A interferência do presidente Jair Bolsonaro na nomeação do novo superintendente da Polícia Federal no Rio de Janeiro abriu uma crise entre o presidente e a cúpula da instituição, comandada pelo ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro. O diretor-geral da PF, Maurício Valeixo, e delegados ameaçaram entregar seus cargos em forma de protesto ao anúncio feito pelo presidente de que substituiria o superintendente do órgão no Rio de Janeiro, Ricardo Saadi, por Alexandre Silva Saraiva, que hoje comanda a superintendência no Amazonas.
Valeixo se incomodou com duas declarações dadas pelo presidente entre quinta e sexta-feira. Bolsonaro atribuiu a saída de Saadi a problemas de “gestão” e “produtividade” – o que a instituição nega enfaticamente em nota – e ignorou a decisão do diretor-geral de nomear o atual superintendente em Pernambuco, Carlos Henrique Oliveira Sousa, para o cargo no Rio de Janeiro. Essa foi a primeira vez que um presidente da República anunciou a troca de um superintendente da Polícia Federal.
Pela manhã, Bolsonaro disse a jornalistas que dá liberdade aos seus ministros, mas que quem manda é ele. Segundo o presidente, Saadi seria substituído por Saraiva e não por Carlos Henrique, conforme anunciado anteriormente.
“O que eu fiquei sabendo, se ele [Valeixo] resolveu mudar, vai ter que falar comigo. Quem manda sou eu. Deixar bem claro. Eu dou liberdade para os ministros todos, mas quem manda sou eu. Pelo que está pré-acertado, seria o lá de Manaus [Saraiva]”, afirmou. “Pergunta para o Moro. Já estava há três, quatro meses para sair o cara de lá. Está há três, quatro meses. O que acontece, quando vão nomear alguém, falam comigo. Ué? Eu tenho poder de veto. Ou vou ser um presidente banana agora?”, emendou.
De acordo com a Polícia Federal, Saadi pediu para deixar o cargo por questões particulares e não por “problemas de gestão” e “produtividade”, como alardeado pelo presidente. A tensão provocado por Bolsonaro aumentou a pressão da cúpula da instituição sobre o ministro Sergio Moro, também desautorizado pelo chefe do Executivo.
Após a reação dos policiais, Bolsonaro amenizou o tom das declarações na tarde dessa sexta. “Tanto faz para mim. Eu sugeri o de Manaus, e se vier o de Pernambuco não tem problema, não”, afirmou. Saraiva, o preferido do presidente, é amigo de sua família e chegou a ser cogitado para comandar o Ministério do Meio Ambiente.
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Bolsonaro anda contrariado com a atuação da PF no Rio. Entre as investigações mais importantes em curso no estado estão a que apura a relação de milícias com políticos estaduais e a que envolve a chamada “rachadinha”, prática que consiste na devolução de parte de salário de parlamentares a assessores.
O caso do senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), filho do presidente e ex-deputado estadual, não está com a PF, mas com o Ministério Público Estadual. O presidente entende que Saadi pouco fez para evitar o que chama de excessos nas investigações.
Nos últimos dois meses Bolsonaro interferiu em outros dois órgãos que também municiaram investigações contra Flávio Bolsonaro. Ele determinou a substituição do superintendente da Receita Federal, o que também provocou uma ameaça de rebelião, e a transferência do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), do Ministério da Justiça para o Banco Central. O presidente alega que seu filho primogênito teve as contas devassadas de maneira ilegal com o objetivo de tentar atingir a sua imagem.
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