O deputado Delegado Waldir (PSL-GO), líder do partido do presidente Jair Bolsonaro na Câmara, avalia que o governo ainda não conseguiu formar uma base aliada no Congresso. Para ele, os líderes de siglas como DEM, PP, PSD, MDB e PSDB, que se juntaram ao PSL para reconduzir Rodrigo Maia (DEM-RJ) à Presidência da Casa, não assumiram até este momento qualquer compromisso de lealdade com o Planalto.
“O único partido que declarou apoio ao presidente é o partido dele, é o PSL. Tem que montar a base. Se ele não montar a base, ninguém vai votar com o governo porque o Bolsonaro tem olhos azuis”, diz Waldir ao Congresso em Foco. O deputado considera que o primeiro recado de “independência” dos líderes da base ocorreu na manhã dessa terça (19), quando foi aprovado requerimento para que o ministro da Defesa, general Fernando Azevedo e Silva, vá ao Congresso explicar a nomeação de um militar brasileiro para o Comando Militar Sul nos Estados Unidos.
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À tarde, porém, surgiu a demonstração mais clara: o PSL ficou isolado ao tentar retirar de pauta um projeto que derruba um decreto governamental de sigilo sobre documentos públicos. Em votação simbólica, ou seja, em que o parlamentar não declara nominalmente seu voto, o governo sofreu sua primeira derrota na Câmara, apenas 50 dias após a posse de Jair Bolsonaro. Esse período corresponde à metade dos 100 dias que os governos costumam ter de “lua de mel” com o Parlamento no início de sua gestão.
Prevendo a derrota, o governo tentou retirar o projeto da pauta. Mas perdeu por 367 votos a 57. Desses 57 votos favoráveis a Bolsonaro, apenas sete foram de partidos de fora do PSL. Todo o restante do plenário confrontou o Executivo. “A base que eles têm é aquilo ali [os 57 que votaram com o governo]”, avalia o deputado Elmar Nascimento (DEM-BA), líder do bloco integrado pelo PSL, que apoiou a eleição de Maia.
Outros líderes partidários ouvidos pelo Congresso em Foco também consideram que o governo ainda não tem uma base de sustentação no Parlamento. A falta de unidade preocupa alguns parlamentares devido a temas como a reforma da Previdência, cujo texto chega nesta quarta (20) à Câmara. Para aprovar a reforma, o governo precisará do apoio de pelo menos 308 deputados, em dois turnos, e de 49 senadores, também em duas rodadas de votação.
O líder do PSD na Câmara, André de Paula (PE), não acha que a derrota do governo seja automaticamente um mau indicativo sobre a reforma porque é um tema de interesse geral. Mesmo assim, ele prevê dificuldades para o governo.
“Você tem 513 deputados, dos quais 150 são da oposição. Então o universo em que o governo trabalha são 363. E a reforma é uma matéria em que às vezes, por conta de uma posição, um deputado que tem compromisso com uma determinada corporação deixa de considerar o conjunto da obra. Deixa de considerar o reflexo na economia, a modernização que trará ao país. E por conta daquilo que para ele é intransponível, você perde 10, 15, 20 votos, e quando se soma pode resultar em um insucesso”, alerta André de Paula.
Parlamentares reclamam da falta de diálogo com o Planalto e de um interlocutor que possa fazer a mediação. Bolsonaro escolheu um consultor legislativo, eleito para o seu primeiro mandato político, como líder do governo na Casa. Considerado inexperiente e inexpressivo, Major Victor Hugo (PSL-GO) não encontra respaldo nem mesmo dentro de seu partido. A forma com que o presidente demitiu Gustavo Bebianno da Secretaria-Geral da Presidência também causou desconforto no Congresso. Ele mantinha boa relação com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e várias lideranças partidárias.
sem uniao, o azar é do Brasil.