Eles mal entraram na vida adulta, e já ocupam espaço que muitos políticos profissionais nunca alcançaram. Nas primeiras semanas de trabalho, os seis deputados eleitos com menos de 25 anos soltaram a voz na tribuna para marcar posição. Em 2014, só dois se elegeram nessa faixa etária. Na média, os novos deputados têm 49 anos, um a menos do que os 50 registrados quatro anos antes. A idade de cada parlamentar é uma das informações que você pode acessar para conhecer o perfil dos novos congressistas. A nova base de dados reúne várias outras informações, como a votação obtida por cada um deles, o patrimônio declarado à Justiça eleitoral, o grau de escolaridade, a cor autodeclarada, o endereço do gabinete, uma curta biografia e link para matérias deste site em que ele ou ela recebeu alguma menção.
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A nova ferramenta entrou no ar no último dia 14, no mesmo mês em que o Congresso em Foco completa 15 anos de existência. O seu objetivo é, como tudo o mais que fizemos desde então, ampliar o conhecimento dos cidadãos sobre os representantes eleitos e estimulá-los a acompanhar e fiscalizar o trabalho parlamentar.
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Estreia imediata
Aos 22 anos, a deputada Luísa Canziani (PTB-PR), a mais jovem entre os 594 congressistas, aproveitou o primeiro dia de trabalho após a posse para fazer o que o deputado Tiririca (PR-SP), que exerceu seu terceiro mandato, demorou quase sete anos: estrear ao microfone. Desde o dia 5, ela discursou outras duas vezes.
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“Chega de sermos o país do futuro, chegou a hora de sermos o país do presidente, da educação de qualidade, da inovação, da ciência e tecnologia, de ser um país mais justo e igualitário”, discursou ao se apresentar a jovem paranaense, filha do ex-deputado Alex Canziani (PTB-PR), que tentou sem sucesso ano passado uma cadeira no Senado.Por outro lado, o número de deputados mais velhos diminuiu 12% em relação a 2014. Atualmente 102 integrantes da Câmara são maiores de 60 anos, o que corresponde a um quinto da Casa. Assim como a mais jovem, a mais idosa também se chama Luiza (só que com z). Aos 84 anos, a deputada Luiza Erundina (PSB-SP) exibe o mesmo vigor que tinha quando se tornou, em 1988, a primeira mulher a comandar a maior cidade da América do Sul, São Paulo. Na época tinha 54 anos.
Entre os seis mais jovens – eleitos com menos de 25 anos –, três são de famílias de políticos: além de Luísa Canziani, João H. Campos (PSB-PE), filho do ex-governador Eduardo Campos, falecido em desastre aéreo em 2014, e Emanuel Pinheiro Neto (PTB-MT), filho do prefeito de Cuiabá, Emanuel Pinheiro.
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Jovem conservador
Outros dois novatos, no entanto, carregam o feito de ter conquistado o primeiro mandato sem ter qualquer parente na política: Kim Kataguiri (DEM-SP), eleito com 21 anos, e Tabata Amaral (PDT-SP), eleita com 24. Ambos, em seus discursos de apresentação, fizeram questão de ressaltar que vieram de famílias de poucos recursos financeiros.
Conservador assumido e líder do Movimento Brasil Livre (MBL), que ganhou projeção nos protestos pelo impeachment da ex-presidente Dilma, Kataguiri tem dedicado seus primeiros dias de parlamentar a criticar a esquerda. Em seu pronunciamento de estreia, o deputado, que completou 23 anos em 28 de janeiro, disse que o pobre é quem mais se beneficia do liberalismo, uma de suas principais bandeiras políticas.“Sou filho de metalúrgico e dona de casa. Não tenho origem de playboy, como as esquerdas adoram dizer. ‘Ah, só filho de rico ou de bilionário defende o liberalismo!’ Pelo contrário, quem mais se beneficia do liberalismo, quem mais se beneficia da liberdade de mercado, é justamente o mais pobre, aquele que mais precisa.”
Da periferia para Harvard
Tabata Amaral, que completou 25 anos em 14 de novembro, despontou como exemplo de superação. Filha de um cobrador de ônibus e de uma bordadeira e diarista, deixou a periferia de São Paulo para cursar astrofísica e ciência política na Universidade de Harvard, uma das mais prestigiadas do mundo. De volta ao Brasil, ajudou a fundar os movimentos Acredito, que prega renovação nas práticas políticas, e Mapa Educação, voltado para a melhoria da educação.
“Cheguei aqui, porque uma professora, com a Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas, acreditou que eu também poderia estudar; porque alguns professores pagaram o meu almoço, pagaram as minhas roupas; porque algumas pessoas me disseram que eu também poderia fazer faculdade, mesmo os meus pais não terminado o ensino médio”, contou Tabata.
A jovem criada na Vila Missionária, na periferia da capital paulista, também foi selecionada para a Universidade de São Paulo e admitida em outras cinco universidades norte-americanas, com direito a bolsa integral: Yale, Columbia, Princeton, Pensilvânia e Caltech. Preferiu Harvard.
DNA político
Em sua primeira disputa eleitoral, João H. Campos fez jus ao sobrenome. Filho de Eduardo Campos, neto da ex-deputada Ana Arraes, ministra do Tribunal de Contas da União e bisneto do ex-governador Miguel Arraes, elegeu-se deputado aos 24 anos com a maior votação da história de Pernambuco. Foram mais de 460 mil votos.
Em seu pronunciamento de estreia, na última quarta (20), saudou o colega de partido Felipe Rigoni (ES), de 27 anos, o primeiro cego a conquistar um mandato no Congresso. “Fico feliz, Felipe, em ver em seu primeiro pronunciamento sua capacidade de transmitir verdade e sentimento. Fico muito feliz de dividir as trincheiras de luta do PSB, que já conquistaram vários caminhos para o povo brasileiro e de saber que agora o partido conta com um jovem de experiência que tem determinação e comprometimento com o povo brasileiro”, discursou.
Filho de prefeito e neto de ex-deputado federal, Emanuel Pinheiro Neto dedicou sua estreia à própria família. “Agradeço a toda a minha amada família e, por meio deles, agradeço a um homem que tem me ensinado todos os dias, não por palavras, mas por gestos e ações, o valor da disciplina e da resiliência, o meu amado pai, Emanuel Pinheiro, professor, advogado, vereador, deputado, prefeito e um dos Pinheiros que encontrou na política um sentido de sacerdócio para a sua existência”, declarou.
Onda de renovação
Advogado e mestrando em Direito Constitucional, Enrico Misasi só vai completar 25 anos em agosto. O jovem deputado paulista se elegeu defendendo a substituição do sistema presidencialista pelo semipresidencialista e a promoção de reformas estruturantes.“Quero agradecer esta oportunidade, falar da reverência e da honra que sinto em ocupar esta tribuna pela primeira vez e me colocar à disposição para, com qualidade, discussão e bastante diálogo, encontrarmos as soluções de que o Brasil precisa nesses próximos quatro anos. Falar de problemas é muito fácil. Uma criança consegue apontar vários problemas. O que precisamos fazer é nos unirmos para encontrarmos soluções para todos os desafios que se apresentarem à nossa frente”, discursou em 13 de fevereiro.
Esses parlamentares chegaram ao Congresso empurrados por uma forte onda de mudanças. Basta dizer que a renovação no Senado, de 59%, foi a maior ocorrida desde a Constituição de 1988. Na Câmara, o índice de 52,5% é o mais alto desde 1990.
Como mostrou o Congresso em Foco, a eleição para o Parlamento repetiu o fenômeno da disputa presidencial: a direita engoliu o centro e avançou sobre a esquerda. Mais da metade dos deputados e quase 50% dos senadores eleitos são filiados a partidos considerados de direita. Esse grupo cresceu exponencialmente nos últimos oito anos no Congresso: 32% na Câmara e 60% no Senado.
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