e, o principal, vacinas. E fizeram pior: hostilizaram fornecedores em potencial, na medida em que o senhor, endossado pelo filho do nosso Presidente, fez da China um inimigo ideológico, dizendo que era um vírus estratégico para dominar o mundo. Se indispôs com um parceiro essencial para podermos vencer o vírus da covid”.
Tasso Jereissati (PSDB-CE): “Nós não somos, aqui – não sei quantos senadores já falaram –, nós não somos 80 imbecis. Todos sabem da sua hostilidade com o governo chinês, com o embaixador chinês. Não há palavras que desmintam esses fatos que o mundo inteiro viu, o Brasil inteiro viu, nós vimos. E hoje vossa excelência com suas posições no passado, é um dificultador dessa relação. Portanto, aqui faço um apelo com toda a humildade, um apelo a vossa excelência. Renuncie a esse ministério [..] É esse o apelo que eu faço. Ministro, pelos brasileiros, renuncie a esse ministério”.
Jean Paul Prates (PT-RN): “Eu considero que vossa excelência, infelizmente, chegou ao fim. Tem que realmente sair, porque é um elemento, diante de uma pandemia, que atrapalha o processo até pelas próprias atitudes que tomou até hoje e por declarações como essa, em plenos fóruns mundiais, que, no mínimo, despertaram nesses países caretas e expressões de espanto”.
Veja o vídeo:
Eu tô tranquilão
Mesmo diante da série de críticas e pedidos de que deixasse o cargo, o ministro manteve a defesa de sua gestão e criticou governos anteriores: “Eu acho que eu atrapalho visões antiquadas que não foram adequadas para o Brasil. E, nesse momento da pandemia, eu tenho certeza de que pelo contrário, a minha atuação tem gerado tudo aquilo que é necessário para o nosso programa de vacinação especificamente.”
“Então, todos os dias, eu vou para a cama, fecho os olhos e durmo, isso eu garanto aos senhores. Sra. Senadora Mara Gabrilli e todos os senhores, eu fecho os olhos e durmo com a consciência limpa…”, afirmou .
É mais fácil promover o impeachment, mas os senadores e deputados federais preferem ser genocidas, cúmplices do governo.
De que adianta pedir a cabeça de um ministro se aquele sujeito doentio permanecerá ocupando a presidência? É o mesmo que tratar covid-19 com cloroquina. A solução é impeachment !
exatamente! e se o Ernesto sai, entra outro ainda pior. Bolsonaro tem o dom de piorar o que já é inaceitável de horrível