Presidente nacional do PSL, Luciano Bivar é defensor do que ele mesmo define como “economia de mercado”. Um dos principais articuladores da candidatura vencedora da corrida presidencial, ele disse a este site que, a depender do que foi acordado antes e durante a corrida presidencial, o empresariado pode comemorar a chegada do capitão reformado do Exército ao comando do Executivo.
Eleito deputado federal por Pernambuco, Bivar diz não acreditar que o estilo do correligionário Jair Bolsonaro – um parlamentar de origem militar sem muita preocupação com o politicamente correto – vá atrapalhar sua governabilidade ou ameaçar a pauta reformista no Congresso. Nesse sentido, antecipa o dirigente, o tal mercado será o principal norte da gestão Bolsonaro.
“Todo o sentimento que há e a partir da união do PSL com o Bolsonaro, era para ter um governo liberal, em que a economia de mercado vai prevalecer. E isso ele tem falado repetidas vezes nas suas entrevistas. Não há nada que seja incompatível com o que ele pensa, com o que ele fez na campanha e com os atos que vão ser praticados”, vislumbra.
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Nesta entrevista ao Congresso em Foco, Bivar deixou sem resposta questões que dominaram o noticiário nos últimos meses. Não quis dizer, por exemplo, por que se afastou da presidência do partido durante a eleição, deixando no ar a ideia de que não é homem de confiança do presidente eleito.
Político experiente, ele também não quis comentar como o governo negociará com parlamentares sem oferecer cargos e verbas em troca de apoio, como promete o presidente eleito. Não disse qual ministério o PSL vai pleitear e nem o que o será oferecido a parlamentares para que eles ingressem no partido a partir dos recálculos eleitorais da cláusula de desempenho.
Guedes x Onyx
PublicidadeSuperada a peleja eleitoral, a cúpula do governo Bolsonaro já começou a viver, dois dias após a apuração das urnas, um entrevero entre os futuros ministros Paulo Guedes (Economia) e Onyx Lorenzoni (Casa Civil). Ontem (terça, 30), Paulo desautorizou Onyx a falar de economia. Para Bivar, apenas um mal-entendido.
“Quem fala sobre economia é o Paulo Guedes. Acho que talvez tenha sido apenas uma informação do Onyx. Não vejo isso como intromissão. Foi um comentário apenas”, declarou o deputado pernambucano. Onyx é contra o aproveitamento da reforma da Previdência do presidente Michel Temer e chegou a aventar a possibilidade de o país trocar de política cambial. Guedes disse que ele era apenas um político falando de economia. “Não dá certo, né?”, afirmou.
“A Previdência é um dos calos do nosso déficit fiscal. É preciso que a gente tenha esse equilíbrio. Falei com o Paulo Guedes e ele está bem empenhado nisso, já conversou com o governo Temer para dar início a isso o quanto antes, ainda na gestão Temer”, resumiu.
Atrito na cúpula
O próprio Bivar já provou o impacto dos rumores sobre mal-estar na cúpula de campanha. A troca de comando com o agora vice-presidente do PSL, Gustavo Bebbiano, depois de encerrado o pleito, é encarada como algo normal, agora que a estratégia de candidatura foi bem-sucedida. O próprio Bebianno nega racha interno e lembra que sua permanência no comando do partido tinha prazo de validade, ao fim do processo eleitoral.
Mas o site BuzzFeed e o jornal O Estado de S. Paulo mostravam, já em agosto, que uma verdadeira queda-de-braço estava em curso nos bastidores do comando da campanha bolsonarista. De um lado, o grupo de Bebbiano, que no início da jornada prestou serviços jurídicos e aproximou Bolsonaro da alta sociedade carioca; de outro, Bivar e os filhos de Bolsonaro.
Segundo o Estadão, naquele mês Bivar já trabalhava para afastar os então dirigentes do partido dos respectivos postos. Membros da campanha atuaram para esfriar os ânimos e pediam que, para evitar desgaste, a medida só fosse posta em campo depois das eleições. Bebianno disse à época que tudo não passava de “fake news”. “Atrito zero”, jurou.
“Cabe a Bebianno os méritos pela eleição de Bolsonaro”, devolveu Bivar em entrevista à Rádio Jornal, de Pernambuco nesta semana.
Ontem (terça, 30), Bivar foi a público negar rumores de desentendimento agora com o próprio presidente eleito. “Bolsonaro me respeita, mas não sou amigo dele. São duas coisas diferentes. A gente tem um relacionamento de formalidade, mas minha relação com ele não está estremecida e em nenhum momento esteve. Pelo contrário, há um alinhamento de ideias muito forte”, garantiu o deputado eleito, que hoje (quarta, 31) se submeterá a uma cirurgia leve que imporá resguardo de cinco dias.
Ameaça às liberdades
Bivar comentou também o teor da entrevista que Bolsonaro concedeu ao Jornal Nacional (TV Globo), quando fez fortes críticas à Folha de S.Paulo. Às vésperas do segundo turno, o jornal publicou reportagem sobre uma indústria de mensagens via WhatsApp disparadas em massa contra o PT e bancada por empresários apoiadores de Bolsonaro (“O jornal se acabou por si só”, disse).
“O que Bolsonaro falou é que o jornal Folha de S.Paulo fez algumas matérias extremamente infelizes. Ele apenas disse que, no que depender do governo federal, a Folha de S.Paulo não teria a simpatia porque não está transmitindo as notícias verdadeiras. Ele faz esses comentários não só como presidente, mas também como um brasileiro qualquer”, contemporizou.
“Mas isso não atrapalha em nada o relacionamento, e nem a abertura e nem a independência completa, total da imprensa brasileira”, acrescentou Bivar.
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O dirigente minimiza também os rumores constantes sobre a ameaça de retorno à ditadura – ou mesmo de autogolpe, nas palavras do próprio vice eleito, general Hamilton Mourão (PRTB) – com a ascensão de Bolsonaro ao Planalto. Para o presidente do PSL, questões como o elogio de Bolsonaro ao torturador Carlos Alberto Brilhante Ustra, morto em outubro de 2015, não passam de retórica.
“O PSL é totalmente contrário a qualquer arbitrariedade. E nem é pensamento do nosso presidente tomar qualquer medida arbitrária. Tudo será repousado em cima da lei, é assim que ele [Bolsonaro] vai se alinhar. Não tenha dúvida disso”, arrematou.
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