O suco de laranja pode ser incluído na merenda escolar e se tornar bebida oficial em festas e recepções promovidas pelo governo brasileiro. A idéia é de um profundo conhecedor da fruta: o deputado Nelson Marquezelli (PTB-SP). O petebista sabe como poucos sobre o que está legislando. Afinal, das quatro propriedades rurais do deputado, no interior de São Paulo, saem 200 mil caixas de laranja por ano. Toda a produção é vendida para a empresa Citrosuco Paulista S/A, uma das gigantes do mercado.

A intenção, segundo ele, é estimular a produção da fruta no território nacional. Ex-presidente da Associação Brasileira de Citricultores (Associtrus), Marquezelli admite que advoga em favor dos interesses dos produtores rurais no Congresso, mas nega que esteja legislando em causa própria. “Não, porque sou um deputado ligado a 25 mil produtores de laranja, e eu estou legislando na causa própria para o Brasil. Estou defendendo os produtos brasileiros”, diz.

Apesar da ajuda que pretende dar ao setor do qual faz parte, o deputado garante que não será beneficiado com as eventuais mudanças introduzidas por suas proposições. “Eu faço joint venture (associação de empresas para explorar determinado negócio, sem que nenhuma delas perca sua personalidade jurídica) com eles e nós exportamos suco para a Europa”, afirma. A informação é confirmada pelo departamento de marketing da Citrosuco.

Em seu quinto mandato, o petebista é especialista na defesa de incentivos fiscais e subsídios para o setor agrícola. Dos 33 projetos de lei apresentados por ele desde sua primeira legislatura, pelo menos 12 atendem a interesses dos ruralistas.

Com o Projeto de Lei 799/03, que há dois anos está na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania, o deputado quer obrigar o governo a servir suco de laranja em festas e solenidades oficiais. A produção da fruta, segundo ele, também poderia ser estimulada com o Projeto de Lei 2025/03, que torna obrigatória a inclusão da bebida na merenda escolar.

De olho nas peculiaridades regionais e na resistência dos demais setores, Marquezelli admite incluir, em suas propostas, outras bebidas no cardápio. “Nós podemos fazer em outras regiões com o guaraná, o caju e o cacau. Na própria merenda escolar, poderia ter um produto típico de cada região”, sugere.

Para justificar sua iniciativa, o deputado recorre ao apelo nutritivo e econômico da fruta. “Nós somos os maiores produtores e os maiores exportadores de laranja. É uma oportunidade que vai gerar mais de 1 milhão de empregos no país. A laranja possui vitamina C, o que é muito bom para a saúde, e o preço dela é inferior à metade do preço de um refrigerante”, afirma.

Os argumentos, segundo ele, já caíram no gosto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “Eu até já conversei com o presidente Lula e ele realmente conhece as particularidades da fruta no Brasil. Creio que o governo tem interesse em aprovar propostas desse tipo”, diz.